segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Caminhos do Cinema Português 2020: Vencedores

O Festival Caminhos do Cinema Português anunciou os vencedores da sua 26.ª edição. O Fim do Mundo, de Basil da Cunha, e Listen, de Ana Rocha de Sousa, foram dois dos grandes vencedores do evento, que se prolonga até dia 5 de Dezembro, em Coimbra.

O Júri da Selecção Caminhos atribuiu o Grande Prémio – Turismo do Centro ao filme do luso-suíço Basil da Cunha, que regressa ao bairro da Reboleira com O Fim do Mundo. A longa-metragem conquistou ainda o Prémio D. Quijote, atribuído pelo Júri da Federação Internacional de Cineclubes.

Já o Prémio do Público foi entregue a Listen, o filme que conquistou o maior número de distinções no Caminhos 2020. Lúcia Moniz foi distinguida como Melhor Actriz e Ruben Garcia como Melhor Actor Secundário. Ana Rocha de Sousa recebeu o Prémio de Melhor Realizadora, pela “destreza com que manuseia e coloca a câmara e à sua direção de atores”, fazendo com que o espectador “se torne muito próximo do drama e da luta desta família”, justificou o júri.

Maré, de Joana Rosa Bragança, Nheengatu - A Língua da Amazónia, de José Barahona, e Patrick, de Gonçalo Waddington, receberam, respetivamente, os prémios para Melhor Animação, Melhor Documentário e Melhor Ficção.

Conhece a lista completa de vencedores do Caminhos do Cinema Português 2020 e justificação do júri:

SELECÇÃO CAMINHOS

Prémio do Público – Chama Amarela: Listen (Ana Rocha de Sousa)

Prémios Oficiais

Grande Prémio do Festival – Turismo do Centro: O Fim do Mundo (Basil da Cunha)

“Um tempo, um imaginário e um elenco generoso permitiram a construção de um universo emocionalmente duro, mas que nos acompanha numa reflexão muito depois de o filme ter terminado”

Prémio Melhor Ficção – Cidade de Coimbra: Patrick (Gonçalo Waddington)

“Entre o tráfico de menores e a pedofilia, Patrick mostra-nos o conflito de identidades e a aridez do mundo e da existência”

Prémio Melhor Curta-Metragem – União de Freguesias de Coimbra: Bustarenga (Ana Maria Gomes)

“Num momento onde tudo nos parece afastar, este documentário aproxima-nos uns dos outros de uma forma surpreendente, original e que articula vários universos numa linguagem expressiva”

Prémio Melhor Documentário – Universidade de Coimbra: Nheengatu - A Língua da Amazónia (José Barahona)

“Como os afluentes do rio que navega, o realizador entrelaça a língua Nheengatu, a natureza e o homem, criando um filme que nos envolve e alerta”

Prémio Melhor Animação: Maré (Joana Rosa Bragança)

“Com uma aparente simplicidade, o filme consegue criar um universo de cores e sentidos que nos dá vontade de mergulhar no mar com o seu gigante”

Prémio Revelação: Moço (Bernardo Lopes)

“O trabalho do jovem realizador Bernardo Lopes, na definição da luz, posicionamento da câmara e no acompanhamento do jovem actor, estimula-nos com uma pequena história a querer ver os passos numa futura longa”

Prémios Técnico-Artísticos

Melhor Actor: Hugo Fernandes, em Patrick (Gonçalo Waddington)

“Com este filme, Hugo Fernandes torna-se um dos grandes rostos do cinema português”

Melhor Actor Secundário: Ruben Garcia, em Listen (Ana Rocha de Sousa)

“Entre a contenção e a surpresa, Ruben Garcia constrói um personagem cheio de calor que nos cria uma âncora no filme”

Melhor Actriz: Lúcia Moniz, em Listen (Ana Rocha de Sousa)

Lúcia Moniz enche o ecrã”

Melhor Actriz Secundária: Carla Galvão, em O Cordeiro de Deus (David Pinheiro Vicente)

“Num mundo de sombras, o desempenho de Carla Galvão é luminoso”

Melhor Argumento Adaptado: Pedro Brito, por Assim mas sem ser assim (Pedro Brito)

“O argumento transpõe com delicadeza o mundo sempre original de Afonso Cruz

Melhor Argumento Original: Pedro Peralta, por Noite Perpétua (Pedro Peralta)

Pedro Peralta resgata, através das personagens criadas, uma noite que ainda hoje parece não acabar”

Melhor Banda Sonora Original: Philippe Lenzini, em Mesa (João Fazenda)

“Entre copos, pratos e convivas, a música de Philippe Lenzini estende uma toalha de sons e melodias que gera uma maior partilha em torno da 'Mesa'”

Melhor Caracterização: Júlio Alves, em O Cordeiro de Deus (David Pinheiro Vicente)

“Uma grande coerência entre a expressividade da caracterização e o ambiente dramático ficcional”

Melhor Cartaz: João Fazenda, por Mesa (João Fazenda)

“Quem vê o cartaz de João Fazenda começa de imediato a ver o filme”

Melhor Direcção Artística: Nádia Henriques, em Patrick (Gonçalo Waddington)

“Uma grande cidade, uma estrada e uma aldeia são universos díspares a que o magnífico trabalho na direcção artística de Nádia Henriques deu coerência narrativa e visual”

Melhor Fotografia: João Ribeiro, em Noite Perpétua (Pedro Peralta)

“É uma luz minimal que nos faz ver melhor, que nos faz ouvir melhor e que nos transporta para o universo do filme”

Melhor Guarda-Roupa: Susana Abreu, em Surdina (Rodrigo Areias)

“Sem ostentação, procurando detalhes e pantones de uma sobriedade quotidiana, Susana Abreu constrói um conjunto de figurinos que não nos deixa cair na melancolia”

Melhor Montagem: João Braz e Cláudia Varejão, em Amor Fati (Cláudia Varejão)

“Só a precisão, repetição e diferença da montagem de João Braz e Cláudia Varejão poderia estruturar e organizar a pesquisa que o filme leva a cabo”

Melhor Realizadora: Ana Rocha de Sousa, por Listen (Ana Rocha de Sousa)

“A destreza com que Ana Rocha coloca a câmara e dirige os atores torna-nos muito próximos da luta desta família em Inglaterra”

Melhor Som: Cláudia Varejão, Takashi Sugimoto, Adriana Bolito, Elsa Mendes e Hugo Leitão, em Amor Fati (Cláudia Varejão)

“A captação, desenho e mistura de som de Cláudia Varejão, Takashi Sugimoto, Adriana Bolito, Elsa Mendes e Hugo Leitão clarifica a rede de afectos que a imagem propõe”

Prémio de Imprensa CISION: Amor Fati (Cláudia Varejão)

“Pelo retrato singular do potencial da ligação humana, pelo olhar sensível sobre as harmonias, particulares e universais da vida, pelo gesto subtil – mas grandioso – de representação da multiplicidade, da diversidade e da beleza inerentes às melodias do ser”

Menção Honrosa do Júri de Imprensa CISION: Armour (Sandro Aguilar)

“Pela sua ousadia estética e formal, bem como a capacidade de desafiar ludicamente os limites dos géneros”


Prémio D. Quijote da Federação Internacional de Cineclubes: O Fim do Mundo (Basil da Cunha)

“A familiaridade do cineasta com a comunidade de Reboleira, adquirida ao viver e trabalhar com eles durante uma década, é evidente nesta longa-metragem  que revela um trabalho consistente, expresso pela empatia na relação com actores não-profissionais que se traduz em desempenhos notáveis. Os grandes planos transmitem-nos os pensamentos e sentimentos das personagens, o que dispensa muitas vezes os diálogos, quase sempre em criolo. A câmara à mão, seguindo o seu protagonista através do bairro, cria uma atmosfera de cerco, de claustrofobia, amparada pela luz alaranjada das ruas que  confere às sequências noturnas um quotidiano inquieto. Uma produção realizada de forma colaborativa e hábil, de um autor que com este filme cimenta um lugar de eleição na produção portuguesa, e que merece reconhecimento dentro e fora de portas”

Menção Honrosa do Júri da Federação Internacional de Cineclubes: Catavento (João Rosas)

“O realizador mostra carinho e afecto pelas suas personagens, particularmente o protagonista. Catavento, através de uma escrita cuidada e calorosa, comunica eficazmente a incerteza sentida por um jovem numa encruzilhada, quando sente que tem 'demasiadas escolhas' sobre o que fazer com a sua vida”


SELEÇÃO ENSAIOS

Prémio da Federação Portuguesa de Cineclubes para Melhor Ensaio Internacional: Copacabana Madureira (Leonardo Martinelli)

Copacabana Madureira desestrutura inventivamente as formas narrativas e estéticas do cinema militante e engajado para propor uma reflexão crítica sobre o desgoverno de Bolsonaro no Brasil. A poética comprometida do filme de Leonardo Martinelli mereceu toda a nossa admiração. O gesto estético e político do filme é necessário e urgente num período de desintegração das instituições políticas e culturais do Brasil, como a Cinemateca Brasileira. Face à situação da Cinemateca Brasileira – e, concretamente, face às ameaças políticas ao património cinematográfico e ao 'sequestro da memória audiovisual' do Brasil, nas palavras de Eduardo Morettin -, não podemos deixar de expressar a nossa preocupação e toda a nossa solidariedade”

Menção Honrosa do Júri para Ensaio Internacional: Lascas (Natália Azevedo Andrade)

“A mundividência e estética de Lascas surpreendeu de imediato todos os membros do júri. Contendo laivos surrealistas, a narrativa mantém um minimalismo que permite aos sentidos a sua fruição estética. Admirável é também a construção narrativa e o diálogo com tradições pictóricas extra-'ocidentais'”


Prémio da Federação Portuguesa de Cineclubes para Melhor Ensaio Nacional de Animação: O Presidente Veste Nada (Clara Borges e Diana Agar)

“Saudamos a inventividade com que O Presidente Veste Nada figura os processos de trabalho numa fábrica têxtil através das ferramentas do cinema de animação. O filme vai além das convenções de género ao intercalar elementos do cinema de animação com elementos do cinema documental”

Menção Honrosa do Júri para Ensaio Nacional de Animação: Embers (Adriano Palha)

Embers tem uma construção narrativa complexa, tecendo-se ao som de uma banda-sonora muito envolvente. A expressão gráfica que anima a tragédia é concordante com o tema explorado e destaca-se pela originalidade do seu autor”


Prémio da Federação Portuguesa de Cineclubes para Melhor Ensaio Nacional: Corte (Afonso e Bernardo Rapazote)

“A decisão da atribuição deste prémio é unânime pelos membros do júri. A curta-metragem Corte destacou-se pelo seu tema, universo, diálogos, casting, sonoplastia e figurinos. A singularidade do filme aporta uma voz autoral fresca, original. Sublinhamos a depurada ‘mise en scène’ e a coerência do seu sistema narrativo e estético, em diálogo com grandes obras da história do cinema, como La Prise du pouvoir par Louis XIV, de Rossellini

Menção Honrosa do Júri para Ensaio Nacional: Água e Sal (Luisa Mello)

“A curta-metragem Água e Sal é uma obra que se destaca pela sua experimentação delicada e minimalismo formal. Entrecruza momentos de mensagem política de um modo pessoal que transitam de modo harmónico com as sequências de índole mais poético e subjetivo. O posicionamento político de Água e Sal emerge de um fundo de vivências e memórias. O filme afirma uma política da subjetividade e da intimidade que muito interessou ao júri”


SELEÇÃO OUTROS OLHARES

Melhor Filme – Galerias Avenida: SOA (Raquel Castro)

Menção Honrosa Melhor Filme: Anticorpo (André Martins)


Mais informações sobre o Festival Caminhos do Cinema Português em: https://www.caminhos.info/.

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