*8/10*
Rabo de Peixe, segunda série portuguesa da Netflix, inspira-se em acontecimentos reais para criar uma frenética e inacreditável história de crime e aventuras. Momentâneo sucesso mundial - tendo chegado ao top 10 da Netflix em mais de 30 países -, provavelmente perderá algum fôlego entre os mais vistos nos próximos dias, mas o impacto que causou, especialmente em Portugal, já ninguém lhe tira.
Tudo começa quando um barco cheio de cocaína se afunda na costa de São Miguel, ao largo da freguesia de Rabo de Peixe. O jovem pescador Eduardo (José Condessa) vê aí uma oportunidade para ganhar dinheiro, que se revela ter tanto de emocionante como de arriscado.
Criado pelo açoriano Augusto Fraga, que escreveu o argumento em conjunto com Hugo Gonçalves e João Tordo, Rabo de Peixe não fica atrás de outras séries internacionais sobre a máfia ou o tráfico de droga. A série portuguesa tem um ritmo frenético - tal como o efeito da cocaína nas personagens - e está repleta de analepses, com pausas na acção para mostrar como tudo aconteceu até ali. Humor e tragédia convivem com a esperança de uma vida melhor, que choca de frente com a violência dos que também acham que a droga lhes pertence.
A pobreza que se vive na freguesia, as escassas hipóteses de singrar na ilha, a homossexualidade num local tão fechado em si, o sonho americano sempre a pairar - em especial sobre Eduardo - são alguns dos temas que mais se destacam, paralelamente à acção principal.
Os protagonistas têm personalidades bem definidas e um contexto familiar/social que se vai construindo ao longo dos sete episódios desta temporada. O elenco jovem mostra talento: o carismático José Condessa como Eduardo, Helena Caldeira na pele da rebelde Sílvia, Rodrigo Tomás como Rafael - responsável por muitos dos momentos de humor da série - e André Leitão como o sonhador Carlitos. Pouco haverá a dizer sobre o extraordinário Albano Jerónimo, o antagonista Arruda, um homem perverso e cruel, e todavia, protagonista de momentos hilariantes. Ainda a destacar, o narrador Pêpê Rapazote, Uncle Joe, uma grande surpresa no decorrer da série.
A direcção de fotografia de André Szankowski filma Rabo de Peixe de um ponto de vista inebriante, destacando as paisagens naturais, mas igualmente as cores vivas das casas pelas ruas da freguesia. A direcção artística aproveita da melhor forma o tempo da acção, quando ainda havia clubes de vídeo, os telemóveis eram raros, os escudos e euros conviviam nas carteiras, as adolescentes espelhavam a moda da época (Sílvia tem sempre uma gargantilha que era peça fundamental também no meu visual de 2001).
Entre situações mais ou menos inverosímeis - ou exageradas - e aproveitando muitos dos mitos que se criaram em redor do caso real da cocaína na ilha, Rabo de Peixe apresenta bons valores de produção, um elenco competente e um enredo viciante que faz os sete episódios passarem num instante.
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