domingo, 9 de fevereiro de 2020

Oscars 2020: Melhor Filme

A cerimónia dos Oscars 2020 acontece hoje, 9 de Fevereiro, e nada melhor do que uma breve análise aos nomeados. São nove os candidatos na corrida para Melhor Filme, sete deles com muita qualidade, outro com grandiosidade técnica e poucas emoções e, por último, um filme que nem nomeado deveria ter sido. Mas é tudo uma questão de opinião. Aí ficam os nomeados, por ordem de preferência.


É o meu favorito dos nomeados, não tenho vergonha de admitir. Não foi por acaso que venceu o Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza. Haja coragem e talento para agarrar numa personagem destas e dar-lhe um background digno, que a justifique enquanto pessoa que podia bem ser real e não apenas ficção. Joker é uma alegoria ao mundo moderno: individualista, mordaz, que vive de aparências. Esqueçam os heróis. Em Joker, só há vilões, com e sem máscara de palhaço. Há uma agonia permanente desde o primeiro plano do filme de Todd Phillips. A angústia por ver ao que tudo chegou, por perceber como a sociedade trata os mais frágeis, com ausência de justiça ou lei; mas principalmente, por encontrarmos tantas semelhanças com o actual Mundo real. 


Espero, sinceramente, que Parasitas consiga vencer o grande prémio da noite, mas a competição é forte. A luta de classes evidencia-se com o humor negro a cumprir um papel essencial no decorrer dos acontecimentos. Enquanto os ricos precisam dos pobres para servi-los, os pobres precisam desse trabalho para sobreviver e, enquanto isso, os Kim sonham com uma vida melhor, em sair da cave, com poucas condições, onde têm vivido. Mas quando tudo se começa a desmoronar, uma desgraça nunca vem só. Parasitas traz consigo uma dura crítica social, um incómodo latente, especialmente cruel. Os momentos de humor disfarçam a culpa que a plateia carrega por não conseguir escolher um lado. Todos têm sonhos e todos querem sobreviver.


Clássica e feminina, Greta Gerwig emancipou-se a par das suas Mulherzinhas, numa adaptação cinematográfica especialmente bem concretizada. Os papéis importantes estão nesta história destinados às mulheres - ao contrário do que ainda hoje continua a acontecer na sociedade real -, as personagens masculinas dependem de uma maneira ou de outra destas mulheres para viverem ou serem felizes. Esta constatação é irónica, mais ainda quando todas as personagens femininas têm um carácter muito mais forte e complexo que os homens. Alcott fê-lo há quase dois séculos, Gerwig reafirma-o, mostrando uma imensa maturidade e respeito pela obra que adapta, afirmando-se como uma das grandes realizadoras da actualidade.


Martin Scorsese é um mestre a contar histórias e adora um bom enredo de mafiosos. Agora na terceira idade, juntou os seus bons rapazes e outros tantos compinchas e fez um filme à medida da sua experiência: tão genial como comedido. Mudam-se os tempos, não se mudam os costumes nem o espírito. Há apenas mais ponderação. O Irlandês é  um filme sobre escolhas e solidão. E sobre uma vida passada com a morte sempre por perto.


Le Mans '66: O Duelo é mais uma homenagem a Ken Miles, mas acompanha com adrenalina e emoção a competitividade feroz entre Ford e Ferrari. James Mangold consegue humanizar os desportos motorizados e, inesperadamente, fá-los mexer com os sentimentos da plateia.O realizador faz a acção fluir com entusiasmo, num trabalho técnico impressionante e dois protagonistas de peso: Matt Damon e Christian Bale - num grande desempenho, que muito dignifica o piloto.


Quentin Tarantino gosta de fazer justiça pelas próprias mãos, isso já sabemos - e gostamos. Em Era Uma Vez... Em Hollywood, o realizador baseia-se pela primeira vez em acontecimentos reais para criar a sua história, num tributo a uma época menos dourada de Hollywood.  Misturando personagens reais a fictícias, o cineasta cria a sua versão da História do ano 1969. Sentimos que este nono filme de Tarantino quer ser mais um retrato de uma época, do que um marco da criatividade do seu criador.


Marriage Story, de Noah Baumbach, respira teatro por todos os poros; é filmado como se estivéssemos a ver os actores moverem-se num palco... A temática pesada é apresentada com leveza, proporcionada pelo humor, contrabalançada por diálogos intensos e emotivos - com grande trabalho dos protagonistas -, com muitas das marcas a que o realizador já nos habituou na sua filmografia. Fica a sensação que Marriage Story resultaria estrondosamente bem numa adaptação teatral, mais do que cinematográfica.

1917 estará longe de marcar a História dos filmes de guerra. É muito "style over substance", mas não desdenhemos do trabalho de Sam Mendes e Roger Deakins: 1917 é tecnicamente exímio, só não chega para ganhar a batalha.

Taika Waititi tenta ser espirituoso, com um humor leve - muitas vezes repetitivo -, e consegue despertar algumas gargalhadas, mas o tom do filme é inconstante e sem foco. Não transmite nada de verdadeiramente único ao espectador, não espicaça o regime que critica como poderíamos esperar, e nenhuma relação - nem entre mãe e filho, nem entre as crianças - é emotiva ou forte.

4 comentários:

Belinha Fernandes disse...

Não vi todos, não posso apostar, mas Parasite, para mim, é mais bem conseguido que Joker em muitos aspectos. Gostei muito do Joker, mas comparando, não tenho dúvidas. Há anos que não vejo a cerimónia em directo, vai ser hoje. Espero que Parasite arrecade prémios e Joaquin o Oscar que já devia ter levado com The Master. The Marriage Story, também vi, excelente homenagem à Broadway, com um argumento muito bem escrito, que também podia ser premiado, e uma demonstração do potencial de Adam Driver. O filme do Tarantino, que, por sua vez, também é homenagem ao cinema e seus protagonistas, é também muito bom e bem mais maduro do que alguns dos excessos anteriores que tanto o definiram. Penso que poderão registar-se surpresas.

Inês Moreira Santos disse...

Por muito que adore o Joker eu esta noite estou a torcer muito pelo Parasitas. Espero mesmo que consiga vencer o grande prémio. :) Vamos lá ver se a Academia não desilude... :)

Belinha Fernandes disse...

Olá Inês! E então? O que achaste da noite? Adorei ver o Parasite a ganhar todos aqueles prémios. Quando ganhou a realização pensei que podia conseguir. Foi histórico! Espero que as pessoas comecem a descobrir este realizador, tem outros filmes muito interessantes e é uma simpatia.

Inês Moreira Santos disse...

Belinha, o final da noite foi uma emoção. Nunca perdi a esperança! :D Foi finalmente uma cerimónia em que se fez justiça e História! :D Hajam mais assim.