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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Os Melhores do Ano: Top 20 [10º-1º] #2018

Depois da primeira parte do TOP 20 de 2018 do Hoje Vi(vi) um Filme, revelo agora os dez lugares que faltam. A ordem poderia ser outra pois, para mim, estão todos muito equilibrados, em especial os cinco primeiros. Eis os meus 10 favoritos de 2018 (estreados no circuito comercial de cinema - e Netflix - em Portugal).

10. Aniquilação (Annihilation), de  Alex Garland, 2018



Aniquilação leva-nos a mergulhar entre alucinações, pesadelos, mutações, ecos e as misteriosas tatuagens, seres em mutação, na descoberta de uma dimensão que não parece ser a que conhecemos. O objectivo é só um, chegar ao farol - o foco do Brilho - e voltar para contar a história. Nesta jornada vamos também perceber que a diferença entre destruição e criação não é assim tão grande.

9. Mudbound - As Lamas do Mississipi (Mudbound), de Dee Rees, 2017



Para começar, Mudbound é uma história que aborda o racismo nos EUA, mas também a guerra e os seus traumas. Jamie e Ronsel são dois excelentes exemplos de veteranos de guerra que não estão felizes por regressar. Por outro lado, os cenários estão a condizer com o estado de espírito de quem ali vive e se sente a afundar na lama, de castanho até perder de vista. Tão semelhante à mentalidade racista de muitos, à falta de esperança de outros, à submissão, ao machismo, à intolerância. Depois da guerra, Jamie e Ronsel não pertencem ali, respiram progresso e liberdade - a mesma pela qual lutaram em terra e no ar.

8. Três Cartazes à Beira da Estrada (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), de Martin McDonagh, 2017



A violência policial, actos irreflectidos, arrependimentos e relações familiares são alguns dos temas que constroem a história amarga e de desesperança que McDonagh nos conta - e que belo contador de histórias. Três Cartazes à Beira da Estrada fala de luta, revolta, batalhas infrutíferas, preconceitos, impunidade, onde, no meio do drama, surge o humor inusitado, sarcástico. Afinal, há que rir da própria desgraça.

7. Dogman, de Matteo Garrone, 2018



Matteo Garrone regressa ao âmago da sua Itália, numa construção que denuncia a decadência do país, de pessoas e lugares. Um alerta, violento e cheio de paixão pela arte. Dogman é uma espécie de western dos tempos modernos.

6. Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões (Manbiki kazoku), de Hirokazu Koreeda, 2018



A sensibilidade da lente de Hirokazu Koreeda é eficaz ao ligar-nos às personagens - nenhum é bom ou mau, coabitando numa dualidade que os torna verdadeiramente reais -, e produz o choque natural que surge aquando das revelações. E eis que questionamos a justiça e a moral, seremos juízes sem poder de decisão, encontraremos os nossos culpados que, se calhar, não serão os ladrões. Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões revela-se uma obra como já poucas se fazem, tão doce como cruel. É para sentir texturas, planos, gestos, dilemas e emoções.

5. Feliz Como Lázaro (Lazzaro felice), de Alice Rohrwacher, 2018



Eis iniciada mais uma fábula de encantar, uma metáfora de várias situações dos dias de hoje, ainda mais numa Itália com o momento político actual. Olhamos para Feliz Como Lázaro através dos olhos do protagonista, um jovem com uma inocência de criança no corpo de um homem sem tempo. Alice Rohrwacher sugere-nos a esperança na bondade humana, sem, no entanto, nos deixar sonhar muito alto, num mundo altamente corrompido e onde resta pouco amor para partilhar. Fica a expectativa de que existam mais Lazzaros por aí e que não os deixemos desaparecer. 

4. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place), de John Krasinski, 2018



Silêncio. A tensão aumenta a cada pequeno barulho, a cada passo em falso e até na plateia ninguém se atreve a mexer muito. De olhos (e ouvidos) fixos no ecrã, Um Lugar Silencioso traz o silêncio de novo às salas de cinema. E que bom que é! Nesta história de tensão, terror e coragem, o suspense vence o medo, mas os dois andaram de mãos dadas.

3. Linha Fantasma (Phantom Thread), de Paul Thomas Anderson, 2017


Linha Fantasma absorve o perfeccionismo de um artista que vive apenas para a sua criação. Quando o amor chega, os dois lutam por espaço na sua vida. Daniel Day-Lewis hipnotiza-nos e ensina-nos que só quando está de caras com a morte é que o Homem vive.

2. No Coração da Escuridão (First Reformed), de Paul Schrader, 2018



Que estocada no meu sossegado íntimo cinéfilo, que desconforto e vício, que bom voltar a sentir-me viva e em conflito numa sala de cinema. Paul Schrader ensina-nos como com pouco se faz muito e aponta as câmaras ao que realmente interessa, as personagens e o seu conflituoso e perturbado interior. Num misto de desespero, obsessão, coragem e esperança, No Coração da Escuridão constrói-se e desabrocha numa jornada de decisões e acontecimentos inesperados. Toca em temáticas fulcrais da forma menos usual, sejam as crises de fé, o luto, o activismo ou os interesses económicos acima de tudo o resto. Nada aqui é cliché, nem simples, nem demasiado complexo. É um trabalho desconfortável mas muito intenso, inteligente e absorvente. O filme não nos irá deixar em paz, nem dormir sossegados.

1. Cold War - Guerra Fria (Zimna wojna), de Pawel Pawlikowski, 2018


Do tradicional ao jazz, percorremos diversos géneros musicais ao acompanhar duas vidas de frustrações e desencantos. A liberdade ocidental que Wiktor ambiciona entra em choque com a tranquilidade e simplicidade a que Zula está habituada, mas eles não são capazes de viver um sem o outro, nem um com o outro. A Guerra Fria, suas fronteiras e ideologias políticas, criam e separam este amor impossível. E desgastam mais as personagens do que o sentimento, que se mantém inabalável anos a fio. Um filme esteticamente irrepreensível, apaixonadamente doloroso, porque o amor é assim.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Os Melhores do Ano: Top 20 [20º-11º] #2018

2019 já começou, mas estamos sempre a tempo de fazer o balanço do ano que terminou. Sobre 2018, o Hoje Vi(vi) um Filme apresenta, como de costume, o seu top 20 (sempre tendo em conta a estreias no circuito comercial de cinema em Portugal ao longo do ano e estreias Netflix) do que de melhor se fez no cinema.

Aqui ficam os meus eleitos, do 20º ao 11º lugares.

20. O Primeiro Homem na Lua (First Man), de Damien Chazelle, 2018


A alma de O Primeiro Homem na Lua vive da sensibilidade que se ganha com a utilização da película. 16 mm nos planos mais claustrofóbicos, dentro das naves espaciais - uma autêntica viagem no tempo -, onde alcançamos grande proximidade com as personagens; 35 mm quando as personagens têm os pés bem assentes na Terra, convivem ou estão com as famílias, fazendo-nos tirar o máximo partido das imagens; 65 mm quando o Homem chega à Lua, para dela desfrutarmos na sua plenitude - planos a condizer com a imensidade do espaço. Eis que as texturas dão vida ao filme, despertam os sentidos e mostra ao mundo como a película vive, cada vez mais, para proporcionar experiências que se pensavam já perdidas em cinema. Está viva e recomenda-se - até já chegou à Lua.

19. Carga, de Bruno Gascon, 2018


Um thriller onde as mulheres são vítimas mas igualmente heroínas, Carga é uma surpresa violenta e bem concretizada, com um leque de actores que dão tudo de si. Um filme cheio de girl power, que realça as mulheres como grandes lutadoras que são, Carga marca uma nova etapa no cinema português, com um certo activismo latente, numa denúncia acesa da violência que é o tráfico humano, sem receios, nem tabus.

18. The Florida Project, de Sean Baker, 2017


The Florida Project explode num contraste de cores vivas e alegres a lembrar os castelos da vizinha Disney, com a paradoxal realidade decadente e infeliz, onde são as crianças que ainda a iluminam. Há um retrato sócio-económico indissociável desta longa-metragem, que dá a conhecer este outro lado da Disney World, onde a pobreza e o desencanto espreitam. A fantasia, os sonhos, os riscos que não existem para crianças de seis anos, a vontade de explorar, a ausência de vergonha para pedir uns trocos e dividir um gelado, a linguagem vulgar de adultos que sai como farpas da boca de crianças. São estes os encantos do naturalismo com que Sean Baker filma.

17. A Forma da Água (The Shape of Water), de Guillermo del Toro, 2017


Guillermo del Toro é inspirador. Voltou a sê-lo. Por muitas influências (demasiadas, por vezes) que A Forma da Água possa ter, o cineasta é capaz de criar um filme com identidade própria e com características que denunciam claramente a sua autoria - um misto de doçura, fantasia e violência.

16. Gatos (Kedi), de Ceyda Torun, 2016


Um filme dedicado aos gatos de Istambul e a todos os cidadãos que os amam e cuidam, só pode ser especial. Inesperadamente, somos apresentados aos milhares de gatos da cidade turca, e queremos ser teletransportados para lá, o que Gatos faz especialmente bem. Um documentário fabuloso, ternurento e a prova viva de que o património de uma cidade vai muito para lá do inanimado.

15. BlacKkKlansman: O Infiltrado (BlacKkKlansman), Spike Lee, 2018


A partilha de identidade entre o polícia negro e o polícia branco desencadeia os momentos mais bem concretizados do filme, com Adam Driver a destacar-se no papel do judeu, que pouco se importa com as suas raízes, até se confrontar com o ódio desmedido. Há uma tomada de consciência que Driver sabe incorporar com realismo. Ao seu lado, John David Washington sai-se bem num papel, acima de tudo, divertido, e apresenta um homem que desafiou preconceitos e se assumiu tão ou mais capaz que os outros. O respeito conquista-se e Ron Stallworth mostra isso mesmo.

14. Colo, de Teresa Villaverde, 2017


A adolescência é, mais uma vez, o foco de Teresa Villaverde, que a explora tendo como ambiente a crise económica e os problemas de uma família. Mas tudo extrapola o mais comummente associado a estas temáticas. A beleza e significância de Colo adivinham um rejuvenescimento de coragem e esperança, mas sempre alerta. Não será talvez um filme fácil, mas é profundo, mágico, num bonito retrato da protagonista, Marta. Ela precisa de Colo, sem dúvida.

13. Ilha dos Cães (Isle of Dogs), de Wes Anderson, 2018


Mensagens a retirar desta longa-metragem não faltarão. Das ecológicas às sócio-políticas. Revoltemo-nos contra quem maltrata ou abandona animais. Revoltemo-nos igualmente contra todos aqueles que colocam as vidas dos outros em suspenso, um pouco por todo o mundo real, dominado por extremistas e ditadores disfarçados. Revoltemo-nos e mostremos que também somos capazes de lutar como os protagonistas. Ilha dos Cães deve ser visto e sentido, com coração e cabeça, com amor e justiça.

12. Roma, de Alfonso Cuarón, 2018


As influências de Cuarón vão surgindo em Roma, bem como sinais premonitórios de acontecimentos futuros vão sendo subtilmente lançados ao longo do filme. E assim se constrói uma longa-metragem que é uma memória de infância filmada pelos olhos da criança que se tornou adulta, muito intima para o realizador e emotiva (em muitos aspectos) para o público. Roma não é a obra-prima que podia ser, mas oferece fabulosas sensações visuais e outras tantas muito emocionais. As mulheres sofrem, mas são elas as heroínas da história - e das crianças.

11. Nunca Estiveste Aqui (You Were Never Really Here), de Lynne Ramsay, 2017


O estilo da realizadora é cruel, com um ambiente que pode fazer lembrar um filme de terror, e personagens complexas. Joe é o nosso foco. Um homem adulto, cheio de traumas e de poucas palavras - tal como o filme, onde as imagens falam por si. As cicatrizes no corpo são testemunhos de um passado complicado, assim como os comportamentos suicidas e os pesadelos que não o largam. Afinal, ele exerce esta "profissão" numa espécie de acerto de contas com o passado. Joaquin Phoenix é fabuloso, sendo já habituais os seus excelentes desempenhos de personagens perturbadas. Mas o actor consegue sempre ir mais além e transfigura-se de tal forma que o realismo toma conta dele.