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sábado, 11 de março de 2023

Crítica: Tár (2022)

"If you tell another Adult about this Conversation, they will not believe you. Because I am an Adult."

Lydia Tár

*8/10*

Todd Field regressou à realização, 16 anos depois, com Tár, um filme tenso sobre poder, assédio e música. 

Lydia Tár é "a pioneira maestrina de uma ilustre orquestra alemã. Conhecemos Tár no auge da sua carreira, enquanto se preparara para o lançamento de um livro e para uma extremamente antecipada performance ao vivo da Sinfonia n.º 5 de Mahler. Ao longo das semanas subsequentes, a vida de Tár começa a desenrolar-se de uma maneira singularmente moderna. O resultado é uma abrasadora análise do poder e do seu impacto e durabilidade na sociedade contemporânea".

Todd Field constrói um filme opressivo, com uma forte tensão a pairar, seja pelo ritmo frenético da vida de Lydia Tár, pelos boatos que a assombram, pelos fantasmas mais ou menos reais que lhe passeiam pela casa, ou pelas pontas soltas que a maestrina tem deixado ficar no seu passado.

Com um curriculo fulgurante, Lydia não cria empatia com a plateia, é uma mulher fria, calculista e centrada em si e nos seus prazeres e necessidades - a única excepção é a filha pequena, Petra. Não cativando simpatias, é contudo possível olhá-la de uma forma realista, mais ainda quando surgem acusações de assédio sexual contra si. Uma mulher de poder, que diversas vezes assume o lugar habitualmente associado ao sexo masculino, seja na profissão ou em relação à escola da filha, não espanta que possa assediar subordinadas.

O que torna Tár tão singular é toda a aura, quase metafísica, que paira ao longo da acção e a transformação que Lydia vai sofrendo, até ao final do filme. E aí, Cate Blanchett é magistral. É capaz de encarnar a explosão de emoções da maestrina enquanto dirige a orquestra, mas igualmente quando, dia após dia, vê a sua vida a fugir-lhe do controlo. E eis mais um filme com grandes interpretações femininas - destaque ainda para a contenção de Noémie Merlant, como Francesca, e de Nina Hoss, como Sharon, ambas de alguma forma vítimas da personalidade de Lydia.

Todd Field entra no mundo da música clássica (há que destacar a banda sonora da islandesa Hildur Guðnadóttir a condizer com os clássicos interpretados pela orquestra) para fazer balançar os lugares de poder. Ao mesmo tempo que aborda o assédio, transforma Tár numa espécie de filme de terror para as vítimas e para a protagonista. 

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Sugestão da Semana #547

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca Tár, de Todd Field, com Cate Blanchett no papel principal.

TÁR


Ficha Técnica:
Título Original: Tár
Realizador: Todd Field
Elenco: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Mark Strong, Julian Glover, Allan Corduner, Sophie Kauer
Género: Drama, Música
Classificação: M/12
Duração: 158 minutos

terça-feira, 13 de abril de 2021

Dia Internacional do Beijo: Os Melhores Beijos de 2020

Num ano tão estranho e com tanto distanciamento, será que há beijos cinematográficos a destacar em 2020? 


No Dia Internacional do Beijo, fizemos a selecção possível de alguns dos mais inesquecíveis beijos do passado ano cinematográfico e que pudemos ver entre Janeiro e Dezembro (nos cinemas portugueses e nas plataformas de streaming). 

Franz (August Diehl) e Fani (Valerie Pachner) em Uma Vida Escondida / A Hidden Life


Laurie (Timothée Chalamet) e Amy March (Florence Pugh) em Mulherzinhas / Little Women


Marianne (Noémie Merlant) e Héloïse (Adèle Haenel) em Retrato de Uma Rapariga em Chamas / Portrait de la jeune fille en feu


Sigrit Ericksdóttir (Rachel McAdams) e Lars Erickssong (Will Ferrell) em Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga / Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga 

quinta-feira, 12 de março de 2020

Crítica: Retrato da Rapariga em Chamas / Portrait de la jeune fille en feu (2019)

"In solitude, I felt the liberty you spoke of. But I also felt your absence."
Héloïse



*8/10*

Retrato da Rapariga em Chamas é um quadro vivo de elogio às mulheres, com as personagens femininas a dominar a tela. Céline Sciamma filma a beleza, emancipação e igualdade.

Em 1770, Marianne (Noémie Merlant) é pintora e tem de pintar o retrato de casamento de Héloïse (Adèle Haenel), uma jovem que acaba de sair do convento. Héloïse resiste ao seu destino de esposa, recusando posar. Marianne tem de a pintar em segredo. Apresentada como dama de companhia, observa-a todos os dias.

A descoberta das primeiras paixões, do sexo, do amor e do corpo, o lugar da mulher na História, as dificuldades e os sacrifícios por que passava, tudo faz parte de Retrato da Rapariga em Chamas. Sciamma é audaciosa e usa a câmara da mesma forma que a pintora usa o pincel - ambas fazem uma bonita obra de arte.


A igualdade de género e de classes é outra temática que se encontra em Retrato da Rapariga em ChamasHéloïseMarianne e a empregada Sophie são amigas, tratam-se de igual para igual, trocando até de lugar na ausência da dona da casa - interpretada pela sempre elegante Valeria Golino. E eis mais uma singularidade do filme de Céline Sciamma: as mulheres dominam - os poucos homens que vemos são meros figurantes.

Cria-se um filme de sentimentos e sensações, visual e intimo, muito mais impactante do que possa parecer à primeira vista. Retrato da Rapariga em Chamas fica connosco, as suas ideias e imagens continuarão a fustigar a mente, em compasso com a banda sonora insistente, desconcertante, que acompanha a visualização.

O tema que as mulheres cantam junto à fogueira no festival a que vão as três jovens, dita-lhes o destino - "non possunt fugere" - e elas realmente não podem escapar ao seu fado enquanto mulheres, mesmo que tenham experimentado a felicidade da liberdade durante alguns dias.


Entre a fantasmagoria e o desejo, a câmara de Sciamma deambula pelas divisões daquela casa solitária e pelos vastos campos, compondo os mais bonitos quadros ou os mais ardentes sonhos. A perfeição que Marianne quer alcançar no retrato que pinta é a mesma que a realizadora procura colocar em casa cena, em cada plano. 

Nas interpretações, Adèle Haenel sobressai como Héloïse, entre o ar inocente e angelical e o  coração magoado e enraivecido com o destino que a espera. O desejo de liberdade e a vontade de compreender o mundo que a rodeia dão-lhe brilho. Ao seu lado, Noémie Merlant mostra-se confiante, na pele de Marianne, uma mulher independente e madura, que vive do seu trabalho, numa época em que o casamento parecia imprescindível para alcançar um futuro. A sua química com Haenel é um dos pontos fortes da longa-metragem. Merece destaque ainda a muito jovem Luàna Bajrami, a empregada da casa Sophie, confidente e companheira das outras duas, que passa por uma violenta provação.


Retrato da Rapariga em Chamas é feminino e feminista, clama igualdade e liberdade. É mais uma obra que mostra que nunca se deve parar de lutar pelos direitos das mulheres.