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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MOTELx'14: Entrevistas - Eva Mendes, Joana de Rosa e Sara Augusto

MOTELx já começou e para o Prémio MOTELx – Melhor Curta de Terror Portuguesa 2014, o único galardão do festival, estão a concorrer 13 curtas-metragens nacionais: Bodas de Papel (2014), de Francisco AntunezContactos 2.0 (2014), de Bernardo Gomes de Almeida Rodrigo Duvens PintoDemência (2014), de Rafael AlmeidaDentes e Garras (2013), de Francisco LacerdaEpoh (2013), de Pedro PintoForbidden Room (2013), de Emanuel Nevado e Ricardo AlmeidaGata Má (2013), de Eva MendesJoana de Rosa e Sara AugustoMaria (2014), de Joana ViegasA Morte é o Único Perdão (2014), de Rui PilãoOffline (2014), de Pedro RodriguesPela Boca Morre o Peixe (2014), de João P. NunesSchadenfreude – De Morrer a Rir (2014), de Leonardo Dias, e Se o Dia Chegar (2014), de Pedro Santasmarinas.


Desta vez, entrevistei Eva Mendes, Joana de Rosa e Sara Augusto, a propósito da sua curta-metragem, Gata Má.

De onde surgiu a ideia para Gata Má?
Eva Mendes, Joana de Rosa e Sara Augusto: A ideia surgiu a partir de um episódio televisivo sobre esquizofrenia infantil, que nos despertou curiosidade. Já tínhamos trabalhado juntas anteriormente e na altura estávamos à procura de um desafio na área da animação. Este tema, por ser invulgar e ter uma forte carga emocional, pareceu-nos interessante de explorar, tanto na componente plástica como psicológica.

O que é que a vossa curta-metragem traz de diferente ao cinema de terror? É uma forma de mostrar que a animação também consegue ser perturbadora?
E.M., J.R. e S.A.: Esta animação não foi pensada para se inserir num género específico embora se enquadre bem no cinema de terror. Pensamos que o impacto da curta se deve tanto ao facto de ser baseada num tema real como à forma como decidimos tratá-lo. Por a curta ser narrada através da perspetiva da criança, leva o espectador a refletir sobre o tema de uma forma diferente do habitual. Sendo um filme de animação, que tradicionalmente se associa mais ao universo infantil, neste contexto pode ser mais perturbador do que o cinema real. No entanto decidimos recorrer a este meio porque, devido ao nosso percurso artístico, preferimos a sua linguagem mais expressiva e plástica que nos permite uma maior liberdade criativa.


Recentemente Gata Má passou pelo IndieLisboa. Como é ver o vosso trabalho seleccionado agora para a corrida ao prémio para Melhor Curta de Terror Portuguesa do MOTELx?
E.M., J.R. e S.A.: Tem sido uma surpresa muito boa! Como a Gata Má é o nosso primeiro filme de animação, feito sem quaisquer apoios financeiros nem meios profissionais, não sabíamos muito bem o que esperar. O facto de ter sido selecionada para vários festivais nacionais e internacionais, e agora para um festival tão prestigiado como é o MOTELx, é muito gratificante e encorajador para futuros projetos. Não podemos deixar de agradecer à Sara Barbosa da companhia Cão Danado por acreditar no projeto e pela sua importante contribuição na narração.

Quais as vossas principais influências cinematográficas?
E.M., J.R. e S.A.: Devido à nossa formação na área das Artes Plásticas, as nossas influências vêm mais dessa área do que do cinema. No entanto todas temos uma certa preferência por histórias com um lado mais negro. E naturalmente, sendo três realizadoras a dar o seu contributo, foram três fontes de influência diferentes que contribuíram para enriquecer o projeto. Se tivéssemos que nomear uma influência seria a de Tim Burton pelo seu trabalho sombrio e ricamente plástico.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

IndieLisboa'14: Novíssimos

No rescaldo do IndieLisboa'14, guardei ainda algumas publicações do Hoje Vi(vi) um Filme para analisar as competições de curtas-metragens, falando um pouco dos filmes que tive oportunidade de ver. Começamos pela secção Novíssimos. Dos 12 filmes em competição (onde se incluía a longa-metragem O Primeiro Verão, a que não tive oportunidade de assistir) vi sete e falarei sobre eles de seguida.

Gata Má - 8/10

Em Gata Má, de Sara Augusto, Eva Mendes e Joana de Rosa, temos como protagonista uma menina cujos melhores amigos são gatos. A mãe diz que ela é especial. Já os gatos, isso só a criança sabe, mas às vezes são maus. As três realizadoras trouxeram-nos uma animação eficaz, curta, mas arrepiante.

A animação, predominantemente em tons de preto e vermelho, caracteriza-se pelo seu traço sóbrio, e pelo ambiente que deixa a plateia pouco à vontade. A narração, de voz frágil, destaca-se pelo tom inocente e, paradoxalmente, aterrador. Um excelente e original trabalho das realizadoras.

Alda - 8/10

Alda fala da transformação do mundo rural e das consequências para quem sempre ali viveu e já só se identifica com o interior da própria casa. Filipe Fonseca, Ana Cardoso, Liliana Sobreiro e Luís Cataló oferecem-nos uma animação simples mas agradável, com um traço delicado que mostra a beleza do campo.

Alda é um triste e belo retrato de resistência à mudança, de amor ao que mais preservamos como nosso. Sem falas, a música ambiente embala-nos numa história pouco feliz, mas cheia de sentimento e significado.

Meio Corte - 7/10 

A partir do plano de um comboio a passar, repetido diversas vezes, variando apenas o seu contexto e som, Nikolai Nekh oferece-nos Meio Corte. A curta-metragem parte do seguinte mote: "Para reivindicar os seus direitos laborais, os trabalhadores dos transportes públicos decidiram retirar o som aos comboios em circulação”. Irónico e original, Meio Corte introduz desenvolvimentos a esta reivindicação a cada passagem do comboio, onde contexto e som mudam a perspectiva do espectador.

A curta-metragem revela-se um desafio interessante para a plateia, a partir de uma ideia surpreendente e de um bom trabalho de som. No meio de tantas greves de transportes, aqui está uma forma diferente de manifestar descontentamento. Por que não?

Irmãs - 7/10

Irmãs é uma ficção construída a partir de imagens de proveniências diversas que acompanham um texto que conta como uma mãe, obcecada com a beleza delicada dos filhos, decide criá-los como raparigas e como eles crescem resignados com o facto, ao mesmo tempo que inventam uma vida fora desses corpos. Pedro Lucas trouxe-nos um argumento arriscado mas muito bem construído e desenvolvido, com a história a ser narrada por um dos rapazes.

Ao óptimo texto - com uma boa conclusão -, juntam-se as imagens de arquivo que desfilam perante nós enquanto a arrepiante história nos é contada. Sentimos o medo dos dois irmãos, o medo do mundo que os espera. "Todo o corpo é uma prisão", ouvimos a certa altura e Irmãs é um bom exemplo disso.

Em Cada Lar Perfeito um Coração Desfeito - 6.5/10

Em Cada Lar Perfeito um Coração Desfeito recorre às sete fases do amor enunciadas por Stendhal para, em sete segmentos, falar do desamor ou da realidade da desilusão. Joana Linda traz-nos um trabalho poético, enquanto percorre Admiração, Desejo, Esperança, Sedução, Desilusão, Aceitação e Fim.

Em Cada Lar Perfeito um Coração Desfeito assume um carácter algo experimental, usando manequins enquanto ouvimos ler uma troca de cartas de amor, contando-nos a história da Princesa e o Sapo, oferecendo-nos uma nova versão de Strangers in the Night, filmando pavões ou o mar... Imagens cheias de significadas, acompanhadas por um óptimo texto e com um excelente trabalho de fotografia.

É Consideravelmente Admirável da Tua Parte que Ainda Penses em Mim Como se Aqui Estivesse - 6/10

É Consideravelmente Admirável da tua Parte que Ainda Penses em Mim Como se Aqui Estivesse cria um ambiente alucinado que reflecte o desespero de , um músico esquizofrénico que quer regressar aos palcos. André Mendes e Andreia Neves trazem-nos uma história cheia de cor que balança entre alucinações e lembranças do passado.

Um certo surrealismo paira sobre esta curta-metragem que, acima de tudo, aborda a relação de um pai ausente com problemas psicológicos e a sua filha, que, ao que parece, continua a lembrá-lo.

O Silêncio Entre Duas Canções - 4/10

Em O Silêncio Entre Duas Canções conhecemos a história de dois irmãos, Lucas e Laura, a viver temporariamente em Berlim. A relação de enorme dependência entre ambos é abalada quando Lucas revela a vontade de permanecer na cidade, oposta à de Laura que só pensa em ir embora. Mónica Lima leva-nos até à Alemanha e filma o conflito entre dois irmãos.

O Silêncio Entre Duas Canções não se consegue distinguir por nenhum motivo especial. O argumento não adianta muito, com a curta-metragem a começar e terminar sem decisões, sem grandes mudanças, sem um plot twist, sem conclusão. A relação entre os actores tem química, mas sente-se, ainda assim, a falta de maior cumplicidade entre irmãos. Mónica Lima merece contudo elogios pelos bonitos planos que consegue captar ao longo da curta-metragem, onde, muitas vezes, joga com reflexos.