quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Crítica: Donzela Guerreira (2019)

*7/10*

Donzela Guerreira, de Marta Pessoa, leva-nos numa viagem no tempo, por arquivos da cidade de Lisboa, guiados por uma mulher cheia de histórias para contar.

O filme "ficciona o Portugal de meados do século XX. A partir da figura de Emília, uma escritora, em Lisboa, no ano de 1959, o filme convoca vultos, lugares, situações, receios e ironias numa aproximação aos universos literários de Maria Judite de Carvalho e Irene Lisboa, escritoras da cidade e das personagens que nela habitam. Guiados pela voz e olhar de Emília, entramos num jogo entre as imagens de arquivo da cidade e a efabulação pura. É uma Lisboa de ruas, jardins e casas onde habitam mulheres que olham para si próprias e umas para as outras, que ocupam os lugares que lhes destinam e o silêncio a que as votam."

Entre a ficção e as imagens reais, a longa-metragem de Marta Pessoa envolve a plateia em redor de uma protagonista forte e batalhadora, segura de si. Emilia é uma mulher solteira, que muito preza a sua independência e liberdade, emancipada, é uma feminista do seu tempo, mesmo sem o saber. Uma mulher de ideias férteis, exímia contadora de histórias. A actriz Anabela Brígida é a imagem sóbria e recatada e a voz decidida e melodiosa de Emília - a nossa guerreira.

As imagens de arquivo (muitas delas de arquivos familiares) têm uma importância fulcral para redescobrir a cidade que Lisboa já foi. Entre jardins, estátuas, obras públicas, ou locais tão conhecidos como o Terreiro do Paço, encontramos referências - muitos bilhetes de espectáculos - aos já desaparecidos Teatro Apolo ou Cinema Lys.


Marta Pessoa transporta-nos para outra época, deixando-nos levar pela perfeita sincronia entre imagens e palavras, referências literárias e artísticas. De elogiar ainda a direcção de fotografia - com espelhos e sombras a assumir um papel importante - e a direcção artística com uma recriação cuidada e pormenores fascinantes.

Donzela Guerreira é um elogio a Lisboa e às mulheres independentes que nela habitaram (e habitam), reais ou ficcionais. E ainda uma homenagem às escritoras Maria Judite de Carvalho e Irene Lisboa pelas histórias e personagens que deixaram à literatura.

Sem comentários: