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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

IndieLisboa'20: Um Animal Amarelo (2020), de Felipe Bragança

*7/10*


Um Animal Amarelo marca o regresso de Felipe Bragança ao IndieLisboa (depois de Tragam-me a Cabeça de Carmen M., co-realizado com Catarina Wallenstein), numa longa-metragem corajosa que aborda e satiriza aspectos ligados ao colonialismo e à escravatura, interligando personagens entre o Brasil, Moçambique e Portugal.

"Brasil, 2017. Fernando, um falido cineasta brasileiro, cresceu assombrado pelas memórias violentas de seu avô e assombrado pelo espírito de um homem moçambicano que lhe prometia riquezas e glória. Acossado pelo actual estado político e cultural de seu país, o cineasta mergulha em uma jornada de desventuras e inesperados milagres, em busca de fantasmas do passado. Uma triste e melancólica fábula tropical."

Os fantasmas do colonialismo pairam ao longo de toda a longa-metragem encarnados num osso fémur, passado de geração em geração, e por um Animal Amarelo, criatura sobrenatural que acompanha a família de Fernando há muitas décadas, e dá título ao filme de Felipe Bragança.


Entre a crítica sociopolítica brasileira, Um Animal Amarelo percorre séculos de escravatura, de abusos de parte a parte - dos portugueses sobre as colónias africanas e Brasil, dos brasileiros sobre os escravos africanos, etc. -, e introduz, para além da temática do racismo e da pobreza, a homossexualidade, a corrida aos diamantes, sempre com o assombro do passado ao lado de Fernando.

Felipe Bragança criou um filme a transbordar de ideias, com momentos hilariantes e de humor mordaz e até feroz. Peca por querer tocar em tantos pontos, perdendo por diversas vezes o foco e ser até difícil de acompanhar.

Do meta-cinema, aos moçambicanos que produzem pedras preciosas de forma inusual, à mulher que quis colocar um diamante no lugar do coração, até aos sonhos de riqueza que passaram de avô para neto, Um Animal Amarelo é uma experiência tão profunda quanto alucinogénica.

Destaque para o excelente trabalho da direcção de fotografia, de Glauco Firpo, e para o trabalho dos actores, em especial Isabél Zuaa, Catarina Wallenstein, Herson Capri e o protagonista Higor Campagnaro.


As memórias dos nossos antepassados - seja de brasileiros, portugueses ou moçambicanos - perdurarão muito além da vida, tomando a forma deste Animal Amarelo que persegue e acompanha o protagonista e sem que ele compreenda o verdadeiro peso que carrega ou aprenda como pode mudar o futuro. Felipe Bragança, por sua vez, tenta que essa reflexão surja na plateia através do humor e do inesperado.

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