Passamos às nomeadas para o Oscar de Melhor Actriz. 2020 foi um ano de grandes desempenhos femininos. Das cinco nomeadas, temos duas verdadeiramente arrebatadoras nos seus papéis, duas veteranas que nunca fazem mau trabalho e um papel tão físico como psicologicamente exaustivo. Ficaram de fora nomes como Zendaya (em Malcolm and Marie - assumidamente, uma das minhas favoritas) ou Rosamund Pike (I Care a Lot).
Eis a minha lista das nomeadas, por ordem de preferência.
1. Carey Mulligan (Uma Miúda com Potencial / Promising Young Woman)
Carey Mulligan revela-se surpreendente na pele desta personagem vingativa e corajosa. A aparente fragilidade e delicadeza da actriz, bem como a forma como é capaz de se transformar enquanto Cassie, fazem dela a mais acertada escolha para o papel. Ela consome-se, definha psicologicamente e revela traços de sociopatia; ao mesmo tempo que renasce sensual e decidida, comandada por um insaciável desejo de vingança.
2. Andra Day (Estados Unidos vs. Billie Holiday / The United States v. Billie Holiday)
Andra Day não é a primeira actriz a interpretar Billie Holiday, mas faz um trabalho fabuloso. Treinou a voz para conseguir o tom grave e rouco da cantora, começou a fumar e a beber, perdeu peso, entregou-se a uma interpretação tão física como psicológica, sem problemas com cenas de nudez, violência ou de consumo de heroína, e é capaz de dotar a personagem de um carisma imenso em palco e de uma incapacidade de amor próprio nos momentos de maior fragilidade. Andra é frágil e forte, dominada mas decidida, apaixonada, magoada, corajosa mas influenciável. A cantora e actriz percorre uma série de estados de alma, mas o olhar vazio e desalentado é capaz de nos arrebatar.
3. Vanessa Kirby (Pieces of a Woman)
Vanessa Kirby é realmente extraordinária como Martha. A actriz transfigura-se de forma especialmente realista durante o parto, entre dores, fraqueza e desespero, bem como nos meses seguintes, deprimida, magoada, desamparada, capaz contudo de fazer valer a sua palavra e a sua vontade. No meio de tanto sofrimento, a vida de Martha ressurge quando as sementes de maçã começam a germinar.
4. Frances McDormand (Nomadland - Sobreviver na América)
Sempre a reinventar-se, Frances McDormand tem um desempenho sóbrio e realista, na pele desta mulher nómada por natureza, independente e corajosa, que viaja pelo país à medida que as estações do ano passam e para onde o trabalho surja. Incapaz de criar raízes, estabelece laços com quem quer que se cruze, mas segue caminho, deixando em aberto potenciais - e quase certos - reencontros. Fern só se sente livre e feliz dentro da sua carrinha; ela não quer amarras, luta contra os sentimentos e, muitas vezes, foge como uma adolescente.
5. Viola Davis (Ma Rainey: A Mãe do Blues / Ma Rainey’s Black Bottom)
Viola Davis capta na perfeição movimentos, postura e modo de falar da artista, de presença forte e personalidade difícil, fazendo-se valer do seu talento para reivindicar os seus direitos. No entanto, mesmo que Ma Rainey: A Mãe dos Blues sugira que Davis é a grande estrela do filme, certo é que é Chadwick Boseman quem mais brilha e se destaca. Viola Davis torna-se secundária na acção, que roda muito mais em torno do actor.
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