quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Estrear: Argo

Argo, de Ben Affleck, baseado numa história verídica - mais ainda, num antigo segredo de estado -, é um thriller dramático com um bom argumento, com satisfatórios momentos de tensão, mas com uma espécie de americanização que não cai muito bem, mais ainda depois do recente caso do filme sobre Maomé. Os Estados Unidos da América são retratados como "os bons da fita", dando uma imagem que não corresponde, certamente, à realidade. 


Por outro lado, o elenco reúne nomes de destaque como o próprio realizador Ben Affleck, Bryan Cranston, John GoodmanAlan Arkin. A utilização de imagens de arquivo é outro dos pontos positivos, a par de alguns bons momentos de emoção.

Argo está a reunir consenso entre a crítica internacional pelas razões mais positivas, contudo, não deslumbra como se faz esperar. Um filme sobre americanos, para ser visto e adorado, principalmente, por americanos.

Em breve, a minha crítica aqui e no Espalha-Factos.

Crítica: Sr. Ninguém / Mr. Nobody (2009)


"I've got nothing to say to you. I'm Mr. Nobody, a man who doesn't exist."
Nemo Nobody  - 118 anos
*8.5/10*

São as escolhas que moldam a vida, que a fazem avançar, menos para Nemo Nobody, ao que parece. Jared Leto é o protagonista de Sr. Ninguém, filme de Jaco Van Dormael, de 2009, que chegou finalmente aos cinemas portugueses.

Tudo acontece num futuro não muito distante, onde Nemo é o homem mais velho do mundo e é o último mortal a conviver com as pessoas imortais. Ao longo de cerca de duas horas e meia de filme, Nemo irá relembrar os seus anos reais e imaginários, de infância, adolescência e casamento.

Nos últimos anos, poucos são os filmes com um imaginário tão forte e, ao mesmo tempo, que tocam tão fundo. Sr. Ninguém é, para já, um exemplo de originalidade e, ao mesmo tempo, de coerência no meio de muitos paradoxos. Deixando de parte a componente futurista da longa-metragem, que aqui se encontra muito presente, onde a imortalidade é algo tão comum que o único homem ainda mortal se torna o centro das atenções e as suas palavras são acompanhadas em directo, para satisfação da curiosidade mórbida de um povo, Sr. Ninguém vai muito mais além.

Aqui, o tempo não é constante e a realidade também não. Está-se perante várias dimensões, histórias paralelas e não sabemos qual delas é real. Sonho, ilusão, alucinação, delírio, imaginação... tudo se mistura também na nossa cabeça, tal como na de Nemo Nobody. A infância de Nemo, a relação dos pais, a primeira decisão importante a ser tomada que parece desencadear muitas indecisões, muitas possibilidades; a adolescência, amores e desamores; casamento(s)... vamos conhecer as vidas do protagonista, que as conta a um jovem jornalista, mas teremos as mesmas dúvidas: afinal, como é que tudo isto pode ter acontecido? Onde está a verdade, a realidade?


As coincidências sucedem-se em todas as possibilidades de vida a que assistimos, e as escolhas parecem ter sido sempre impossíveis para este homem de 118 anos. Para quê e por quê escolher? Nemo Nobody faz-nos crer que podemos ter tudo, sem precisar de optar. Contudo, e no meio de muita estranheza, a lógica nunca se perde.

Em Sr. Ninguém há uma grande atenção ao detalhe, que nos aguça os sentidos. São inúmeras as sensações que as imagens despertam em quem assiste. Jaco Van Dormael oferece-nos um filme com uma sensibilidade e delicadeza quase raras. A simples lavagem automática de um carro pode tornar-se claustrofóbica, e ao mesmo tempo artística.

Visualmente, o filme é um prodígio, de uma beleza pouco comum. A câmara liga-nos ainda mais à imagem através de planos, por vezes, hipnotizantes e envolventes. As cenas entre Nemo e Anna são onde mais isso se sente. Os efeitos especiais são igualmente de destacar e o trabalho de montagem é fascinante.


Nas interpretações, Jared Leto volta aqui a provar o seu talento na representação como Nemo Nobody, juntando-se-lhe os nomes de Toby Regbo (Nemo adolescente) e Thomas Byrne (Nemo com nove anos), que nos proporcionam grandes momentos. O casting foi certeiro também na escolha das actrizes que interpretam Anna adulta e adolescente, respectivamente, Diane Kruger e Juno Temple.

"Na vida só temos um take, se estiver mau temos de o aceitar" diz alguém a Nemo Nobody a certo momento. Uma frase que parece servir de lição para o próprio espectador, num filme que não quer conhecer limites para o possível. Até ao fim, faz-nos reflectir, e deixar-nos-á com muitas questões: Afinal, o que é real, o que faz parte do imaginário? Sr. Ninguém tem esse poder, alimenta a nossa mente, pela profundidade argumentativa, beleza visual e pela união perfeita de ambas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Crítica: Shut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soundsystem (2012)


*9/10*
Um espectacular e comovente documentário sobre o fim dos LCD Soundsystem que acompanha o último concerto da banda no Madison Square Garden, e o dia seguinte do vocalista James Murphy. Shut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soundsystem é, para além de tudo isso, uma experiência visualmente soberba e passou na passada Quinta-feira, no Lux, no âmbito da programação do Doclisboa’12. O filme tem estreia comercial agendada para dia 1 de Novembro no Cinema Nimas.


Os realizadores Will Lovelace e Dylan Southern fizeram, sem dúvida, a melhor opção ao acompanhar o anunciado fim da banda norte-americana. A 2 de Abril de 2011 os LCD Soundsystem deram o seu último concerto com casa cheia. Murphy tomou a decisão de acabar com uma das mais célebres e influentes bandas da sua geração no auge da popularidade, assegurando que a mesma se retirava em grande, com o maior e mais ambicioso concerto da sua carreira, que esgotou rapidamente. Foram quatro horas emocionantes que levaram os milhares de espectadores às lágrimas, de alegria e de tristeza.

Primeiramente, não é preciso ser fã dos LCD Soundsystem para ver o documentário, longe disso. A longa-metragem consegue emocionar-nos, mesmo que pouco tenhamos ouvido falar da banda, cujo fim chegou cedo demais. Todo o ambiente parece preparado para nos envolver nas emoções e sentimentos que passam na cabeça de Murphy, de forma a nos contagiarmos por eles. O que ele sente e a explicação das suas opções vão-nos sendo apresentadas através de uma entrevista, dias antes do concerto, e quando entramos na sua intimidade, acompanhando-o ao longo do dia seguinte à grandiosa despedida da banda.


Na entrevista que vai acompanhado os vários momentos do documentário, James Murphy vai-se dando a conhecer, ao mesmo tempo que parece encontrar respostas para si mesmo. Ele que toma a decisão de acabar com os LCD Soundsystem, por diversos motivos, entre eles o não querer ser “famoso” ou o querer ter uma família, acaba por se deparar com um dilema, assumindo que o maior fracasso da banda tenha sido, talvez, acabar.

Visualmente, Shut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soundsystem é brilhante. Planos intimistas nos momentos certos, e que mostram o vazio do dia seguinte, tanto ainda em casa de James Murphy, quando este acaba de acordar, sempre na companhia do seu cão, ainda meio perdido no meio das muitas emoções do dia anterior; como no inesquecível momento em que regressa ao local onde se encontra todo o material da banda, e onde as câmaras nos aproximam do desconforto e tristeza que o vocalista vive naquele espaço de recordações. Por outro lado, a alegria, luz, cor e movimento das imagens do concerto, onde assistimos a músicas inteiras da banda, alternando entre imagens do público, já saudoso, em êxtase, e dos elementos dos LCD Soudsystem a dar o tudo por tudo em cima do palco, para tornar o momentos inesquecível. Os muitos planos picados do público criam um impacto muito forte na visualização das imagens do concerto, a par da utilização da luz, tornando toda esta experiência ainda mais electrizante. Para tal, muito contribuem também os planos que percorrem o público no recinto, culminando no palco, em James Murphy.


São muitos os temas completos tocados no Madison Square Garden, a que assistimos na íntegra, mas, muito mais do que um filme-concerto, Shut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soudsystem é um retrato do próprio vocalista e de como este lida com o final, que ele próprio escolheu, do grupo musical. O tema final New York, I Love You But You’re Bringing Me Down espelha todas as emoções de um último tema tocado ao vivo, não só da parte de Murphy mas de todos os elementos da banda. Um mix de emoções, bem à flor da pele, lágrimas, sorrisos e memórias de dez anos que terminam ali.

“Se é um funeral… que seja o melhor de sempre!” é a máxima que serve não só para o derradeiro concerto, mas também para este Shut up and Play the Hits: O fim dos LCD Soudsystem: provavelmente ambos estão entre os melhores de sempre.


Crítica originalmente publicada no Espalha-Factos.

Doclisboa'12: Retratos: Roman Polanski e Milos Forman

Roman Polanski: A Film Memoir                                      *7.5./10*

Laurent Bouzereau é o realizador deste filme biográfico Roman Polanski: A Film Memoir, onde entramos numa conversa informal, entre o realizador polaco e o seu amigo e colaborador Andrew Braunsberg, uma conversa entre amigos estendida a quem assiste. Percorrendo a vida do cineasta desde a sua infância em Varsóvia, em plena Segunda Guerra Mundial, até aos dias de hoje, a longa-metragem centra-se nos três grandes e difíceis momentos vividos por Polanski: a perda da mãe e pai e irmã levados para campos de concentração; a morte da sua mulher Sharon Tate e a prisão, nos anos 70, devido ao relacionamento sexual com uma adolescente, e posterior exílio, caso que se prolongou até 2009, onde voltou a ser preso, na Suiça.


Durante a conversa, com momentos de grande emoção, são-nos apresentadas fotografias e imagens de arquivo, bem como excertos dos seus filmes - O Pianista serve para ilustrar situações vividas pelo próprio Polanski enquanto criança durante a Segunda Guerra Mundial.

Com um tom menos cinematográfico (e mais televisivo) do que se possa esperar, Roman Polanski: A Film Memoir é interessante para quem conhece pouco o realizador, mas não traz grandes novidades a quem já o conhece bem. No entanto, a conversa flui da melhor forma e nunca se torna maçadora, bem pelo contrário, não se dá pelo tempo passar.

Milos Forman: Co tě nezabije… / Milos Forman: what doesn’t kill you…                                                                                     *6/10*


Milos Forman também teve direito a entrar na secção Retratos deste Doclisboa'12 com o filme de Milos SmídmajerMilos Forman: Co tě nezabije… Com uma vida menos emocionalmente que a de Polanski, Forman conta também com grandes momentos que merecem destaque neste documentário. Smídmajer filmou-o ao longo de cinco anos, conseguindo aclarar alguns dos aspectos da vida íntima do realizador, que o inspiram para fazer filmes profundos e coerentes.

Com uma infância difícil, onde também a Segunda Guerra Mundial marca presença, a vida de Milos Forman é-nos contada destacando importantes momentos: os seus filmes, os Óscares e a sua família, que tem uma importância especial nesta longa-metragem. Voando Sobre um Ninho de Cucos, Amadeus, O Baile dos Bombeiros ou Larry Flynn, são alguns dos filmes aqui revisitados.

Milos Forman: Co tě nezabije… peca, no entanto, por parecer um pouco perdido no meio de tantos factos e não ter sabido seleccionar melhor os importantes dados que reúne. A certo momento, a atenção do espectador começa a dispersar, e o filme não a volta a conseguir agarrar.

Doclisboa'12: Visões de Madredeus

*8/10*
Visões de Madredeus foi o filme de abertura da secção Heart Beat, que pela primeira vez contou com um filme português, no Doclisboa'12. Neste documentário, Edgar Pêra, que acompanhou a banda de 1987 a 2006, apresenta-nos uma espécie de cine-diários dos Madredeus, da Europa ao Oriente. 

A música, profunda e melancólica, que espelha toda uma alma nacional, aliada a todo um ambiente visual tão característico do realizador, oferecem-nos um filme intimista e arrepiante. E tudo começa no último concerto da tournée em 2006, em Tóquio.

Nas imagens iniciais, que nos mostram a capital japonesa, misturam-se os sons da cidade com a música da banda de forma brilhante. Pêra já nos acostumou a uma espécie de experimentalismo com o som e, mais ainda, com as imagens. E do fim para o início, Visões de Madredeus continua regressando aos primeiros anos da banda, onde vemos uma Teresa Salgueiro muito jovem.


Imagens de concertos e bastidores, onde os Madredeus nos são apresentados sem medos ou floreados, mas sim de uma forma muito íntima. Pêra é um amigo que os acompanha e nós também somos colocados nesse lugar. Assistimos ainda a testemunhos de fãs um pouco por todo o mundo, que são praticamente unânimes na escolha das palavras para caracterizar a música da banda, quer se fale com um japonês, com um italiano ou um francês.

Não fugindo à regra dos filmes de Edgar Pêra, Visões de Madredeus é visualmente assombroso, no melhor sentido da palavra. A distorção da imagem, da cor, e mesmo do som, resulta de forma singular, e a sua fusão com a música é fabulosa. Há uma espécie de movimento sempre presente no documentário, que lhe confere igualmente uma intensidade muito especial. Ao assistir à longa-metragem é quase impossível não sentir arrepios, pelo conjunto do que nos é apresentado e estamos a experienciar.

O realizador nunca tem receio de arriscar e gosta de experimentar. Visões de Madredeus é uma explosão de cor e sentimentos, que atravessam a sala de cinema, vindos directamente dos mais diferenciados pontos do globo. A história de quase 20 anos de uma banda acompanhada num documentário que mexe com os sentidos.

domingo, 28 de outubro de 2012

Sugestão da Semana #35

Numa semana onde uma estreia se destaca fortemente das outras - falo claro de 007 Skyfall, que tem recebido boas críticas -, a minha sugestão vai para uma alternativa, em francês.


Ficha Técnica:
Titulo Original: Un Heureux Événement
Realizador: Rémi Bezançon
Elenco: Louise BourgoinPio MarmaïJosiane BalaskoGabrielle Lazure
Género: Comédia, Drama
Classificação: M/12
Duração: 107 minutos

Doclisboa'12: Homenagem a Fernando Lopes

No ano do falecimento do cineasta português Fernando Lopes, o Doclisboa'12 não podia deixar de lembrar o trabalho do realizador, tão importante no campo do documentário em Portugal. Antes da exibição de As Pedras e o Tempo - Évora, Cinema Olhar/Ver – Gérard, Fotógrafo, Augusto M. Seabra e Susana Sousa Dias introduziram a sessão. Seabra destacou a "importância decisiva [de Fernando Lopes] na história do documentário em Portugal", e explicou a decisão de se fazer "uma homenagem menos óbvia" ao cineasta, apresentando filmes quase desconhecidos do público, ao invés de optar pela escolha mais fácil que seria Belarmino.

As Pedras e o Tempo - Évora                               *6.5/10*

Curta documental de 1961 encomendada pelo regime. As Pedras e o Tempo mostram-nos Évora, os seus monumentos, as suas ruas, a sua vida e a da planície que a cerca. São-nos mostrados os trabalhadores no campo, a feira que acontece na cidade uma vez por ano, os dias na Universidade... E os monumentos, as pedras que contam a história de um povo e da própria cidade de Évora.

Cinema                                                                      *8/10*

Cinema pretende revisitar o Teatro Sá da Bandeira, no Porto, no ano em que a cidade foi a Capital Europeia da Cultura. É um elogio a esta sala, mas, ao mesmo tempo, ao próprio cinema.

Os primórdios do cinema português são evocados, logo no início da curta-metragem. Ficamos perante imagens do primeiro filme português, de Aurélio da Paz dos Reis: Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, que data de 1896. Segue-se uma apresentação do espaço do Teatro Sá da Bandeira, que nos é mostrado de forma hipnótica, vazio, ao mesmo tempo que ouvimos passos. As suas cores, vibrantes, conferem uma envolvência muito especial a quem assiste. Há a referência ao cinema pornográfico, que marcou a história da sala. E é-nos apresentado o projeccionista, Jorge José da Silva, que ali trabalha há muitos anos e tem muitas histórias para contar. Isabel Ruth protagoniza outros dos momentos mais absorventes deste Cinema, todo ele um pedaço de arte.

Olhar/Ver – Gérard, Fotógrafo                                *7/10*

Fernando Lopes faz aqui um "retrato" de Gérard Castello Lopes, no que toca à sua importância no contexto da fotografia contemporânea e, especialmente, para a fotografia portuguesa. Com as participações especiais de Maria João Seixas e Alexandre Pomar, Lopes cria uma intimidade que nos prende a este olhar de Gérard, Fotógrafo.

Desde o início do gosto por fotografar, passando pela fase de o fazer para testemunhar, onde a época parecia pedir por tal, até, passados 17 anos, cansado da dificuldade em fotografar quem não quer ser fotografado, a sua preocupação se ter alterado. Gérard começou a fotografar o registável, a natureza, querendo sempre alcançar o paradoxo - a realidade como ilusão. As mudanças na forma de olhar/ver o que o rodeia ao longo de uma vida, conforme a multiplicidade de experiências vividas. Olhar/Ver - Gérard, Fotógrafo conta-nos tudo, na pessoa do próprio Castello Lopes.

sábado, 27 de outubro de 2012

Doclisboa'12: Vencedores


Foram esta noite conhecidos, na sessão de encerramento, os vencedores desta 10ª edição do Doclisboa, que termina amanhã. San Zimei, de Wang Bing, e Terra de Ninguém, de Salomé Lamas, foram os grandes vencedores da competição internacional e nacional, respectivamente. Segue a lista completa de premiados que terão amanhã nova exibição no festival:


Competição Internacional

Grande Prémio Cidade de Lisboa para melhor longa-metragemSan Zimei,de Wang Bing

Prémio Especial do JúriThe Anabasis of May and Fusako Shigenobu, Masao Adachi and 27 Years without Images, de Eric Baudelaire

Menção Especial: Sofia's Last Ambulance, de Ilian Metev

Prémio Siemens para melhor curta-metragemDusty Night, de Ali Hazara

Menção Especial: Relocation, de Pieter Geenen

Prémio Revelação - Fast Forward
Prémio para a melhor primeira obra transversal à Competição Internacional, Investigações e RiscosEspoir Voyage, de Michel K. Zongo

Prémio Universidades
Prémio Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa para melhor longa-metragem da Competição InternacionalBabylon, de Youssef Chebbi, Ismaël, Ala Eddine Slim

Investigações

Prémio RTP2 para melhor documentário de InvestigaçãoUn Mito Antropologico Televisivo, de Alessandro Gagliardo, Maria Helene Bertino, Dario Castelli

Competição Portuguesa

Prémio Liscont para melhor longa-metragemTerra de Ninguém, de Salomé Lamas

Menção Especial: Amanhecer a Andar, de Sílvia Firmino

Doclisboa'12: Tropicália

*7.5/10*
Tropicália traz para a secção Heart Beat ritmos bem brasileiros e foi no Domingo passado recebido com a sala Manoel de Oliveira, do Cinema São Jorge, quase cheia. Este Sábado à noite tem direito a mais uma sessão. Realizado por Marcelo Machado, este é um dos documentários que têm sido mais bem recebidos no Doclisboa'12.

Tropicália traz um olhar contemporâneo sobre o importante movimento cultural que explodiu no Brasil no final dos anos 1960 apelidado de Tropicalismo. Junta material de arquivo precioso, recuperado propositadamente para esta produção, e testemunhos dos protagonistas do movimento, de onde se destacam os nomes de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Tudo começa em bom português de Portugal. É em Lisboa, no programa de televisão Zip Zip, com Raul Solnado e Carlos Cruz ao comando, que Caetano e Gil actuam, a 4 de Agosto de 1969, e falam sobre o Tropicalismo. É este o ponto de partida para se recuar alguns anos até à origem do movimento, no Brasil, e conhecer a sucessão de acontecimentos que tiveram lugar até 1969. 

Numa época politicamente conturbada no Brasil, o colectivo da Tropicália vem romper e agitar os ânimos, culminando mesmo na prisão dos seus grandes impulsionadores Caetano e Gil, que se vêem obrigados, posteriormente, a sair do país. E são os tempos anteriores e no exílio em Londres que nos são aqui apresentados, todo o crescimento do movimento tropicalista, que se acelera com o início dos festivais de música popular na televisão, e o sucesso que se verifica, mesmo após os músicos saírem do país.


A relação entre músicos e televisão é bastante explorada, onde Roberto Carlos nos surge como exemplo. E é aí que começam os tão importantes festivais. É importante que os cantores sejam vistos e conhecidos, e aí está esta relação de dependência que se estabelece entre as duas partes. A conjuntura política da época é outro ponto forte do documentário, que nos mostra como a mensagem "sejam livres", que o movimento passava, era subversiva para a época, verificando-se uma espécie de dicotomia "Tropicalismo/Ditadura". Caetano e Gil incentivavam a pensar, mas para a ditadura da época, pensar era crime.

Em Tropicália, e a par dos dois grandes protagonistas, surgem-nos também nomes como Maria Bethânia ou Nara Leão, que não se incluíam no movimento mas estavam-lhe intimamente ligadas, ou Os Mutantes, um dos maiores sucessos da época, Rita LeeTom Zé, Gal Costa, e tantos outros nomes que nos testemunham uma época.


Visualmente o documentário, maioritariamente composto por imagens de arquivo, a preto e branco, recebe o colorido que o próprio movimento já traz consigo, através de manchas de várias cores que surgem sobre a imagem, conferindo-lhes a vivacidade e arrojo que caracterizaram o Tropicalismo.

Tropicália é uma viagem a um país, a uma época e a um movimento, mais do que musical, cultural e artístico. Caetano Veloso e Gilberto Gil são os protagonistas que nos guiam, numa jornada de cor e nostalgia, ao tropicalismo.

Doclisboa'12: Competição Portuguesa e Riscos #2

Competição Portuguesa de Curtas-metragens: Histórias do Fundo do Quintal                                                                                  *4.5/10*


Tiago Afonso trouxe em estreia mundial para a Competição Portuguesa de Curtas-metragens do Doclisboa'12 Histórias do Fundo do Quintal, contadas a três vozes. Inspirada nos acontecimentos que tiveram lugar em Paris de 18 de Março a 28 de Maio de 1871, nesta curta debate-se a história de uma revolta, enquanto a câmara quer encontrar provas no fundo de um quintal.

Ouvimos as vozes mas não vemos quem fala, apenas nos são mostradas imagens que pretendem ilustrar o que é dito, são-nos apresentadas como provas de algo brutal que ali parece ter acontecido. Procura criar-se um registo do que é contado. Contudo, algumas das imagens surgem um tanto forçadas.

Por volta da metade da curta-metragem alcançam-se bons momentos, onde as conversas encaixam perfeita e naturalmente nas imagens que surgem. A opção da gravação da canção que acompanha as imagens no final do documentário é interessante, mas estas depressa se tornam repetitivas. Tiago Afonso apresenta uma ideia algo original, mas cuja concretização não é a melhor.

Riscos: Hollywood Movie                                                    *6.5/10*


Hollywood Movie, de Volker Schreiner, é o resultado da transformação do texto Argumento Cinematográfico, de Nam June Paik, num filme de sete minutos. "Pode tornar-se qualquer filme de Hollywood interessante, se se o cortar várias vezes..." e é mesmo isso que o realizador faz. Schreiner reúne nomes eternos de Hollywood como Michael Caine, Humphrey Bogart, Elizabeth Taylor, John Torturro, Katharine Hepburn, Jack Nicholson, Jeff Bridges, Kevin Spacey, entre muitos outros. Cada um diz uma palavra, retiradas de diversos filmes, e, ao fim de contas, constrói-se um texto e faz-se uma curta-metragem muito original e bastante divertida. A desconstrução de ver filmes está aqui na totalidade, Hollywood Movie é a prova dessa desconstrução: o cinema desconstruído pelo e para o cinema.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

TCN Blog Awards 2012: Nomeados e Votação

Foram, ao longo do desta Quinta-feira, revelados os nomeados para os TCN Blog Awards 2012

O Hoje Vi(vi) um Filme, estreante nestas andanças, arrecadou três nomeações:

  • Melhor Novo Blog
  • Melhor Crítica de Cinema - Tabu
  • Blogger do Ano


O Espalha-Factos, de onde também faço parte, conseguiu ainda duas nomeações, para Melhor Artigo de Televisão com Privatize-se a Eurovisão, da autoria de Pedro Miguel Coelho, e para Melhor Iniciativa, com o Espalha-Factos Rádio.

Paralelamente, e ainda nas iniciativas destaco aquelas onde estou envolvida: o Círculo de Críticos Online Portugueses (CCOP) e o Cinema Bloggers Awards (CBA), que também estão nomeados. Ainda a realçar é Filmes que toda a gente gosta, mas eu não, onde fui convidada a participar pelo Cine31.

No Cinema Notebook podem ser consultados todos os nomeados.

As votações já estão abertas e só encerrarão a 30 de Novembro. Podem votam no Hoje Vi(vi) um Filme e em quem mais de direito AQUI.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Doclisboa: Riscos e Cinema de Urgência #1

Riscos: Ashes                                                             *6.5/10*

Para Apichatpong Weerasethakul, a Tailândia, enquanto cheia de beleza, colapsa lentamente na escuridão. Dentro da secção Riscos, no Doclisboa'12, esta segunda-feira foi exibido o documentário Ashes, do realizador tailandês.


Um interessante jogo de cor, luz e som, onde a pequena cadela King Kong surge como a figura de partida.  Mas Ashes contempla também o amor, o prazer, e a destruição da memória. Fala-se de sonhos e da realidade quotidiana. Uma curta documental, intimista e visualmente cativante, onde as imagens que passam por nós são como fragmentos, mas os sonhos também não o são?


Cinema de Urgência: São Lázaro 94                         *6/10*

Dentro da secção Cinema de Urgência, um dos vários exemplos da ocupação de um espaço pela cultura, por um bem maior, é São Lázaro 94, do Cinema Libertário Acção Projecção. Uma reunião de imagens das ocupações e despejos no número 94 da Rua de São Lázaro, em Lisboa. Primeiro é-nos apresentada a ideia, depois vemos o despejo levado a cabo pela polícia e o descontentamento que se lhe seguiu.

Há dez anos ao abandono, o 94 de São Lázaro é ocupado, uma primeira vez, a 25 de Novembro de 2010. No dia seguinte é despejado pela polícia devido a uma ordem da Câmara que diz ter projectos de reabilitação para o local. Dois anos depois, e nada feito, o edifício é novamente ocupado e despejado. Fragmentos de uma experiência colectiva é o que São Lázaro 94 nos quer mostrar.

É apresentado o lado dos "ocupas", os projectos que têm, a limpeza e reestruturação do espaço, que tiveram tempo de fazer até serem despejados. Seguem-se imagens do descontentamento deste colectivo de pessoas, da união por uma causa que parece difícil de concretizar.

Estreias da Semana #35

São seis os filmes que estreiam esta semana, de onde dois se destacam, em especial o novo de James Bond, Skyfall. De França, Um Feliz Evento é também uma óptima surpresa, chegando ao circuito comercial depois de ter passado na Festa do Cinema Francês, e já conta com uma crítica AQUI.

A Advogada (2010)
Conviction
Em 1980, Kenneth Waters foi condenado a prisão perpétua pelo brutal homicídio de uma mulher no Massachusetts. As suspeitas contra ele eram evidentes - provas circunstanciais e a alguns testemunhos não deixavam dúvidas. Todos consideravam Kenneth culpado, excepto a sua irmã mais nova Betty Anne, que se recusa a acreditar que ele é culpado e luta até ao fim para provar a sua inocência. A Advogada é inspirado num caso verídico.

A Casa do Fim da Rua (2012)
House at the End of the Street
Jennifer Lawrence protagoniza, desta vez, um filme de terror. Em A Casa do Fim da Rua, uma mãe e a sua filha mudam-se para uma nova comunidade, acabando por ir viver ao lado de uma casa com um passado terrível. Ali, anos atrás, uma jovem assassinou os seus pais. Apesar dos habitantes dessa comunidade insistirem que a rapariga desapareceu após os brutais assassinatos, mãe e filha rapidamente descobrem que a história da sinistra casa está longe de estar terminada e que a filha pode acabar por se tornar parte do seu legado obscuro.

A Loucura de Almayer (2011)
La folie Almayer
Realizado por Chantal Akerman, convidada com direito a retrospectiva no Doclisboa'12, A Loucura de Almayer debruça-se sobre um europeu que se agarra aos sonhos ilusórios por amor à filha, algures no sudoeste da Ásia, numa aldeia perdida num rio grandioso e turbulento. É uma procura pelo absoluto, uma história de paixão e loucura.

Bellamy (2009)
O comissário Paul Bellamy e a mulher, Françoise, vão mais uma vez para a casa de férias em Nîmes, para desgosto de Françoise que preferia fazer um belo cruzeiro. Mas este ano tudo será diferente: Jacques o meio-irmão de Paul, aventureiro e meio alcoólico, junta-se ao casal. Ao mesmo tempo o comissário é procurado por um desconhecido, Noël Gentil, que lhe pede protecção e começa a contar uma estranha história que Paul vai querer desmontar com a ajuda de Françoise.

007 Skyfall (2012)
Skyfall
E é esta semana (mais propriamente no dia 26) que chega o novo filme de James Bond, 007 Skyfall, mais uma vez com Daniel Craig na pele do agente secreto. A lealdade de Bond a M é testada quando esta é assombrada pelo seu passado. Quando o MI6 é atacado, 007 tem de encontrar e destruir a ameaça, a qualquer custo.

Um Feliz Evento (2011)
Un heureux événement
“Ela encurralou-me e forçou-me a ir além dos meus limites. Ela fez-me confrontar o absoluto: o amor, o sacrifício, a ternura, o abandono. Ela fez-me sair do meu espaço, transformou-me. Porque é que ninguém me avisou? Porque é que ninguém falou sobre isto?". Um Feliz Evento é um filme sobre a gravidez e todos os dilemas e interrogações pelos quais uma mulher passa quando sabe que vai ser mãe. A história de uma família, desde o seu início, contada sem qualquer medo ou vergonha, e com muito amor.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Estrear: Shut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soundsystem

"Se é um funeral... que seja o melhor de sempre!"

Um espectacular e comovente documentário sobre o fim dos LCD Soundsystem que acompanha o último concerto da banda no Madison Square Garden, e o dia seguinte do vocalista James MurphyShut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soundsystem é, para além de tudo isso, uma experiência visualmente soberba.


Foi a 2 de Abril de 2011 que os LCD Soundsystem deram o seu último concerto. Murphy tomou a decisão de acabar com uma das mais célebres e influentes bandas da sua geração no auge da popularidade, assegurando que a mesma se retirava em grande, com o maior concerto da sua carreira, que esgotou rapidamente. O concerto de quatro horas levou os milhares de espectadores às lágrimas, de alegria e de tristeza.

A longa-metragem consegue emocionar-nos também a nós, que assistimos a este fim que chegou cedo demais. As explicações e emoções de Murphy vão-nos sendo apresentadas através de uma entrevista, dias antes do concerto, e ao entrarmos na sua intimidade, acompanhando-o ao longo das horas seguintes à grandiosa despedida da banda.


No dia 25 de Outubro, às 23h00, Shut up and Play the Hits: O Fim dos LCD Soundsystem tem exibição no Doclisboa, em múltiplos ecrãs no Lux. O filme tem estreia comercial a 1 de Novembro, no Cinema Nimas. Em breve, a minha crítica estará aqui e no Espalha-Factos.

Sugestão da Semana #34

Das estreias da passada Quinta-feira, o destaque é algo óbvio, mas vale bem a visualização: o novo filme de Tim Burton.

FRANKENWEENIE

Ficha Técnica:
Titulo Original: Frankenweenie
Realizador: Tim Burton
Elenco: Winona Ryder, Charlie Tahan, Catherine O’Hara, Martin Short, Martin Landau, Conchata Ferrell, Atticus Shaffer
Género: Animação
Classificação: M/12
Duração: 87 minutos

Doclisboa'12: Amanhecer a Andar

*4/10*

"Hoje em dia, um homem quando acorda tem que amanhecer a andar", diz uma das personagens deste documentário que faz parte da Competição Nacional de longas-metragens. A realizadora, Sílvia Firmino, parece ter-se inspirado nesta frase para a escolha do título do seu filme Amanhecer a Andar, que teve exibição este Sábado no Doclisboa.


Histórias de quem que vive em redor do antigo Grande Hotel Beira, em Moçambique, onde alguns habitam, em condições precárias. Um velho homem guarda uma escola durante a noite e, ao amanhecer, abre portas e varre o chão arenoso, ao mesmo tempo que ouvimos crianças a cantar o hino de Moçambique. Este homem é Augusto e é ele que nos leva ao espaço onde o documentário se passa. Um espaço amplo, misterioso, que se revelará fragmentado no encontro com as personagens principais do filme. Elvita trabalha incessantemente mas não deixa de defender o seu descanso junto do marido. Carlos procura um empréstimo para aumentar uma pequena banca de venda e finalmente começar também a construir a casa para a família. Salim reza várias vezes ao dia, ensina o Alcorão a crianças e, em família, não perde a atenção do primeiro filho homem. Três vidas em percurso, num movimento que olha para o futuro sem perder a tranquila condição no presente.

Amanhecer a Andar reúne um conjunto de imagens que teriam grande valor se fossem trabalhadas e apresentadas de outra forma. Vemos o dia a dia destas pessoas, mas não sabemos os seus nomes (para além do que nos é dito na sinopse), não percebemos a relação que existe entre os vários personagens, e, muito menos o que a realizadora pretendia transmitir com esta longa-metragem.

A fotografia não é, claramente, um ponto forte, nem as próprias personagens e algumas cenas parecem totalmente encenadas (como a conversa sobre o empréstimo). Contudo, há momentos interessantes que poderiam ter sido aproveitados da melhor forma. A conversa entre Carlos e o encarregado da obra da sua futura casa, apesar de divertida, ao mesmo tempo, demonstra bem as dificuldades, não só financeiras, como também do próprio planeamento do território e mesmo no que respeita aos esgotos (inexistentes). Perto do final, a comparação das actividades dos homens, que se reúnem para ver futebol, e das mulheres, que dançam animadas, são dois momentos muito interessantes. A música, que nos acompanha ao longo do filme,  é também uma mais-valia.

Sente-se demasiadamente a ausência de testemunhos, existindo muitos vazios por preencher. Sílvia Firmino tinha nas mãos material potencialmente valioso, que poderia ter resultado bem, mas parece ter preferido contrariar o título da sua longa-metragem.


Amanhecer a Andar repete amanhã, dia 22 de Outubro, às 16h30, no Cinema São Jorge.

sábado, 20 de outubro de 2012

Doclisboa'12: É na Terra Não É na Lua - O Arquivo

*9/10*

Depois de um primeiro dia com duas sessões esgotadas - a de abertura incluída, claro -, a Sexta-feira no Doclisboa abriu da melhor forma no Pequeno Auditório da Culturgest. É na Terra Não é na Lua - O Arquivo foi exibido, a propósito do lançamento do DVD do filme, que foi o grande vencedor da Competição Internacional na edição de 2011. O realizador Gonçalo Tocha esteve presente na sessão e no posterior debate.


Imagens que não foram incluídas na premiada longa-metragem encontram agora o seu devido lugar como arquivo, não somente do filme mas igualmente da própria ilha, cujos registos escasseiam. A ilha do Corvo e as suas pessoas, os seus lugares, as suas festas, a sua evolução, a sua vida.

Para concretizar É na Terra Não É na Lua, Gonçalo Tocha e Dídio Pestana foram por três vezes à mais pequena ilha dos Açores, entre 2007 e 2009, onde permaneceram ao todo três meses. Neste arquivo de 20 sequências de vida da pequena comunidade da ilha do Corvo (que foram colocadas de fora da longa-metragem), juntam-se também imagens de 2011, de um registo posterior, agora organizadas para a edição especial em DVD.

Composto por dois discos, o do filme e o do arquivo, o DVD agora lançado vem acompanhado de um diário da rodagem, originando assim uma espécie de filme-livro, onde um serve de complemento ao outro, o livro faz a ligação do filme ao arquivo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Doclisboa'12 começa hoje

A 10ª edição do Doclisboa começa hoje e prolonga-se até 28 de Outubro. Esta noite, a abrir o festival na Culturgest está A Última Vez que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, às 21h30, que faz também parte da competição internacional de longas-metragens. Já dia 27, para a sessão de encerramento, o filme escolhido foi Cesare Deve Morire, de Paolo e Vittorio Taviani, candidato italiano ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. 


Num ano difícil para a cultura, o Doclisboa conseguiu contornar as dificuldades e oferece uma programação de excelência, cheia de novidades. AQUI pode ser relido o artigo sobre a programação deste ano do festival que privilegia o cinema documental, avançada aquando da conferência de imprensa.

A programação e horários das sessões podem ser consultados AQUI.

Crítica: Frankenweenie (2012)

Tim Burton está de volta à animação e aos velhos tempos com Frankenweenie, uma história de amizade entre um rapaz, Victor, e o seu cão, Sparky, que continua muito para além da morte. Burton resolveu construir esta longa-metragem de animação a partir da sua curta-metragem homónima de 1984, em imagem real. Frankenweenie traz o génio de volta. A imaginação, originalidade e excentricidade características do realizador regressam ao grande ecrã depois de desilusões como A Noiva Cadáver (2005) ou Alice no País das Maravilhas (2010).


Os fãs da curta-metragem de 1984 ficarão decerto encantados ao poder recordar a amizade de Victor e Sparky, agora com personagens animadas, e transformada numa longa de quase hora e meia. A mesma história com mais fantasia, mais ciência, mais monstros, sempre no registo sombrio que tão bem caracteriza Tim Burton.

Depois de inesperadamente ver o seu cão, Sparky, morrer atropelado, o jovem Victor recorre aos poderes da ciência para trazer o seu melhor amigo de volta à vida. Ele tenta esconder a sua criação pessoal, mas quando Sparky sai à rua, os colegas de escola de Victor, e depressa a cidade inteira, apercebem-se que o regresso ao mundo dos vivos pode ter consequências monstruosas.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

The Master, Amour e Passion no Lisbon & Estoril Film Festival


O Lisbon & Estoril Film Festival apresentou hoje, em conferência de imprensa, as novidades desta edição do evento, que terá lugar de 9 a 18 de Novembro, em Lisboa e Cascais. As antestreias de The Master, de Paul Thomas Anderson, Passion, de Brian de Palma, e Amour, de Michael Haneke, são algumas das surpresas do festival.


O internacionalmente aclamado The Master (O Mestre, em português) e Beasts of the Southern Wild (realizado por Benh Zeitlin) são os filmes de abertura deste Lisbon & Estoril Film Festival. A encerrar, Cloud Atlas, de Tom Tykwer, Andy Wachowski Lana Wachowski, e As Voltas da Vida, de Robert Lorenz, fazem as honras.


O actor Willem Dafoe e a actriz Fanny Ardant compõem o júri da selecção oficial, a que se juntam António Damásio, Hanna Damásio, Alfred Brendel e Sonia Wieder-Atherton. Dentro dos filmes em competição, Laurence Always, de Xavier DolanRengaine, de Rachid DjaïdaniLow Tide, de Roberto Minervini, ou Sueño y Silencio, de Jaime Rosales, são alguns dos títulos da secção.

Fora de competição, são muitos os filmes para fazer as delícias dos cinéfilos. Amour, de Haneke, e Passion, de Brian de Palma, destacam-se dos restantes nomes. Mas as atenções também se viram para Bella Addormentata, de Marco BellocchioHoly Motors, de Leos CaraxIo e te, de Bernardo BertolucciVous n’avez encore rien vu, de Alain Resnais, ou mesmo para o português Operação Outono, de Bruno de Almeida, entre outros.


Há ainda espaço para duas retrospectivas do trabalho de Brian de Palma e de Hou Hsiao-Hsien, e homenagens a Monte HellmanLucrecia Martel, aos portugueses João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata e ao crítico de cinema Serge Daney. Dentro da secção Cineastas Raros, destaque para Artavazd PeleshyanAdolpho Arrietta. Já na secção CinemArt há lugar para o escritor Enrique Vila-Matas, para o pianista Alfred Brendel, para o argumentista Hanif Kureishi e para o pintor Noronha da Costa.

O Lisbon & Estoril Film Festival não se fica por aqui e oferece ainda algumas sessões especiais, encontros, exposições, entre outras actividades. Para mais informação, consulta o site oficial do evento AQUI.

Estreias da Semana #34

Esta Quinta-feira, 18 de Outubro, são seis os filmes que estreiam nos cinemas portugueses.

A Cidade do teu destino Final (2009)
The City of Your Final Destination
Omar Razaghi é um estudante iraniano cuja ajuda financeira para uma bolsa está dependente de uma autorização para escrever uma biografia sobre um falecido autor latino-americano, Jules Gund. Logo no primeiro semestre da bolsa, os proprietários da obra, inesperadamente, negam-lhe a autorização. Numa tentativa desesperada para o apoiar, a sua namorada Deirdre, aconselha-o a viajar para o Uruguai para tentar convence-los a mudarem de ideias. Omar segue o conselho e é imediatamente recebido num enredo de intrigas. A chegada sem aviso prévio de Omar vai perturbar a frágil coexistência da família de Gund e faz com que todos questionem as suas próprias circunstâncias e os seus destinos, que, por sua vez, leva o próprio Omar a questionar-se sobre em que grau, se for o caso, ele tem sido o autor da sua própria existência.

A Cilada (2011)
Setup
Bruce Willis, Ryan Phillipe e 50 Cent estão ao comando deste A Cilada. Sonny e Vincent são amigos e juntam-se para levar a cabo um detalhado assalto, mas acabam inimigos quando Vincent resolve fugir com o produto do roubo. Sonny procura vingança associando-se ao mais perigoso chefe da máfia local e, quando fica frente-a-frente com o seu amigo de longa data, é obrigado a tomar uma decisão que irá mudar para sempre a sua vida.

Astérix e Obélix: Ao Serviço de Sua Majestade (2012)
Astérix et Obélix: Au Service de Sa Majesté
Conduzidas por Júlio Cesar, as gloriosas legiões de Roma invadiram a Britânia. Mas uma aldeia continua a resistir à invasão, todos os dias com mais dificuldade. A rainha dos bretões resolve enviar o seu leal funcionário Anticlímax à Gália para procurar ajuda junto de outra aldeia, famosa pela sua resistência aos romanos. Entretanto, Astérix e Obélix foram escolhidos para levarem a cabo uma delicada missão - colocar algum juízo na cabeça de Justforkix, o irritante sobrinho do chefe da aldeia, que apenas pensa em mulheres e música. Quando Anticlímax descreve a desesperante situação da sua aldeia, os gauleses oferecem-lhe um barril da famosa poção, e a protecção de Astérix e Obélix - com Justforkix a reboque.

Frankenweenie (2012)
Um encantador e assustador conto sobre um menino e o seu cão. Depois de perder inesperadamente o seu cão Sparky, o jovem Victor recorre aos poderes da ciência para trazer o seu melhor amigo de volta à vida. Ele tenta esconder a sua criação pessoal, mas quando Sparky sai à rua, os colegas de escola de Victor, os professores e a cidade inteira apercebem-se que o regresso ao mundo dos vivos pode ter consequências monstruosas.

Galinha com ameixas (2011)
Poulet aux Prunes
Passou pela Festa do Cinema Francês e tem agora a sua estreia comercial em Portugal. No Teerão, em 1958, Nasser Ali Khan, o mais famoso violinista, perde o seu violino, partido durante uma discussão. Incapaz de encontrar outro que o possa substituir, Nasser Ali percebe que a vida sem música é intolerável. Fecha-se no quarto e os seus sonhos fazem-no regressar à infância ou transportam-no para o futuro dos seus filhos. Durante essa semana, e à medida que as peças da sua história se encaixam, descobrimos o seu segredo e a razão que o leva a desistir da vida em nome da música e do amor.

O Dia do Juízo Final (2010)
Unthinkable
Algures nos Estados Unidos, três armas nucleares estão prontas a detonar. Há apenas 2 dias para as encontrar e só um homem sabe da sua localização. Para surpresa do agente do FBI Brody, o terrorista já se encontra detido e um misterioso interrogador chamado H está encarregado de obter a informação. Com o prazo a terminar, a luta pelo poder entre os agentes e o terrorista torna-se mortal.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Festa do Cinema Francês: Paulette vence Prémio do Público


O filme Paulette, de Jérôme Enrico, foi o vencedor do Prémio do Público - Prémio Groupama Seguros da 13ª Festa do Cinema Francês. A longa-metragem francesa abriu esta edição do evento em antestreia mundial, no Cinema São Jorge, em Lisboa.


O prémio, no valor de 2 500 euros será entregue pela Groupama Seguros ao distribuidor do filme, para a campanha de difusão, aquando da sua estreia comercial em Portugal.

O Hoje Vi(vi) um Filme já assistiu a Paulette e a crítica pode ser relida AQUI.

Sugestão da Semana #33

Das estreias da passada Quinta-feira, o meu destaque recai sobre o filme protagonizado por Joseph Gordon-Levitt e Bruce Willis.

LOOPER - REFLEXO ASSASSINO


Ficha Técnica:
Titulo Original: Looper
Realizador: Rian Johnson
Elenco: Joseph Gordon-LevittBruce Willis, Emily Blunt, Jeff Daniels, Paul Dano, Pierce Gagnon
Género: Acção, Ficção Científica
Classificação: M/16
Duração: 118 minutos


domingo, 14 de outubro de 2012

Festa do Cinema Francês: Je t’aime… moi non plus – Artistes et Critiques


*6/10*

Maria de Medeiros, como madrinha desta edição da Festa do Cinema Francês, teve direito a uma pequena retrospectiva do seu trabalho à frente e atrás das câmaras. Je t’aime… moi non plus – Artistes et Critiques faz parte da sua filmografia enquanto realizadora, um documentário aborda a relação, por vezes difícil, entre realizadores e críticos de cinema. Dois lados de um mesmo amor pela Sétima Arte.

Foi durante um Festival de Cannes, que a ideia surgiu, e onde entrevistou grandes nomes do cinema e da crítica como Pedro Almodóvar, Christophe Honoré, David Cronenberg, o português Manoel de Oliveira, Jean-Michel Frodon, Atom Egoyan, Alexander Walker, Tonino de Bernardi, entre tantos outros.

Dividido por temáticas, há uma contraposição de testemunhos, opiniões, onde a subjectividade e o confronto de argumentos impera. Os dois lados da mesma moeda, em reflexão. Contudo, a utilização de closes exagerados, sem motivo, de planos menos bem conseguidos, e estranhas opções da realizadora fazem com que Je t’aime… moi non plus – Artistes et Critiques perca muito do que ganha com as declarações.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Festa do Cinema Francês: Un Heureux Événement

*7/10*

Un Heureux Événement (ou Um Feliz Evento, em português) estreia-se por cá na Festa do Cinema Francês. Uma gravidez é o motivo desta longa-metragem de Rémi Bezançon (um dos realizadores do filme de animação Zarafa, já referido aqui), que a encara da forma mais sincera possível. Um retrato de uma família, desde o seu início, as dificuldades e os medos da maternidade.


“Ela encurralou-me e forçou-me a ir além dos meus limites. Ela fez-me confrontar o absoluto: o amor, o sacrifício, a ternura, o abandono. Ela fez-me sair do meu espaço, transformou-me. Porque é que ninguém me avisou? Porque é que ninguém falou sobre isto?",  interroga-se a protagonista. E serão muitas as questões a surgir no decorrer de Un Heureux Événement, uma comédia dramática que quer fazer toda a plateia reflectir.

Baseado no livro homónimo de Eliette Abécassis, o filme de Rémi Bezançon promete divertir mas também perturbar e tocar. Sem tabus, sem vergonha e com muito amor. Um desfazer de muitos mitos sobre a maternidade, num filme onde a gravidez é o centro de tudo, desde o momento em que duas pessoas se apaixonam, até ao evoluir da relação, com os seus altos e baixos.

No elenco, grande destaque para a excelente interpretação de Louise Bourgoin, que se entrega de corpo e alma a Barbara Dray, e é a própria alma deste filme. Depois de já se ter destacado como Adèle Blanc-Sec (2010), a actriz francesa mostra todo o seu talento fazendo-nos rir e chorar, ou mesmo sofrer com ela. Barbara é uma personagem forte e complexa, mas, ao mesmo tempo, tão igual a qualquer mulher, a qualquer mãe. Percorremos os seus medos, os seus sonhos, as suas tormentas, as suas alegrias e tristezas, e partilharemos o seu amor.

Un Heureux Événement revelou-se uma óptima surpresa e merece visualização na Festa do Cinema Francês (este sábado, dia 13, às 19h30, no Cinema São Jorge), onde concorre ao Prémio do Público.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Estreias da Semana #33

Esta Quinta-feira, dia 11 de Outubro, são cinco os filmes que estreiam nas salas de cinema portuguesas.

Arbitrage - A Fraude (2012)
Arbitrage
Ao conhecemos o magnata das operações financeiras de alto risco de Nova Iorque, Robert Miller, na véspera do seu 60º aniversário, aparenta ser o retrato vivo do sucesso à americana no mundo dos negócios e no mundo da família. Contudo por detrás das paredes douradas da sua mansão, Miller está a tentar desesperadamente vender o seu império a um grande banco, antes que toda a dimensão das suas fraudes seja revelada. Ele esconde a sua vida dupla da esposa Ellen e da filha e aparente herdeira Brooke, e, ao mesmo tempo, também vai tentando manter uma relação amorosa com uma comerciante de arte francesa, Julie Côte. Precisamente no instante em que se estava a ver livre do seu complicado império, um inesperado e trágico erro obriga-o a um jogo de malabarismo entre família, negócio e crime, com a ajuda de Jimmy Grant, um rosto do passado de Miller. Um passo em falso irá desencadear as suspeitas de um detective da polícia de Nova Iorque, Michael Bryer, que nada deterá nas suas investigações. Miller é forçado a enfrentar os limites da sua própria duplicidade moral. Resta saber se o consegue fazer antes que o escândalo rebente.

Elas (2011)
Elles
Anne é uma jornalista de investigação da revista Elle, abastada mãe de dois filhos, e está a escrever um artigo sobre a prostituição entre as estudantes. Os seus encontros com duas jovens mulheres bastante independentes, Alicja e Charlotte, revelam-se intensos e perturbadores, levando-a a questionar as suas convicções mais íntimas sobre dinheiro, família e sexo.

Looper - Reflexo Assassino (2012)
Looper
O muito aguardado Looper - Reflexo Assassino chega esta semana ao cinema. Quando a máfia quer eliminar alguém, envia o seu alvo para o passado, onde um looper - um assassino contratado, como Joe– está à sua espera para o liquidar. Joe está a fazer fortuna e a vida corre-lhe bem... até ao dia em que a máfia decide fechar o ciclo, enviando-lhe um novo alvo do futuro: ele próprio.

O Gebo e a Sombra (2012)
O novo filme de Manoel de Oliveira também estreia esta semana. Apesar da idade e do cansaço, Gebo persegue a sua actividade de contabilista para sustentar a família. Vive com a mulher, Doroteia, e a nora, Sofia, mas é a ausência do filho, João, que os preocupa. Gebo parece esconder algo em relação a isso, em particular a Doroteia, que vive na espera ansiosa de rever o seu filho. Sofia espera também o regresso do marido, ao mesmo tempo que o teme. Subitamente João reaparece e tudo muda.

[REC]3 Génesis (2012)
Koldo e Clara foram feitos um para o outro e estão a planear celebrar o seu casamento na companhia dos que lhes são mais queridos. Mas uma nuvem negra paira sobre eles. No dia mais feliz das suas vidas, o inferno está prestes a libertar-se...