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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Filme da Minha Vida, por Tiago Brito

Por Tiago Brito


Creio que terei uns problemas a resolver nesta crónica: não sei qual o filme da minha curta vida. Não sei qual levaria para a famosa ilha deserta e muito menos sei se daqui a uns anos continuarei a gostar dos filmes da minha vida.

Mas alguma coisa sei. Sei que são muitos os filmes que me marcaram e uns quantos que mudaram a minha vida, para o bem e para o mal. Categorizo-os por alturas especificas da minha vida nas quais tiveram uma importância crassa na minha forma de pensar o mundo ou até de vivê-lo.

Talvez terei encontrado um caminho por onde seguir no paragrafo anterior. Posso escolher um filme que num passado próximo me tenha deixado abismado. Sim, abismado. Esse filme é Amour do Michael Haneke. Desta forma direi o que penso neste exacto momento e serei fiel ao meu eu, nesta altura da vida.

Não gosto de ver trailers e muito menos os que mostram o filme quase todo. Tira-me a vontade de ver os filmes e por isso falha o seu propósito. O que me incentiva a ir ver um filme é o cartaz que me chama a atenção, a imagem que fica, o titulo que não me sai da cabeça ou o comentário depreciativo de alguém que não tem o mesmo gosto que eu. Com os grandes realizadores não precisamos de incentivo. É apenas esperar que estreie o próximo filme.

Em Amour caí de paraquedas. Não quis saber de nada, muito menos ler as críticas. Tentei, como uma toupeira, cavar um túnel até à sala de cinema (afinal não terei caído de paraquedas mas cavado um túnel). E ali cheguei eu, a meio de uma estória, não a meio do filme. Sim, esse poder de sonho que o cinema tem de nos intrometer a meio da acção sem darmos conta, até acordarmos no fim e começarmos a reflectir sobre o que acabámos de viver. Tal como um sonho.

Entrei devagar e delicadamente na vida daquele casal. Não sabia quem eram, nem de onde vinham mas no meio de tantas possibilidades de personagens, Haneke escolheu as mais indicadas para falar sobre o amor. Haneke resolve quaisquer dúvidas, no início do filme, sobre o que irá acontecer no final e mostra-nos que o importante não é reviravoltas inesperadas mas o que acontece passo a passo, tal como no amor. Não é o viveram felizes para sempre mas o que acontece a cada dia que passa e por isso o filme é continuo, focado num espaço de relativamente um ano e não uma vida inteira. 

O seu sentido de Tempo é inquebrável e justo. A distância a que estamos dos personagens, exacta, sem invadir privacidades de alguém que ainda há pouco conhecemos. Não se poupa a pormenores e a subtilezas de uma família contemporânea. Retira desde o início o factor social de - coitadinhos dos velhinhos que não têm dinheiro para poder viver um final de vida em condições. Este casal tem dinheiro e por isso centra o filme não num drama social mas num drama, única e exclusivamente. Dá espaço a que só se fale de amor. Poucos realizadores poderiam chamar Amor a um filme seu, seria demasiado arriscado falhar a premissa a que o titulo remete mas Haneke é um dos que pode.


Não pretendo fazer um apanhado do filme nem é esse o desígnio da crónica. Talvez o comentário, que ouvi ao sair da sala de cinema, o resuma bem: “Paguei eu dinheiro para ver uma velha morrer aos poucos e poucos...”.  Faltou só o pequeno grande reparo, que o seu marido a acompanha na degradação, alimenta-a, trata-a com as suas próprias mãos em vez de a lançar num lar aos cuidados de quem calhar, aceita as opções da sua mulher, enfrenta a vergonha alheia de uma pessoa que vai perdendo as capacidades e autonomia aos poucos, não vive preso a recordações, embora as estime. Enfrenta a sua filha mimada e que nem uma vez se oiça um queixume seu. Não é fictício e por isso humano, tem momentos negros e acções imponderadas. 

É um filme verdadeiro na falsidade e uma estória de amor com um final trágico. O final é um ponto crucial no filme e no qual a acção em que personagem principal incorre é algo que eu não concordo como opção de morte. Sendo uma obra de arte, dá espaço a interpretação e não impõe um ponto de vista que não dê para ser interpretado pelo espectador, a meu ver. Teria muito mais para dissertar sobre o filme, e principalmente o fim, mas não cabe nesta crónica que, por descuido, já a alonguei mais do que devia. 

Este filme foi visto numa altura em que esta estória, numa dimensão familiar e não conjugal, fazia e ainda faz parte da minha vida. A opção de cuidar dos nossos, até ao fim das suas vidas, é Amor com A grande. Ainda mais quando alguém é responsável pela nossa existência ou quando, no caso do filme, foi cúmplice na nossa felicidade e abrigo na infelicidade. Não nos é obrigado que façamos, não é sequer o mínimo que podemos fazer e também sabemos que não receberemos nada em troca. Não é com um interesse num fim. Esse A grande é posto à prova no final da vida e é onde é mais preciso mas também, mais fácil de quebrar.

Afinal falo de um filme que não sei se é o da minha vida mas que tem parte dela. Parece-me um problema resolvido.

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Tiago Brito, no mundo da música, é o Capitão Tiago, guitarrista da banda Os Capitães da Areia. Ao mesmo tempo, desistiu do curso de engenharia para estudar realização, cujo curso completou em 2013. Tem actualmente a sua curta-metragem, Rio Turvo, a concurso em festivais de cinema e está a criar uma produtora. A actividade musical, claro, continua.

Agradeço ao Tiago ter aceite o meu desafio.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscars 2013: Os Vencedores

E chegou a grande noite dos Oscars. Acompanha aqui no Hoje Vi(vi) um Filme o anúncio dos vencedores, com actualização em tempo real.
Melhor Filme
Argo

Melhor Actor
Daniel Day-Lewis por Lincoln

Melhor Actriz
Jennifer Lawrence por Guia para um Final Feliz

Melhor Actor Secundário
Christoph Waltz por Django Libertado

Melhor Actriz Secundária
Anne Hathaway por Os Miseráveis

Melhor Realizador
Ang Lee por A Vida de Pi

Melhor Argumento Original
Django Libertado: Quentin Tarantino

Melhor Argumento Adaptado
Argo: Chris Terrio

Melhor Filme Animado
Brave - Indomável

Melhor Filme Estrangeiro

Melhor Fotografia
A Vida de Pi: Claudio Miranda

Melhor Montagem
Argo: William Goldenberg

Melhor Direcção Artística

Melhor Guarda-Roupa

Melhor Maquilhagem e Cabelo

Melhor Banda Sonora Original
A Vida de Pi: Mychael Danna

Melhor Canção Original
Skyfall, de AdelePaul Epworth, no filme 007 - Skyfall

Melhor Efeitos Sonoros
Os Miseráveis

Melhor Montagem de Som
Empate:
007 - Skyfall 

Melhor Efeitos Visuais

Melhor Documentário
Searching for Sugar Man

Melhor Curta Documental
Inocente

Melhor Curta de Animação
O Rapaz do Papel: John Kahrs

Melhor Curta
Curfew: Shawn Christensen

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Oscars 2013: Melhor Filme

Depois da reflexão sobre as interpretações dos nomeados a Melhor Actor e Melhor Actriz, passemos à grande categoria desta noite de 24 de Fevereiro. São nove as longas-metragens na corrida para o Oscar de Melhor Filme. Entre as que merecem totalmente o prémio e as que nem deveriam constar da lista de nomeados, a escolha é muito diversificada e não se fica pelas produções norte-americanas.

1. Django Libertado (Django Unchained)

O meu grande favorito está longe de ser o mais acarinhado pela Academia, mas conta, ainda assim com cinco nomeações (entre as quais Melhor Argumento Original ou Melhor Actor Secundário, categorias com grande possibilidade de triunfar). Django Libertado é o mais recente e sangrento filme do grande Quentin Tarantino, onde se contam homenagens ao cinema quase a cada fotograma. O elenco é de luxo e está recheado de boas interpretações - Waltz, Jackson, Foxx e DiCaprio não deixam ficar mal a nenhum momento -, a banda sonora é viciante e Tarantino é fiel a si mesmo. Polémico ou não, Django Libertado é o melhor entre os nomeados.


2. Amor (Amour)

Uma surpresa entre os nomeados, o filme austríaco, falado em francês, conquistou lugar entre os nove magníficos e reúne, ao todo cinco nomeações (Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Realizador, Melhor Actriz e Melhor Argumento Original são as outras quatro). Michael Haneke mostra uma vez mais como sabe contar uma história e comover-nos com o que há de mais real e mais doloroso. Amor é um filme marcante e pesado, que mexe com que há de mais profundo no ser humano. A história de Anne e Georges seria também merecedora do Oscar na principal categoria da noite, mas provavelmente levará apenas o de Melhor Filme Estrangeiro (e, quem sabe, o de Melhor Actriz Principal).


3. Bestas do Sul Selvagem (Beasts of the Southern Wild)

Mais um nomeado que me conquistou verdadeiramente. Bestas do Sul Selvagem tem quatro nomeações e, provavelmente, não conquistará nenhum prémio (apesar do de Melhor Argumento Adaptado lhe assentar tão bem). O filme do jovem realizador Benh Zeitlin transpira harmonia e significância, apelando à nossa reflexão, descoberta e imaginação enquanto espectadores. A protagonista Hushpuppy, brilhantemente interpretada por Quvenzhané Wallis, é a nossa guia nesta viagem à vida naquela comunidade esquecida que é a Banheira.


4. Lincoln

Steven Spielberg lidera as nomeações com o seu Lincoln, indicado para 12 categorias. O filme que se debruça sobre os últimos quatro meses de vida do Presidente norte-americano, tendo como foco toda a sua luta pela abolição da escravatura nos EUA, apesar do seu teor extremamente político, demonstrou ser muito para além disso. Envolvente, sempre construído de forma a chamar a atenção mesmo para o menos cativante dos diálogos, Lincoln quer chegar até ao que meno conhecer acerca da história norte-americana, e fá-lo sem tabus. Com um protagonista de peso - Daniel Day-Lewis - e secundários com grandes prestações - Tommy Lee Jones e Sally Field -, junta-se a Lincoln uma componente técnica marcada pela sua fotografia e banda sonora, tudo culminando num resultado muito positivo. Apesar da incerteza que paira este ano sobre quase todas as categorias dos Oscars, Lincoln não deve ganhar a de Melhor Filme, mas é, certamente, um dos favoritos na corrida.


5. 00:30 A Hora Negra (Zero Dark Thirty)

O filme de Kathryn Bigelow começou a Award Season como um dos grandes favoritos às estatuetas douradas mas foi perdendo fôlego ainda cedo. A realizadora ficou de fora dos nomeados na sua categoria apesar do excelente trabalho feito no seu 00:30 A Hora Negra, Jessica Chastain também perdeu o favoritismo para o prémio de Melhor Actriz, que recai agora sobre Jennifer Lawrence e Emmanuelle Riva, e , apesar das cinco nomeações, o filme sobre a captura de Bin Laden parece já ter poucas hipóteses de se sagrar vencedor na categoria principal. A história, contada sem tabus nem medos de exibir situações de tortura - e que tanta polémica levantou, por isso mesmo -, revela-se um bom filme de acção, e vale principalmente pela meia hora final, intensa e que quase coloca o espectador dentro da cena.


6. Argo

O grande favorito da noite é Argo, o filme de Ben Affleck sobre o resgate dos reféns norte-americanos do Irão, cujos pormenores estiveram em segredo de Estado durante muitos anos. Um filme que apresenta os EUA como heróis conquista, desde logo, a simpatia da Academia, e apesar desta ter esquecido Affleck na categoria de realização, certo é que Argo tem ganho todos os prémios que tinha para ganhar nas duas principais categorias (Melhor Filme e Realizador). Não sendo um filme excepcional, entretém q.b. e conta uma história verídica, o que o torna, desde logo, mais interessante. Também o facto de haver cinema no meio do original resgate, cativa ainda mais a atenção de um público mais cinéfilo.


7. Os Miseráveis (Les Misérables)

Depois de Discurso do Rei, Tom Hooper apostou num musical que se revelou demasiado para aquilo  que o realizador é capaz. Ainda assim a Academia gostou de Os Miseráveis, nomeando-o para oito categorias e, apesar de não ser favorito para Melhor Filme, surpresas podem sempre acontecer. Com um elenco recheado de nomes de peso, é Anne Hathaway que se destaca e merece o Oscar para Melhor Actriz Secundária, que lhe está quase garantido. Os Miseráveis peca pelos seus 158 minutos serem praticamente todos cantados, tornando-se exaustivo para a plateia, a menos que esta seja verdadeira fã de musicais.


[ex aequo] 7. A Vida de Pi (Life of Pi)

Com 11 nomeações está um dos que menos gostei de entre os nomeados para Melhor Filme. A Vida de Pi tem grandes possibilidades de vencer nas categorias técnicas e nunca se sabe se não conseguirá alcançar o prémio de Melhor Realizador ou Melhor Filme. Contudo, o tom demasiado artificial do filme de Ang Lee deita muito a perder, apesar do próprio argumento não ser minimamente cativante. Um filme espiritual e, apesar de tudo, visualmente grandioso - há que dar-lhe os louros pelas imagens que nos proporciona -, mas que está longe de merecer o grande prémio da noite.


9. Guia para um Final Feliz (Silver Linings Playbook)

Inesperado por figurar entre os nove escolhidos pela Academia é Guia para um Final Feliz, um longa-metragem que pouco mais é do que medíocre. Menos inesperado é quando nos lembramos dos dois nomes por detrás do filme, os produtores Bob e Harvey Weinstein que tanta influência detêm em Hollywood. Mais por estes motivos do que por mérito, o filme tem a possibilidade de conquistar alguns troféus, apesar da mediana realização, do argumento, que cai numa comédia romântica já tão vista, e das interpretações tão banais. Guia para um Final Feliz não tem, contudo, grandes possibilidades de ganhar o grande prémio da noite.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Os Melhores do Ano: Top 10 #2012

Em 2012, o ano em que os melhores filmes estreados datam, na sua grande maioria, de 2011, homenagens ao cinema parecem não ter faltado nas salas portuguesas, umas mais puras e bem intencionadas que outras. Não tendo sido um ano de grande cinema, o que nos chegou com um ou mais anos de atraso foi o suficiente para reunir pelo menos dez títulos que detêm mérito suficiente para serem classificados como os melhores do ano.

Apresento-vos, de seguida, o meu top 10 de 2012.

10. Millennium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo), de David Fincher, 2011
Millenium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres foi, no seu conjunto, uma óptima surpresa. Apesar de não fugir tanto assim ao original sueco, todos os aspectos técnicos estão perto da perfeição e a identidade de Fincher está bastante marcada. O mistério e o suspense perduram do início ao fim e é impossível odiar a mulher do filme: Lisbeth Salander (e Rooney Mara) irá apaixonar.



9. Era uma vez na Anatólia (Bir zamanlar Anadolu'da), de Nuri Bilge Ceylan, 2011
A Natureza e as tormentas de cada um andam de mãos dadas com a própria morte nos 150 minutos de um filme profundo e visualmente fantástico. Era Uma Vez na Anatólia chega-nos da Turquia e percorre os medos dos seus personagens, conseguindo igualmente fazer vir ao de cima os do próprio espectador. Da noite, por entre os campos desertos da Anatólia em busca de um corpo, ao dia, numa vila cheia de dificuldades, Era Uma Vez na Anatólia, com título de conto de fadas, com quem apenas partilha os cenários meio bucólicos, meio fantásticos, faz-nos reflectir, ao mesmo tempo que nos fascina, por entre paisagens nocturnas onde somos convidados a mergulhar.



8. Tabu, de Miguel Gomes, 2012
Histórias de quem pensa mais em si do que nos outros e de amores e desamores, entre Moçambique e Portugal. O argumento, relativamente simples, alia-se de tal forma a aspectos mais técnicos que lhe conferem uma complexidade e beleza a que já não se está habituado no cinema. Rodado em 35 mm e a preto e branco, Tabu tem ainda a singularidade das cenas de Moçambique, presentes na sua segunda parte, terem sido filmadas em 16 mm, deixando-nos ver melhor o grão da película. A nostalgia de um amor proibido paira em Tabu, que prima pela beleza visual e originalidade que traz ao cinema. Recupera métodos que parecem estar a ser esquecidos e mostra como, nos dias de hoje, filmes assim também funcionam e muito bem.



7. Amor (Amour), de Michael Haneke, 2012
Tocante, perturbador, mas repleto de Amor, é assim a mais recente longa-metragem de Michael Haneke, que lhe valeu mais uma Palma de Ouro em Cannes. Aqui a máxima do “até que a morte vos separe” é cumprida, e já o sabemos desde os primeiros minutos. Compreendemos, desde logo, que Amor não é para ser visto de ânimo leve e irá mexer com o que há de mais intrínseco em cada um de nós. Amor é um retrato de uma vida a dois, de um amor capaz de salvar, que nos põe cara a cara com a dura realidade que fazemos por esquecer.



6. Sr. Ninguém (Mr. Nobody), de Jaco Van Dormael, 2009
Nos últimos anos, poucos são os filmes com um imaginário tão forte e, ao mesmo tempo, que tocam tão fundo. Sr. Ninguém é, para já, um exemplo de originalidade e, ao mesmo tempo, de coerência no meio de muitos paradoxos. Aqui, o tempo não é constante e a realidade também não. Está-se perante várias dimensões, histórias paralelas e não sabemos qual delas é real. Sonho, ilusão, alucinação, delírio, imaginação... tudo se mistura também na nossa cabeça, tal como na de Nemo Nobody. Até ao fim, faz-nos reflectir, e deixar-nos-á com muitas questões: Afinal, o que é real, o que faz parte do imaginário? Sr. Ninguém tem o poder de alimentar a nossa mente, pela profundidade argumentativa, beleza visual e pela união perfeita de ambas.




5. A Invenção de Hugo (Hugo), de Martin Scorsese, 2011
A paixão de Scorsese pelo Cinema foi mais forte e o realizador fugiu ao seu género habitual para nos trazer, desta vez, um filme fascinante, que irá certamente apaixonar os verdadeiros fãs de cinema e encantar todos os outros. A Invenção de Hugo é a verdadeira homenagem à história da Sétima Arte, feita por quem também faz parte dela. A preservação da herança cinematográfica está em cima da mesa em A Invenção de Hugo e, mais do que um alerta para todos nós, o filme quer fazer-nos lembrar e viajar (de comboio, porque não?) até aos primórdios da Sétima Arte. Com Hugo, vamos sonhar.



4. Attenberg, de Athina Rachel Tsangari, 2010
Apesar da estranheza que possa provocar nas mentes menos preparadas para Attenberg, a longa-metragem grega, realizada sem pudor por Athina Rachel Tsangari, tem em si uma enorme profundidade e mexe, inevitavelmente, com as emoções da plateia. Tão hilariante como triste e melancólico, Attenberg não deixa ninguém indiferente, e detém uma singular sensibilidade provocatória. Um ensaio sobre a descoberta e sobre experiências que marcam e com as quais é difícil lidar, a vários níveis, com uma protagonista  muito especial que conquista o espectador com a sua inocência e excentricidade.



3. Procurem Abrigo (Take Shelter), de Jeff Nichols, 2011
O medo comanda Procurem Abrigo, e não é apenas o medo do Apocalipse que está em jogo, é o medo de si mesmo e do que o rodeia. As questões ficam em cima da mesa ao longo do filme: doença mental ou realidade? alucinações ou premonições? É impossível sentirmo-nos seguros ao acompanhar o dia-a-dia de Curtis, brilhantemente interpretado por Michael Shannon. Jeff Nichols faz-nos sentir o mesmo que o protagonista, coloca-nos nos seus sonhos, nas suas alucinações, ficaremos tão obcecados como ele. O medo do fim ou o medo de nós mesmos, Procurem Abrigo é um filme para fazer pensar, muito para lá da sala de cinema.



2. Vergonha (Shame), de Steve McQueen, 2011
Sem medo nem pudor, Steve McQueen quis dar-nos a conhecer a Vergonha de um viciado em sexo. Um filme sufocante e incómodo, que está muito longe do erotismo que se poderia prever. Fassbender é também o responsável pela excelente concretização de Vergonha, encarnando de corpo e alma o perturbado Brandon, que trava uma luta contra si mesmo. Não havendo nada que nos possa fazer simpatizar com o protagonista, o certo é que a sua angústia, sofrimento e obsessão pelo prazer,  acabam por   deixar o espectador consternado e verdadeiramente envolvido.



1. Temos de Falar sobre Kevin (We Need to Talk About Kevin), de Lynne Ramsay, 2011
Temos de Falar sobre Kevin é, antes de mais, aterrador. "Alguém pode ser responsável pela maldade do outro?" é uma das muitas questões que irão perdurar depois de assistir a este filme. Inquietante, perturbador, cheio de emoções fortes e com as quais é difícil lidar. Temos de Falar sobre Kevin é de uma grandeza extraordinária, quer pelas sensações e sentimentos que faz despertar, quer pela forma como toda a história de Eva e Kevin é apresentada. Com uma extraordinária interpretação de Tilda Swinton, a longa-metragem de Lynne Ramsay é uma obra-prima que todos deveriam ver.


(As menções honrosas do 11º ao 16º lugares podem ser encontradas aqui.)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Sugestão da Semana #41

Numa semana onde duas estreias se destacam das restantes, a minha sugestão vai para o mais recente filme de Michael Haneke, que já tem crítica no Hoje Vi(vi) um Filme.

AMOR

Ficha Técnica:
Título Original: Amour
Realizadores: Michael Haneke
Actores: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert 
Género: Drama, Romance
Classificação: M/12
Duração: 127 minutos

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Crítica: Amor / Amour (2012)

*9/10*

Tocante, perturbador, mas repleto de Amor, é assim a mais recente longa-metragem de Michael Haneke, que lhe valeu mais uma Palma de Ouro em Cannes. Aqui a máxima do “até que a morte vos separe” é cumprida, e já o sabemos desde os primeiros minutos. Compreendemos, desde logo, que Amor não é para ser visto de ânimo leve e irá mexer com o que há de mais intrínseco em cada um de nós.


Depois das crianças de O Laço Branco, é agora um casal de idosos que protagoniza mais um duro filme do realizador austríaco. Quem conhece Haneke sabe que ele não descansa enquanto não deixa o seu público inquieto. Amor vem, uma vez mais, provar isso mesmo, ao contar a história de Georges e Anne, dois octogenários, cultos, professores de música reformados. A filha, igualmente música, vive no estrangeiro com a família, e passa pouco tempo junto dos pais. Certo dia, Anne é vítima de um acidente e o amor que une este casal será posto à prova.

Michael Haneke vai directo ao assunto desde o primeiro minuto. Sabe-se que o final não é feliz, e é no fim que Amor começa. Mas mais importante do que o fim, é conhecer a relação, e é para isso que recuamos no tempo, para um concerto de música clássica onde os professores reformados estão. O dia a dia de Anne e Georges é-nos apresentado, até ao momento em que a doença de Anne se manifesta. A partir daí, as mudanças na vida e relação de ambos são o centro de tudo. O Amor que é posto à prova e que dá nome a este filme. Por sua vez, o final é um regresso ao início, brilhante e inquietante.

Um argumento que parece tão simples, revela-se muito mais complexo e exigente a cada cena, a cada plano, a cada expressão dos actores. São tantos os sentimentos que estão em jogo em Amor, e não só os das personagens, os nossos também. Qualquer pessoa se irá rever, de uma forma ou de outra, na história que é contada no grande ecrã. É a realidade ficcionada que ali está, e essa consegue ser muito perturbadora.

Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, ali está Georges, “até que a morte os separe”. As mudanças para as quais nunca estaremos preparados acontecem, e o casal protagonista também tem de aprender a lidar com elas. O estado de Anne, que se agrava ao longo do filme, demonstra bem como há lutas dolorosas e infrutíferas. Georges, por seu lado, demonstra uma força excepcional. É ele o símbolo máximo deste Amor, um amor maior do que a própria morte.

Há um vazio crescente e profundo que se sente e estende da casa, espaço onde se passa praticamente toda a acção, a Georges e, claro, a Anne, e que é intensificado pelos planos longos e estáticos de Haneke, tão necessários, que acompanham, lentamente, os nossos pensamentos e recordações ao assistir a Amor. Num filme onde a música que os personagens transpiram constrói todo o ambiente, a música clássica, claro, está presente até nos silêncios.


No elenco dois grandes nomes: Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, com interpretações fabulosas. Riva merece todo o reconhecimento possível pela forma como encarnou Anne, de corpo e alma. Como, sem articular uma palavra, consegue transmitir tantas emoções e sentimentos. Sente-se, em cada cena onde surge, o desgaste físico e emocional que terá sido para a actriz vestir a pele desta personagem. Por seu lado, Trintignant é o motor que faz avançar a acção. O outro lado do sofrimento que ambos vivem, mas também a personificação do amor que sentem. Georges é outra personagem difícil e desgastante e Trintignant oferece-nos uma interpretação magistral.

Isabelle Huppert, com uma presença mais curta no filme é, antes de mais o fruto do amor dos protagonistas, Eva, a filha ausente mas que ama e se preocupa com os pais. A actriz francesa tem, como sempre, um bom desempenho. De destacar ainda, apesar dos poucos segundos em que surge no ecrã (apenas duas cenas), é uma presença portuguesa, Rita Blanco, que tem um pequeno papel como porteira.

Michael Haneke sabe como chegar ao nosso âmago. Amor é um retrato de uma vida a dois, de um amor capaz de salvar, que nos põe cara a cara com a dura realidade que fazemos por esquecer.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Estreias da Semana #41

Cinco são as estreias desta Quinta-feira, com dois filmes muito aguardados a chegar às salas: Amor e Anna Karenina.

Amanhecer Violento (2012)
Red Dawn
Uma pequena cidade do estado de Washington é o alvo principal de uma invasão aos EUA por militares estrangeiros. Inesperadamente, a cidade fica sob ocupação inimiga e os cidadãos são feitos prisioneiros. Determinados a resistir e a lutar, alguns jovens patriotas procuram refúgio nos bosques vizinhos, treinando e reorganizando-se num grupo de guerrilha. Inspirando-se na mascote do liceu, passam a chamar-se Wolverines, sendo a sua missão proteger e resgatar a cidade dos invasores e reconquistar a sua liberdade.

Amor (2012)
Amour
O vencedor deste ano da Palma de Ouro no Festival de Cannes chega, por fim, aos cinemas portugueses. Amor, de Michael Haneke, conta a história de Georges e Anne, dois octogenários, cultos, professores de música reformados. A filha, igualmente música, vive no estrangeiro com a família. Certo dia, Anne é vítima de um acidente e o amor que une este casal será posto à prova.

Anna Karenina (2012)
Anna Karenina é a história de amor adaptada do clássico de Leo Tolstoy por Tom Stoppard. Desenrola-se na Rússia, no final do século XIX, no seio da alta-sociedade e explora a capacidade para amar, que surge através do coração humano, desde a paixão entre adúlteros, à ligação entre uma mãe e o seu filho. Quando Anna (interpretada por Keira Knightley) questiona a sua felicidade, grandes mudanças ocorrem na sua família, amigos e comunidade.

O Chef (2012)
Comme un chef
De França, chega esta semana O ChefJacky Bonnot tem 32 anos e é um amador da alta cozinha, com um talento inato e o sonho de sucesso num restaurante de topo. A sua situação financeira leva-o a aceitar pequenos trabalhos que tem dificuldade em manter, até ao dia em que se cruza com Alexandre Lagarde, um reputado chefe com várias estrelas, cuja confortável situação é colocada em risco pelo grupo financeiro proprietário dos seus restaurante.

Sininho - O Segredo das Fadas (2012)
Secret of the Wings
Esta semana, é Sininho que traz a animação para toda a família às salas de cinema. Juntamente com as suas amigas fadas, parte-se à descoberta do mundo proibido do Bosque de Inverno, onde a curiosidade e a aventura conduzem Sininho à descoberta de um segredo mágico que poderá mudar a sua vida para sempre.