"Getting divorced with a kid is one of the hardest things to do. It's like a death without a body."
Bert Spitz
*7.5/10*
Marriage Story, de Noah Baumbach, respira teatro por todos os poros. A história de um divórcio, vagamente inspirada na separação do realizador e Jennifer Jason Leigh, é um trabalho pessoal, repleto das marcas a que Baumbach já nos habituou na sua filmografia. A temática pesada é apresentada com leveza, proporcionada pelo humor, contrabalançada por diálogos intensos e emotivos.
Comparações com Kramer contra Kramer são pertinentes, mas Marriage Story tem muito mais amor envolvido. O amor não acabou, mas a emancipação da mulher surge como o maior bloqueio à continuidade da relação.
O filme de Baumbach é um olhar sobre o fim de um casamento e a união de uma família. Seguimos o processo de divórcio de Charlie (Adam Driver), um encenador de teatro bem sucedido de Nova Iorque, e Nicole (Scarlett Johansson), uma actriz que sonha regressar à cidade natal, Los Angeles. Os dois têm um filho em comum, Henry (Azhy Robertson), de oito anos.
Um divórcio que se queria pacífico e sem advogados, de repente, torna-se uma batalha legal e um chorrilho de ofensas, que nenhum dos dois envolvidos pretende. Este aparentemente inevitável conflito cria situações pouco realistas, tendo em conta a vontade dos protagonistas, e leva-nos a distanciar do drama a que assistimos. As personagens contradizem acções e sentimentos, há momentos demasiado exagerados - onde o humor quer ser desculpa para aliviar a gravidade da situação - e outros em que somos totalmente envolvidos pelos diálogos entre o casal. Marriage Story proporciona-nos sentimentos contraditórios.
Há uma clara simpatia pela personagem de Adam Driver, o eterno apaixonado que sofre e se desdobra entre duas cidades para estar perto do filho. Do lado de Nicole, sentimo-nos menos ligados, menos compreensivos. Talvez por ser um homem a realizar ou por ser inspirado no seu próprio divórcio... Ainda assim, é inevitável destacar a discussão entre Charlie e Nicole, intensa e carregada de emoções, onde Driver e Johansson dão tudo de si. Uma cena que ficará, sem dúvida, na História do cinema.
Apesar de tudo, Adam Driver é, sem dúvida, o destaque da longa-metragem. Expressa as emoções como poucos, consegue transmitir tudo com um simples olhar: sofrimento, esperança, desilusão... Dá gosto vê-lo representar - e cantar!
O argumento transborda dramaturgia, é filmado como se estivéssemos a ver os actores moverem-se num palco... Tudo aqui é teatro! Fica a sensação que Marriage Story resultaria estrondosamente bem numa adaptação teatral, mais do que cinematográfica.
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