quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Festival Política 2022: 'Food Court', 'O Berloque Vermelho' e 'O Ofício da Ilusão'

Depois de passar por Braga e Lisboa, o Festival Política 2022 terminou em Setembro, em Loulé. Escrevemos sobre três curtas-metragens que passaram no evento, e deixamos link para as críticas a outros filmes que vimos noutras ocasiões e também foram exibidos no Festival Política.

Food Court, de Marcus Silva

Sinopse:

"Um homem come mais do que o necessário para chegar ao limite do consumo."

Entre o prazeroso e o repugnante, Food Court é muito eficaz em despertar as sensações mais ambivalentes e inesperadas na plateia. Se, por um lado, há um lado quase nonsense que acompanha a curta-metragem na crítica ao consumo exacerbado, por outro, é genial como a montagem cheia de ritmo e a banda sonora, convidam a continuar a descobrir o surpreendente desfecho de Food Court. Desafio superado, seja pelo protagonista, como pelo realizador.


O Berloque Vermelho, de André Murraças

Sinopse:

"Um homem recebe de um amigo um berloque em forma de coração para pôr ao pescoço. Quando a jóia desaparece, o homem entra em pânico e não consegue lidar com os sentimentos que o gesto e a perda do berloque lhe suscitam. Num acto louco e sangrento fará o impensável. O Berloque Vermelho é um conto escrito em 1875 por António José da Silva Pinto e é tido como uma das primeiras representações homossexuais na literatura portuguesa. O género do conto de terror foi na altura a única forma de apresentar um amor visto como um crime, de uma forma alienada e com um final trágico."

André Murraças encontrou uma forma original de apresentar um conto do século XIX, numa animação a preto e branco, onde as personagens são figuras de cartão e a história surge escrita no ecrã, qual filme mudo. As temáticas do amor homossexual, em tempos proibido, e da morte criam o ambiente certo para uma curta-metragem de suspense, e o famoso berloque vermelho assume um duplo papel, muito mais simbólico do que aparenta. 


O Ofício da Ilusão, de Cláudia Varejão

"A arte da ilusão é esculpida com imagens de um arquivo familiar dos anos 70 e 80 e clips de som de filmes. Madame Bovary é a heroína de Flaubert e abre os anfitriões deste exercício narrativo. Com base no diálogo de Ema Paiva com o seu amigo e confidente Pedro Lumiares no filme Vale Abraão, de Manoel de Oliveira, entendemos a identidade de género como uma caracterização fechada dos valores sociais."

O Ofício da Ilusão surge no âmbito do projecto Campanhã é a Minha Casa, mas explora essencialmente as convenções sociais em redor da figura feminina, questionadas, desde logo, pela icónica conversa entre Ema e Lumiares. Cláudia Varejão desconstrói esse papel tradicionalista e conservador da Mulher - e das tarefas habitualmente associadas a ela -, revelando, através de imagens e do texto de Vale Abraão, como nada é imutável, como se está em constante superação e, principalmente, emancipação.




Mais informação em https://festivalpolitica.pt/.

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