Sombra continua nos cinemas e, depois do realizador Bruno Gascon, foi a protagonista, a actriz Ana Moreira, que respondeu a algumas perguntas do Hoje Vi(vi) um Filme sobre o desafio de interpretar Isabel e dar voz a tantas mães que continuam a procurar os filhos desaparecidos.
Como surgiu a oportunidade de protagonizar Sombra? Como encaraste o desafio?
Ana Moreira: O convite partiu directamente do realizador Bruno Gascon e da produtora Joana Domingues, onde num primeiro encontro ambos me apresentaram o projecto e a possibilidade de fazer a personagem principal. Compreendi imediatamente que iria ser um grande desafio a nível de trabalho, que era um projecto que o realizador e a produtora estavam muito motivados em concretizar e que reuniam todas as condições para o fazer. Foi uma grande viagem que resultou muito bem.
Como te preparaste para um papel tão exigente emocionalmente?
Ana Moreira: A preparação teve várias fases, desde os encontros iniciais com o realizador onde discutimos e partilhamos ideias sobre o projecto, sobre a história do filme e sobre a minha personagem, desde a leitura do argumento e ensaios com todo o elenco, às provas de figurinos que foram muito importantes para a construção da personagem, aos testes de maquilhagem e sobretudo de caracterização que marca a passagem do tempo no filme, que faz um arco de cerca de 15 anos. Mas um dos aspectos mais importantes para mim, foi a oportunidade de falar com algumas mães de crianças desaparecidas e ficar a conhecer de uma forma mais íntima e profunda as suas histórias.
Em Sombra, a tua personagem dá voz a tantas mães que nunca encontraram os filhos. Inspiraste-te em alguma destas mulheres em especial, sendo que a mãe de Rui Pedro, Filomena, será sempre a mais mediática?
Ana Moreira: Tanto eu como o Bruno construímos esta personagem com alguma liberdade, pois, apesar de o filme ser baseado em factos verídicos, não deixa de se tratar de uma obra de ficção. No entanto, existe uma clara influência das histórias reais destas mulheres que se reflete tanto no filme como na minha personagem, a Isabel. Nesse sentido a Filomena Teixeira é talvez a inspiração maior do filme e para mim foi muito importante e especial conhecê-la e voltar a ouvir a sua história de uma forma mais pormenorizada para a preparação de personagem.
Como olharia a Ana Moreira de Os Mutantes, a Andreia, a adolescente perdida na vida, sem pais que se preocupassem, para a Ana Moreira de Sombra, Isabel, uma mãe a quem o filho foi roubado? São duas personagens marcantes na tua carreira, e em épocas distintas da tua vida, ambas extremamente exigentes... O que diriam uma à outra?
Ana Moreira: Creio que são ambos filmes que tocam em temas sociais pertinentes. Os Mutantes fala de um conjunto de crianças adolescentes sem lugar, abandonadas por uma sociedade que não as quer ver, entregues a instituições que não funcionam bem e o Sombra fala da luta de uma mãe em busca de um filho desaparecido que enfrenta todo um sistema judicial que na altura também falhou. Dessa forma, ambos os filmes falam da negligência e da falta de apoio por parte do Estado e da sociedade às crianças e mães deste país. Nesse sentido, o cinema pode também ter a função de nos dar a conhecer realidades que embora não façam parte da vida quotidiana do espectador, são importantes e merecem um lugar de visibilidade, debate e reflexão.
O que esperas da receptividade do público português ao filme?
Ana Moreira: A receptividade tem sido muito positiva, este é um filme que reúne todos os ingredientes para ser bem recebido tanto pelo público como pela crítica especializada.
Que projectos se seguem?
Ana Moreira: Neste momento encontro-me em ensaios para o novo espetáculo do coletivo Silly Season, uma peça com o título Hotel Royal. Vamos estrear no final do mês de Novembro no Teatro Baltazar Dias, no Funchal, e logo em Dezembro vamos estar em Lisboa na Escola de Mulheres, na Estefânia, para depois seguirmos com mais datas noutros teatros pelo país fora.
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