sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Os Melhores do Ano: Top 20 [20º-11º] #2019

2020 já começou, mas há que continuar a fazer o balanço do ano que terminou. Sobre 2019, o Hoje Vi(vi) um Filme apresenta agora o seu top 20 (sempre tendo em conta a estreias no circuito comercial de cinema em Portugal ao longo do ano e estreias Netflix) do que de melhor se fez no cinema. No geral, foi um ano com bons filmes mas poucos realmente inesquecíveis.

Aqui ficam os meus eleitos, do 20.º ao 11.º lugares.


Tudo é inebriante em Hotel Império. Exteriores e interiores distinguem-se pelas cores, o brilho e os muitos paradoxos causados pela alegria dos neons junto aos edifícios antigos em tons escuros. Nas ruas, as sensações são mais que muitas, desde o homem que passeia com a gaiola do seu pássaro - parece saído de outra dimensão - à azáfama do dia-a-dia. As personagens e os bairros são filmados com um encanto que os eleva a algo inatingível, intocável: uma cidade em degradação, a par das personagens, coreografadas na ruína. Ivo M. Ferreira guia-nos numa viagem de sensações e nostalgia a Macau, 20 anos após ter regressado à soberania chinesa. Hotel Império apela à memória e aos sentidos e filma uma realidade tão distante mas com tanto em comum com o passado português. 


Jafar Panahi continua a "cumprir" a pena de 20 anos sem filmar a que foi condenado em 2010, supostamente por fazer propaganda contra o governo iraniano. 3 Rostos é o seu filme mais recente, onde explora o feminismo e a forma como as mulheres continuam a ser tratadas no Irão, em especial em regiões mais isoladas. Ao mesmo tempo, traça um retrato do Irão mais "profundo", numa espécie de road movie, por estradas estreias e sinuosas, em que as buzinadelas funcionam como código entre condutores.


Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos é um hino ao lugar dos indígenas no mundo globalizado e, cada vez mais, egoísta. João Salaviza e Renée Nader Messora realizaram um filme que cruza a ficção e o documental, num registo íntimo e colaborativo, com os actores a fazerem parte da construção da longa-metragem. Os realizadores passaram nove meses a viver em conjunto com os índios krahô, criando uma relação fundamental para que o filme funcione. Numa era em que o respeito pelas comunidades indígenas parece ter retrocedido aos tempos coloniais, o Brasil não aprendeu nada no que toca a honrar os seus habitantes primordiais, os índios brasileiros. Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos é uma obra criada num momento crítico, mas relevante para dar rosto e voz a quem corre sério perigo. 


É visualmente que Vitalina Varela se distingue verdadeiramente. As ruas labirínticas e as casas, que aparentam formatos irregulares, são filmadas de modo a que pareçam quase desproporcionais, num ângulo incómodo, com a luz a assumir o papel principal na nossa percepção (mais do que em filmes anteriores de Pedro Costa). Vitalina Varela é todo ele noite e opressão, mesmo quando acontece de dia. É todo luto, mas com rasgos de sonho e esperança. A iluminação do que realmente interessa destacar é o foco para a vida que cada um encerra em si e tem de continuar. Está longe de ser um filme fácil. Mas envolve como poucos e liga-se a nós com as forças que movem a protagonista, por vários dias, sem cessar, num alerta para muitas das questões que parecem tão longe, mas estão tão perto. 


Vox Lux é um turbilhão de emoções que vai da violência brutal ao âmago da cultura pop e superficialidade. Brady Corbet parte de uma ideia com pontos de contacto com o seu filme de estreia, A Infância de um Líder, onde as crianças têm o comando da narrativa. Mais de metade do filme é-nos contado num tom sóbrio e directo, tenso. Mas os anos passam, Vox Lux avança e a protagonista cresce. O tom muda totalmente, e eis uma explosão de música, cor, neuroses, escândalos e tudo mais que a cultura pop adora.


É na simplicidade e, fundamentalmente, nos protagonistas que Green Book é uma aposta ganha. Um filme que não quer ser mais do que aquilo que é - passa uma mensagem séria e ainda actual, através do humor, com um guião bem escrito e tão bem interpretado. Mahershala Ali e Viggo Mortensen formam uma dupla insuperável. Uma quase inacreditável história de paradoxos, numa viagem que vem quebrar todos os preconceitos e ensinar o respeito. Mais uma lição para os Estados Unidos - e para o Mundo. A prova de como há muito a mudar e de que, se o que neste filme vemos são clichés, é porque estes ainda estão bem vivos nos dias actuais.


Narrado pelo realizador, Campo mune-se de citações de Carl Sagan, Alberto Caeiro ou Franz Kafka, por exemplo. Com as fronteiras entre realidade e ficção muito diluídas, Campo é uma docuficção, que incorre numa série de analogias e dicotomias. Vida e morte, Natureza, Deuses, Homens e Animais, guerra e paz, que se encontram claramente nas tão diversas actividades que acontecem no campo da acção. Campo é aliás uma divagação inquietante sobre a origem de tudo, desde a Terra ao engenho, com planos inesquecíveis, onde até sentimos as pedras que saltam após a força de uma explosão. Há planos onde o homem cai do céu, onde rebanhos surgem fantasmagóricos entre o nevoeiro serrado. Mais um excelente trabalho da direcção de fotografia no cinema português.


Apesar da subjectividade do documentário, Democracia em Vertigem insiste em mostrar-nos os dois lados em que o Brasil se dividiu, qual muro imaginário. A realizadora filma manifestações de apoio à esquerda e à direita, apresenta detalhes da operação lava-jacto, o impeachment de Dilma, a prisão de Lula, a ascensão de Bolsonaro. E, no final, entre a decadência e a desilusão de ver um país em crise, com a liberdade ameaçada, muito passará a fazer um sentido perverso à luz do que sabemos da actualidade política brasileira. O filme é sinónimo da coragem de Petra Costa em confrontar o Brasil e o Mundo com a sua assustadora realidade.


Apollo 11 é uma peça de História. As gravações resgatadas dos arquivos da NASA são adaptadas para o grande ecrã com destreza e ordenadas da melhor maneira para revivermos tudo o que se passou, da Terra à Lua. Uma viagem no tempo e no espaço, realizada por Todd Douglas Miller.


Era uma vez, um homem que marcou a História do Cinema europeu e, de repente, desapareceu... Eis o mote perfeito para levar curiosos a ceder à tentação de resolver o mistério. Lupo é todo o registo de um trabalho de investigação abismal em torno do realizador Rino Lupo, com descobertas fundamentais para reescrever a História do Cinema nacional e europeu. Pedro Lino e a sua equipa, quais detectives particulares, correm a Europa em busca de todas as pistas possíveis que levem à resolução do caso.

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