quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Crítica: Foi Só Um Acidente / It Was Just an Accident / Yek tasadef sadeh (2025)

*9/10*


Desde que foi condenado, em 2010, a seis anos de prisão e a uma proibição de 20 anos de exercer actividades cinematográficas, que a filmografia de Jafar Panahi espelha o seu estado de espírito - e cresce a olhos vistos. Em 2011, Isto Não É um Filme foi uma leve provocação à sentença que lhe calhou, e retratava o cineasta em prisão domiciliária, na companhia da sua iguana de estimação, e do realizador Mojtaba Mirtahmasb. Juntos, pretendiam mostrar o poder do cinema contra a repressão e liberdade de expressão. Em 2013, Closed Curtain foi uma espécie de grito de desespero de Panahi, um murro no estômago também para o público. Em Taxi (2015), começaram as suas "aventuras" pelas ruas de Teerão numa docuficção onde Panahi interpreta um taxista. Já Três Rostos e Ursos Não Há são duas incursões noutros territórios, com o realizador a interpretar-se a si mesmo na acção. 


Foi Só Um Acidente é filmado depois de, em 2022, as autoridades iranianas terem voltado a prender Jafar Panahi durante sete meses, até este ter feito uma greve de fome e pago uma caução. A revolta está espelhada na longa-metragem, criada a partir de várias conversas com outros reclusos do regime iraniano, e que se revela bastante diferente das suas antecessoras. 

"Eghbal viaja de carro com a mulher grávida quando atropela e mata um cão. Encalhado na estrada, procura ajuda na garagem de Vahid, sem saber que o seu salvador acredita que é ele o agente prisional que o torturou."

O pânico que toma conta de Vahid ao reconhecer a voz e os passos de Eghbal rapidamente se transforma num insaciável desejo de vingança: mas sem nunca lhe ter visto a cara durante o tempo em que esteve preso, as dúvidas começam a assolá-lo. E é a partir daí que se entra numa espécie de road movie rumo à mais justa vingança possível. E eis que entram em cena outros antigos presos políticos, submetidos a torturas arrepiantes pela mão do mesmo homem. Pagar na mesma moeda a quem lhes arruinou a vida pode não ser a decisão mais ética, mas aqui o que importa é não se vingarem do homem errado.


O conflito moral é o motor de Foi Só Um Acidente e Jafar Panahi sabe como adensá-lo até ao extremo, desde logo ao começar por humanizar o possível torturador na primeira cena, mostrando a sua família: uma filha pequena e a mulher grávida.

Este é, sem dúvida, o filme mais violento do realizador iraniano. Pouco gráfico, mas muito agressivo nas palavras e ideias. Os horrores relembrados pelos antigos presos políticos, representados pelos vários actores, e todas as formas de exteriorizar a raiva e o ódio que sentem são uma arma para desafiar o sistema doentio onde sobrevivem.


Filmado em segredo, a grande maioria das cenas de Foi Só Um Acidente são rodadas em zonas isoladas ou de dentro da carrinha - ela própria testemunha de todos os pecados ou arrependimentos das personagens. Este secretismo estende-se da realidade à ficção, e a tensão passa para o outro lado do ecrã, que assiste também impassível a todas as injustiças cometidas pelo regime iraniano.


E no meio deste drama violento, há momentos de humor que não fazem desaparecer a aura pesada de Foi Só Um Acidente, mas recordam que continua a ser Panahi atrás da câmara. Sente-se brutalmente a sua revolta e desilusão com o país que ama, mas é sempre o seu coração pacificador a tomar as rédeas. Uma lição de vida para todos que o assistam.

domingo, 28 de dezembro de 2025

Sugestão da Semana #698

Das estreias da passada semana, a Sugestão da Semana destaca a reposição do filme de 2010, Incendies - A Mulher Que Canta, de Denis Villeneuve, num restauro 4K, em jeito de comemoração do 15.º aniversário da sua estreia.

INCENDIES - A MULHER QUE CANTA


Ficha Técnica:
Título Original: Incendies
Realizador: Denis Villeneuve
Elenco: Lubna Azabal, Mélissa Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Rémy Girard, Allen Altman, Abdelghafour Elaaziz, Dominique Briand
Género: Drama, Guerra, Mistério
Classificação: M/16
Duração: 131 minutos



quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Estreias da Semana #698

Na semana do Natal, os filmes chegaram às salas de cinema portuguesas na véspera e antevéspera do feriado. Há quatro estreias a encerrar 2025. A elas junta-se a reposição de Incendies - A Mulher Que Canta (2010), de Denis Villeneuve.

Anaconda (2025)
Um grupo de artistas de circo, a caminho do que pensam ser o local de um novo espectáculo, fica preso numa exuberante floresta tropical após o barco em que seguiam ser destruído por uma anaconda. Cruzam-se com um caçador furtivo que está a caçar que pretende usá-los como isco suficiente para a apanhar. Mas como artistas de circo, os sobreviventes têm alguns truques na manga.

Outro (2025)
O.T.H.E.R.
Alice, que regressa relutantemente ao lar da sua infância após a morte súbita da sua mãe, descobre que a casa - assustadoramente congelada no tempo - esconde um segredo sinistro: um sistema de vigilância de alta tecnologia segue todos os seus movimentos e uma presença sombria espreita nas sombras.

Shelby Oaks (2025)
Uma equipa de investigadores paranormais descobre o legado sombrio da sua investigação quando Mia descobre perturbadoras pistas relacionadas com o desaparecimento da sua irmã Riley, há 12 anos.

Spongebob o Filme: À Procura das Calças Quadradas (2025)
The SpongeBob Movie: Search for SquarePants
Desejoso de provar que é um verdadeiro herói, SpongeBob parte numa aventura para demonstrar a sua coragem a Mr. Krabs seguindo O Holandês Voador, um misterioso e aventureiro pirata fantasma numa comédia marítima que o leva às profundezas do oceano, onde nenhuma esponja jamais esteve.

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Sugestão da Semana #697

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca Nouvelle Vague, de Richard Linklater.

NOUVELLE VAGUE


Ficha Técnica:
Título Original: Nouvelle Vague
Realizador: Richard Linklater
Elenco: Zoey Deutch, Alix Bénézech, Paolo Luka Noé, Guillaume Marbeck, Tom Novembre, Aubry Dullin, Jade Phan-Gia
Género: Comédia, Drama, História
Classificação: M/12
Duração: 106 minutos

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Estreias da Semana #697

Esta Quinta-feira, chegam às salas de cinema portuguesas oito novos filmes. A Sombra do Corvo, Avatar: Fogo e Cinzas Nouvelle Vague são algumas das estreias em destaque.

A Conspiração Amina (2025)
Stolen Girl
Em 1993, Amina, a filha de seis anos de Maureen, é levada para fora do país pelo seu ex-marido, Karim. Após anos de tentativas infrutíferas para a encontrar, Maureen cruza-se com um recuperador de crianças raptadas que promete ajudá-la.

A Sombra do Corvo (2025)
The Thing with Feathers
Um pai e dois filhos lutam para lidar com a perda súbita da mulher e da mãe. Enquanto tentam seguir em frente com as suas vidas, a família também tem de enfrentar o luto, que é representado como um grande corvo.

As Lições da Peaches (2024)
Teaches of Peaches
Peaches - artista, feminista, estrela do rock. Há mais de 20 anos desafia estereótipos de género. Com material do arquivo privado e imagens dos preparativos e concertos da sua digressão de 2022, 20 Years of Teaches of Peaches, o filme mostra como a canadiana Merrill Nisker se tornou internacionalmente aclamada e ícone do electro-clash Peaches.

Avatar: Fogo e Cinzas (2025)
Avatar: Fire and Ash
A história começa algumas semanas após os acontecimentos de Avatar: O Caminho da Água. A família Sully continua a viver entre o clã Metkayina nos pitorescos recifes de Pandora enquanto aprende a viver sem Neteyam, o filho mais velho que morreu numa escaramuça com o Povo do Céu. Jake, Neytiri, Lo'ak, Tuk, Spider e Kiri lidam com a perda à sua maneira. Enquanto Spider se adapta à vida com o povo do recife, os Sully preocupam-se com a sua segurança e percebem que ele não pode mais permanecer com eles. Após uma apresentação ao Clã Tlalim, nómadas pacíficos que viajam pelos céus, o seu chefe, Peylak, concorda em transportar Spider de volta ao Acampamento Alto, a fortaleza dos Omatikaya. Por fim, toda a família Sully decide juntar-se a Spider na viagem que é interrompida por um ataque do Clã Mangkwan, também conhecido como o Povo das Cinzas. Liderado por Varang, o Povo das Cinzas é composto por Na'vi que viram a sua cultura e modo de vida drasticamente alterados após a devastação da sua terra por um vulcão. Culpam Eywa (a Mãe de Todos de Pandora) pelo desastre. Enquanto isso, a RDA está em dificuldades, após a derrota devastadora às mãos de Jake Sully e do Clã Metkayina, e reagrupa-se para planear o próximo ataque.

David (2025)
A história de um jovem pastor que se tornou rei. Após ser escolhido para enfrentar o gigante Golias, David inspira uma nação com o seu exemplo universal de lealdade, amor e coragem.

Na Terra dos Nossos Irmãos (2024)
Dar sarzamin-e baradar / In the Land of Brothers
Três membros de uma família alargada afegã recomeçam as vidas no Irão como refugiados, sem saber que terão pela frente uma luta de décadas para se sentirem "em casa".

Nouvelle Vague (2025)
Nouvelle Vague acompanha a produção do clássico da Nova Vaga Francesa O Acossado, de Jean-Luc Godard.

O Professor de Inglês (2025)
The Penguin Lessons
Em 1976, enquanto a Argentina mergulha na violência e no caos, um professor de inglês cansado do mundo recupera a sua compaixão pelos outros graças a uma amizade improvável com um pinguim.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Sugestão da Semana #696

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca Orlando Pantera, de Catarina Alves Costa, documentário sobre o músico cabo-verdiano, falecido em 2001, com 33 anos, antes de lançar qualquer álbum.

ORLANDO PANTERA


Ficha Técnica:
Título Original: Orlando Pantera
Realizadora: Catarina Alves Costa
Género: Documentário
Classificação: M/12
Duração: 107 minutos