Para finalizar a análise aos nomeados, eis as dez longas-metragens na corrida para o Oscar de Melhor Filme. Há dois filmes muito bons - ambos merecedores da estatueta -, seguidos de perto por outros dois; mais alguns títulos acima da média e um que não deveria constar nesta lista. Sente-se a ausência de mais filmes de qualidade como The Lost Daughter ou The Card Counter, que poderiam ocupar alguns dos lugares da lista de nomeados de 2022.
Quem vota são os membros da Academia, mas o Hoje Vi(vi) um Filme não deixa de ter os seus eleitos. Eis os nomeados para o Oscar de Melhor Filme, por ordem de preferência.
O Poder do Cão está repleto de subtexto, desconstruções subliminares e uma sexualidade latente, com muito para absorver para além da visualização do filme. Excelente regresso de Jane Campion, com uma obra que, na aparente simplicidade de um western, cria um turbilhão de tensões e desejos reprimidos.
As três horas de filme propõem reflexão, introspecção e, todavia, nunca monotonia. Se, por um lado, uma morte precoce vem mudar a vida de várias personagens e o foco da acção, por outro, o Teatro - o texto e as palavras - tem um papel central na exorcização dos fantasmas que se teima em não deixar partir. Entre o teatro e o cinema, mas igualmente entre o espiritual e o terreno, Drive My Car é uma obra introspectiva e de sentimentos complexos, que leva a plateia numa viagem de entrega e partilha, conduzida por Misaki mas iniciada por Yûsuke.
Licorice Pizza é uma viagem jovial e vibrante aos anos 70. Paul Thomas Anderson parte de vivências suas e do contexto da época e cria um filme que, conduzido pelas hormonas da adolescência e dos primeiros amores, percorre as mais inesperadas aventuras entre o universo cinematográfico, dos negócios e da política.
Denis Villeneuve anuncia a chegada do Messias em Duna, um filme que serão dois, e no qual colocou toda a sua dedicação e esmero. Os acontecimentos são apresentados com clareza, bem como a história de Paul Atreides e do planeta Arrakis, seus habitantes e forasteiros. O realizador não mostra receios em avançar com Duna e está decidido a "preservar" a história original.
Belfast traz os conflitos de 1969, na Irlanda do Norte, através dos olhos de uma criança. Kenneth Branagh inspira-se na sua própria experiência para criar um universo de sonhos e medo, aventura e incerteza, na agitada vida de Buddy, um menino de nove anos, e de todos os que o rodeiam. Através da inocência do protagonista, Branagh explora a incompreensão das crianças - e de muitos adultos - acerca de um conflito adensado por diferenças religiosas; a escalada de violência e ameaças; a impossibilidade de ser-se neutro num bairro que sempre viveu em comunhão; tudo enquanto Buddy vive a experiência do seu primeiro amor.
CODA é uma obra simples e melodramática, que propõe uma reflexão séria sobre as dificuldades que a população surda enfrenta no que toca à integração, justiça e independência; mas igualmente põe em cheque o comportamento da sociedade, que não faz o suficiente para acolhê-la. O elenco de CODA é a prova viva de que basta uma oportunidade para mostrar o valor que cada um tem em si e alcançar a merecida notoriedade e reconhecimento.
Neste West Side Story "moderno", há menos coreografias, mas mais tempo e espaço para algum desenvolvimento emocional das personagens, sendo que quase todos os protagonistas têm um background bem definido, que justificará muitas dos actos que vêm a tomar ao longo da trama. Ao mesmo tempo, e apesar do racismo já latente na história original, o filme de Spielberg quebra alguns clichés (e tabus da época): os vândalos são os Jets, os Sharks são estudantes e trabalhadores, esforçados para melhorar as suas condições de vida; a transexualidade (ou género não-binário) de Anybodys é abordada com maior impacto; e até mesmo a multiculturalidade da cidade, que vai muito além dos porto-riquenhos e dos supostos Jets "nativos", são alguns dos elementos que tornam o filme mais actual em costumes.
Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas não faz ressurgir um Guillermo del Toro primordial; longe da sua criatividade, o realizador tira o melhor partido de uma história que o intriga e explora os pontos que mais o inspiram: as macabras atracções circenses, o passado e a personalidade dúbia de Stanton, a psiquiatra femme fatal e todo o misticismo em torno da vida de enganos do protagonista. Explora as crenças e a questão metafísica, os traumas que assombram Stan, em sonhos e na realidade, bem como a sedução do dinheiro e dos vícios.
Longe de ser memorável, King Richard: Para Além do Jogo presta uma merecida homenagem à família Williams e ao exemplo que a ascensão e conquistas das duas irmãs tenistas pode ser para todos os que lutam pelos seus sonhos, seja qual for a sua origem. A união da família, sob o comando do pai, é o motor que faz com que Venus e Serena nunca desistam dos sonhos, com dedicação constante.
A crítica mordaz que tem caracterizado os últimos filmes de Adam McKay esmoreceu neste disaster movie; já a sua subtileza é agora a mesma que a de "um elefante numa loja de porcelanas". Não Olhem Para Cima faz um gritante anúncio do fim do mundo e, por mais que os cientistas tentem, ninguém quer saber do que eles dizem. Um filme que tem dividido opiniões e, definitivamente, não deveria estar nesta lista de nomeados.
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