segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Os Melhores do Ano: Top 20 [20.º - 11.º] #2020

2021 já começou, e há que fazer o balanço do estranho ano que terminou. O atípico e desolador 2020 tirou-nos muita coisa, e uma delas foi o Cinema - salas fechadas vários meses, produções adiadas ou com estreia apenas no streaming, etc. Apesar de todos os constrangimentos, conseguimos reunir qualidade cinematográfica suficiente para fazer o Top 20 de 2020 do Hoje Vi(vi) um Filme, sempre tendo em conta as estreias no circuito comercial de cinema em Portugal ao longo do ano e nas plataformas de streaming.

Esta metade do top dos melhores do ano reúne um número assinalável de filmes com uma forte componente feminina e feminista, bem como diversos casos de luta por justiça. Aqui ficam os meus eleitos, do 20.º ao 11.º lugares.


20. Ordem Moral (2020), Mário Barroso

Ordem Moral, de Mário Barroso, é um elogio a uma mulher que desafiou o seu tempo. Um exemplo de emancipação e feminismo numa época de turbulência social e política - e mesmo de saúde pública, com a gripe espanhola a fazer vítimas, numa imprevisível analogia aos dias que vivemos. Grande interpretação de Maria de Medeiros.


19. J'accuse - O Oficial e o Espião (2019), Roman Polanski

Polanski transpõe para o grande ecrã um famoso caso de escândalo político, retratando sem receios e com crueza o preconceito da época em relação aos judeus - como o próprio realizador -, a humilhação a que Dreyfus foi exposto e a investigação de Picquart e posterior perseguição política. J'accuse é um registo ficcional de um escândalo da História da França, mas também um elogio aos que clamam por justiça e não se deixam corromper.


18. O Caso de Richard Jewell / Richard Jewell (2019), Clint Eastwood


O Caso de Richard Jewell é um retrato relativamente fiel de um caso que envergonhou os Estados Unidos da América. É feita uma crítica ao Governo, forças de segurança e imprensa norte-americanos e este alerta não se cinge aos órgãos de poder, mas a toda uma sociedade que vive do imediato - se era assim em 1996, imaginemos nos dias que correm, com fake news à mistura... E é Clint Eastwood a provar que a idade é só um número.


17. O Caso Collini / The Collini Case (2019), Marco Kreuzpaintner

O Caso Collini, de Marco Kreuzpaintner, recupera os fantasmas do nazismo num policial inspirado no livro de Ferdinand Von Schirach. Para além da análise histórica, o filme leva-nos numa investigação profunda e dá-nos uma lição cinematográfica de direito, com grandes momentos de tensão em tribunal.


16. Vivarium - A Tua Casa. Para Sempre (2019), Lorcan Finnegan

Vivarium - A Tua Casa. Para Sempre é um filme cínico e claustrofóbico, que toma proporções maiores na época em que vivemos. Lorcan Finnegan cria uma realidade aprisionada num labirinto sem fim, qual escape room. É perturbador e difícil de digerir pelos sentimentos que faz despertar. Menos inesperado do que parece, é também muito mais audaz e profundo, tal como as camada que contam a sua história.


15. Mulherzinhas / Little Women (2019), Greta Gerwig

Os papéis importantes estão nesta história destinados às mulheres - ao contrário do que ainda hoje continua a acontecer na sociedade real -, as personagens masculinas dependem de uma maneira ou de outra destas mulheres para viverem ou serem felizes. Esta constatação é irónica, mais ainda quando todas as personagens femininas têm um carácter muito mais forte e complexo que os homens. Alcott fê-lo há quase dois séculos, Gerwig reafirma-o. Estas mulheres são artistas, de ideias claras e informadas, e o seu discurso prova-o.


14. The Cave (2019), Feras Fayyad

Em plena guerra da Síria, medo e sustos são constantes e, por muitos meses que passem, o som das bombas continua a atormentar quem ali trabalha, mesmo que já faça parte da rotina. Feras Fayyad filma a verdadeira vocação e dedicação. Médicos e enfermeiros que não arredam pé daquele hospital debaixo de fogo, eles resistem e nunca se darão por vencidos.


13. Retrato da Rapariga em Chamas / Portrait de la jeune fille en feu (2019), Céline Sciamma

Retrato da Rapariga em Chamas é um quadro vivo de elogio às mulheres, com as personagens femininas a dominar a tela. Céline Sciamma filma a beleza, emancipação e igualdade.


12. O Fim do Mundo (2019), Basil da Cunha

Basil da Cunha faz de O Fim do Mundo um ciclo de vida e morte, um ritual de despedida, qual cortejo fúnebre, onde filma rostos, de olhos tristes que fixam a câmara - ou nos fixam a nós - e connosco ficam para a eternidade, muito para além do dia em que as retroescavadoras apagarem as memórias físicas de uma vida construída no bairro da Reboleira.


11. Martin Eden (2019), Pietro Marcello

Do mar para as letras, Martin Eden é uma história de luta e superação, de paixões proibidas, mas acima de tudo, uma reflexão sobre a sociedade e o individualismo, entre discursos políticos de desconstrução de ideologias. Mas o filme de Pietro Marcello vai mais além. Filmado em 16mm e recorrendo a imagens de arquivo, faz um elogio ao Cinema enquanto arte.

1 comentário:

Coisas de Feltro disse...

Da lista vi o filme "Mulherzinhas". Adorei, já conhecia uma das versões (a de 1949) mas falta-me ler o livro.

Coisas de Feltro