domingo, 30 de junho de 2024

Sugestão da Semana #620

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca A Besta, de Bertrand Bonello, com Léa Seydoux.

A BESTA


Ficha Técnica:
Título Original: La bête
Realizador: Bertrand Bonello
Elenco: Léa Seydoux, George MacKay, Kester Lovelace, Julia Faure, Guslagie Malanda, Dasha Nekrasova, Martin Scali
Género: Drama, Romance, Ficção Científica
Classificação: M/14
Duração: 146 minutos

sábado, 29 de junho de 2024

Curtas Vila do Conde 2024 apresenta programa completo

O Curtas Vila do Conde revelou a programação completa para a sua 32.ª edição, que acontece de 12 a 21 de Julho.

A Competição Nacional do festival "volta a sublinhar a vitalidade, diversidade e energia de várias gerações de cineastas, alguns em estreia e outros já muito bem conhecidos pelo público", refere a organização em comunicado. Entre os filmes seleccionados encontram-se obras de realizadores com Isadora Neves Marques, Inês Lima e Daniel Soares, todos estreados mundialmente em Cannes. Pela primeira vez em competição no festival, estarão filmes de Rita M. Pestana, Patrícia Neves Gomes, Frederico Mesquita, Sofia Borges, Margarida Assis e Maria Trigo Teixeira. De regresso estão Margarida Vila-Nova, Pedro Caldas, Alexandra Ramires e Laura Gonçalves (melhor curta em Annecy), Luís Costa, Mário Macedo, Joana Nogueira e Patrícia Rodrigues.

Percebes, Alexandra Ramires e Laura Gonçalves

Na Competição Internacional do Curtas, destacam nomes como Nebojša Slijepčević (vencedor em Cannes, com The Man Who Could Not Remain Silent), Frank Sweeney (premiado em Roterdão, com Few Can See), Ilir Hasanaj (premiado em Roterdão, com Workers’ Wings) e Eric K. Boulianne (premiado em Locarno por Making Babies). Entre os realizadores já conhecidos do público do Curtas, estão Torill Kove (Maybe Elephants), Samir Karahoda (On the Way), Florence Miailhe (Papillon), Nina Gantz (Wander to Wonder), Nicolas Keppens (Beautiful Men), Corina Schwingruber Ilić (Been There) e Elena López Riera.

Entre os filmes experimentais, há 23 em competição, com destaque para nomes como Miranda Pennell, Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, Rainer Kohlberger, Siegfried A. Fruhauf, Kevin Jerome Everson, Rita Morais, Nicolas Gebbe ou J.P. Sniadecki, entre outros.

Já anunciados estavam os focos nas obras de Bertrand Mandico e Elina Löwensohn, Alberto Vázquez, Laura Ferrés Yorgos Zois, o programa em diálogo com a Solar - Galeria de Arte Cinemática da autoria de Morgan Quaintance e várias propostas de cine-concertos do Stereo, a que se junta ainda uma programação dedicada a famílias (Curtinhas) e uma competição de filmes de escola:  Take One!. Destaque ainda para a exibição de Estamos no Ar, primeira longa-metragem de Diogo Costa Amarante, e para todo o programa de conversas do festival, que promove um encontro mais próximo entre o público e os cineastas. 

Mais informações sobre o Curtas Vila do Conde 2024 em https://www.festival.curtas.pt/

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Estreias da Semana #620

Esta Quinta-feira, chegam aos cinemas portugueses sete novos filmes. A Besta, Gru O Maldisposto 4 Um Lugar Silencioso: Dia Um são algumas das estreias.

A Besta (2023)
La Bête
Num futuro próximo em que a inteligência artificial reina suprema, as emoções humanas são consideradas uma ameaça. Para se livrar delas, Gabrielle deve purificar o seu ADN: mergulha assim em vidas anteriores, onde encontra Louis, o seu grande amor. Mas é dominada pelo medo, um presságio de que a tragédia está próxima.

A Doce Costa Leste (2023)
The Sweet East
Uma aluna do último ano do liceu da Carolina do Sul tem o seu primeiro vislumbre do mundo. Insatisfeita, a adolescente realiza uma viagem surrealista e pitoresca pela costa leste dos Estados Unidos. Durante esta jornada iniciática, Lillian (Talia Ryder) conhece segredos obscuros, cultos extremistas e algumas personagens fascinantes.

À Mesa da Unidade Popular (2024)
A Mesa da Unidade Popular, com as suas seis cadeiras, fazia parte da Mobília da Unidade Popular que, no período pós-Independência socialista, o Estado moçambicano pretendia atribuir a todas as famílias. Um conceito que reunia a ideia socialista de igualdade, bem-estar e justiça social com o conceito de Unidade Nacional, pressuposto básico da Frelimo para a Independência e desenvolvimento harmonioso do País. A Mesa da Unidade Popular voltou a ser, neste filme, o lugar onde convergiram histórias, memórias e testemunhos, nesta Mesa voltámos a sentar-nos, para revisitar o processo de construção de uma Nação e da utopia partilhada da construção de uma sociedade mais justa. Cada um de nós com sua identidade e sua cultura, a sua forma única e diversa de ser moçambicano.

Gru O Maldisposto 4 (2024)
Despicable Me 4
Gru, Lucy, as pequenas Margo, Edith, Agnes e bebé Gru Jr., que tem fortes intenções de atormentar o seu pai, enfrentam um novo vilão, Maxime Le Mal e a sua namorada Valentina, que obrigam a família a fugir. 

Hammarskjöld - Luta Pela Paz (2023)
Hammarskjöld
Estamos em 1961, no auge da Guerra Fria, e Dag Hammarskjöld é Secretário-Geral da ONU há sete anos. A seguir à descolonização, encarrega-se de levar a paz aos países africanos, frustrando os planos dos poderosos empresários e líderes mundiais que pretendem explorar ainda mais os recursos naturais do continente. A vida do Secretário-Geral sofre uma reviravolta quando o seu velho amigo Peter aparece em Nova Iorque. Dag apercebe-se de que perdeu parte importante da vida e começa a questionar a sua visão do mundo. Quando soldados das forças de manutenção da paz da ONU são mortos no Congo, Dag não vê outra forma senão impor a ordem por meio de novas medidas e conduzir as tropas da ONU na sua primeira missão de combate. A bordo de um avião, numa derradeira tentativa de negociar um cessar-fogo, está consciente do perigo da missão.

O Clube dos Milagres (2023)
The Miracle Club
Lourdes, cidade rural no sopé dos Pirenéus franceses, tornou-se conhecida como um lugar de milagres que atrai, todos os anos, seis milhões de visitantes de todo o mundo. Na Irlanda, em 1968, Ballygar é uma comunidade nos arredores de Dublin que marcha ao seu próprio ritmo, agitado e emotivo, enraizado em tradições de lealdade, fé e união. É uma comunidade dinâmica numa batalha constante para viver o melhor possível, com muito pouco. A oportunidade de escapar às lutas quotidianas é um sonho quase impossível, especialmente para as mulheres. Só lhes resta um sonho tentador de saborearem a liberdade longe da vida doméstica: ganhar uma viagem de peregrinação à sagrada cidade francesa de Lourdes, com todas as despesas incluídas. Com algumas ajudas benevolentes, as amigas Lily, Eilleen e Dolly conseguem o bilhete dourado após triunfarem no concurso de talentos da igreja local. Sem nunca terem saído de Dublin - e muito menos da Irlanda - a viagem proporciona-lhes a oportunidade de celebrar a vida e uma doce independência. Mas não se trata apenas de uma "festa", é também uma oportunidade para reflectirem sobre as suas vidas. Quando Chrissie, regressada de um exílio de décadas nos EUA, se junta a elas, reabrem-se feridas profundas do passado e surgem algumas verdades amargas.

Um Lugar Silencioso: Dia Um (2024)
A Quiet Place: Day One
A cidade de Nova Iorque é invadida por criaturas alienígenas que caçam através do som e uma mulher chamada Sammy luta pela sobrevivência.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

'Les Nuits en Or' leva 32 curtas ao Cinema São Jorge, de 2 a 4 de Julho

A mostra internacional Les Nuits en Or regressa ao Cinema São Jorge, em Lisboa, de 2 a 4 de Julho. Serão apresentadas 32 curtas-metragens de todo o mundo, em sessões gratuitas, às 19h00 e às 21h30.

Ice Merchants

Esta é uma iniciativa da Academie des César, organizada em Portugal pela Academia Portuguesa de Cinema, e conta com 32 curtas-metragens vencedoras dos prémios nacionais de cada Academia de Cinema participante: César, Oscar, Goya, BAFTA, Sophia, David di Donatello, Magritte, entre outros. 

PROGRAMA

2 Julho / 19h00 (100 min)

BIG BANG (Brasil) / ICE MERCHANTS (Portugal) / IN THE MOUNTAIN’S SHADE (Israel) / ONCE UPON A VILNIUS (Lituânia) / SUPERDUPERMEGAGIGASINGEL (Noruega)


2 Julho / 21h30 (103 min)

PALOQUEMAO (Colômbia) / WAR IS OVER ! INSPIRED BY THE MUSIC OF JOHN AND YOKO (E.U.A.) / LA MÉCANIQUE DES FLUIDES (França) / VREAU SA SPARG SERA (Roménia) / MONSOON BLUE (Taiwan)


3 Julho / 19h00 (100 min)

LIONS (Reino Unido, França) / ÉTÉ 96 (França) / LES SILENCIEUX (Bélgica) / LEILA (Suécia) / THE MEATSELLER (Itália)


3 Julho / 21h30 (104 min)

AGUSTINA (México) / THE FLYING SAILOR (Canadá) / LA VALISE ROUGE (Luxemburgo) / THE DAY I DIED (Dinamarca) / AIRHOSTESS-737 (Grécia) / GHWA THE LAST NAME (Coreia do Sul)


4 Julho / 19h00 (105 min)

CRAB DAY (Reino Unido) / L’ATTENTE (França) / AUNQUE ES DE NOCHE (Espanha)/ ATESTACE (Chéquia) / HOW TO PLEASE (Finlândia)


4 Julho / 21h30 (104 min)

LUCID DREAMING (Países Baixos) / XANH (Alemanha) / GOLDEN LEGGINGS (Ucrânia) / A CAMERA ON MY LAP (África do Sul) / ARMAT (Suíça)/ FINDING ADDISON (Austrália)

'Cinema Paraíso' leva Cinema ao ar livre a Vila Nova de Famalicão a partir de 3 de Julho

O Cinema Paraíso, programa de sessões de cinema ao ar livre de Vila Nova de Famalicão, está de regresso, de 3 de Julho a 21 de Agosto, sempre às 22h00, no Parque da Devesa.

© CM Famalicão

Ao longo destas datas, serão apresentados sete filmes, dois deles em itinerância por duas freguesias onde o Cinema Paraíso se estreia: Outiz e Avidos.

A primeira sessão, a 3 de Julho, leva ao público Maestro, realizado e interpretado por Bradley Cooper, sobre Leonard Bernstein. A 10 de Julho, chega o filme de animação Patos! e, a 17 de Julho, Os Excluídos, de Alexander Payne, protagonizado por Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa.

Em itinerância, o projecto Cinema Paraíso estreia-se em Outiz, no Adro da Igreja de Gemunde, a 14 de Julho, com Milagre em Milão, um clássico italiano de Vittorio De Sica, em cópia digital restaurada. A 21 de Julho, no Parque de Merendas de Avidos, será exibido O Rapaz e a Garça, de Hayao Miyazaki.

Em Agosto e de regresso ao Parque da Devesa, no dia 14, o Cinema Paraíso exibe Wonka, com Timothée Chalamet. Para terminar, a 21 de Agosto, é a vez de Reino Animal, de Thomas Cailley.

Todas as sessões são de entrada livre, e o público é convidado a comparecer às 22h00, "levando consigo agasalhos, mantas, cadeiras de praia, e até pipocas", refere a organização em comunicado.

A comemorar 25 anos, o Cinema Paraíso já percorreu mais de 40 espaços do concelho, numa parceria entre o Cineclube de Joane, a Casa das Artes e o Município de Famalicão.

PROGRAMA:

I) PARQUE DA DEVESA (Quartas-feiras – Julho, Agosto)

3 de Julho – MAESTRO, de Bradley Cooper

10 de Julho – PATOS! (versão portuguesa), de Guylo Homsy e Benjamin Renner

17 de Julho – OS EXCLUÍDOS, de Alexander Payne

14 de Agosto – WONKA, de Paul King

21 de Agosto – REINO ANIMAL, de Thomas Cailley


II) ITINERÂNCIA PELAS FREGUESIAS

14 de Julho (Domingo) – OUTIZ – Adro da Igreja de Gemunde

MILAGRE EM MILÃO, de Vittorio De Sica

21 de Julho (Domingo) – AVIDOS – Parque de Merendas

O RAPAZ E A GARÇA, de Hayao Miyazaki

Festa do Cinema Francês regressa de 3 de Outubro a 30 de Novembro com retrospectiva de Chris Marker

A 25.ª edição da Festa do Cinema Francês regressa de 3 de Outubro a 30 de Novembro, com retrospectiva do realizador Chris Marker. A Festa realiza-se em nove cidades: Lisboa, Almada, Oeiras, Coimbra, Porto, Beja, Viseu, Faro e Lagos.

Em parceria com Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, em Lisboa, a Festa do Cinema Francês apresentará, durante o mês de Novembro, uma retrospectiva integral do trabalho do cineasta Chris Marker (1921-2012). Entre curtas e longas-metragens, como Sans Soleil (1982) ou Level Five (1995), este programa revela "mais de meia centena de filmes e vídeos, incluindo títulos realizados para a televisão, trabalhos que apontam, invariavelmente, para a procura de novas formas por parte de um criador profundamente original", explica a Festa em comunicado.  

Nesta 25ª edição, o evento apresenta duas novas secções: um programa especial composto por filmes de comédia intitulado Rir à grande e à francesa e um programa com obras que resultam de coproduções franco-belgas intitulado Uma Língua, Múltiplos Olhares - a coprodução franco-belga. Estas juntam-se às secções habituais: Antestreia, composta por obras recentemente estreadas em França e com estreia portuguesa em breve; Inéditos, uma selecção de produções recentes cuja distribuição comercial ainda não está assegurada em Portugal; Cinema à Mesa, que engloba filmes dedicados à gastronomia; CineJovem e sessões escolares, com filmes dedicados ao público mais novo; e Segunda Chance, uma oportunidade para rever filmes que já estrearam em sala.

Filmes programados e convidados da Festa do Cinema Francês 2024 serão anunciados em breve.


CALENDÁRIO: FESTA DO CINEMA FRANCÊS 2024

LISBOA 

Cinema São Jorge - 3 a 13 de Outubro

Cinemateca Portuguesa - 2 a 30 de Novembro

ALMADA - 8 a 12 de Outubro

COIMBRA - 14 a 18 de Outubro

OEIRAS - 17 a 25 de Outubro

PORTO - 16 outubro a 23 Novembro

LAGOS - 8 a 11 de Outubro

BEJA - 5 e 6 de Novembro

FARO - 9 a 11 de Outubro

VISEU - 16 a 18 de Outubro

terça-feira, 25 de junho de 2024

Curtas Vila do Conde 2024: Morgan Quaintance inaugura exposição a 13 de Julho

Morgan Quaintance inaugura a sua primeira exposição em Portugal, Efforts of Nature IV, na Solar – Galeria de Arte Cinemática, a 13 de Julho, no âmbito do Curtas Vila do Conde 2024, que apresentará um programa completo dedicado ao artista. 

Quaintance é um artista e escritor sediado em Londres, "cuja prática artística cruza o cinema experimental, o filme ensaístico, a autobiografia documental e o trabalho articulado de som", refere o festival em comunicado. Esta exposição apresentará um corpo de trabalhos inédito e site specific, que visa reflexões "em torno da passagem do tempo, da mortalidade, da dissolução do corpo e da desintegração das calotas polares".​

"Cruzando documentação e material arquivístico e encontrado com filmagens próprias, Quaintance trabalha imagens em movimento e sonoridades alargadas que resultam numa malha de texturas justapostas, intercetantes e perspicazmente ambientadas. As suas obras são autênticos corpos de memórias, imbuídos em retratos expandidos, individuais e coletivos, que navegam experiências culturais e sociopolíticas. Interessado nas matérias da condição humana, da etnografia, da contracultura, do cultic milieu, dos ambientes construídos e em histórias Afro-Caribenhas, Britânicas e da Ásia Oriental, o trabalho do artista instrumentaliza os fluxos temporais, para escavar narrativas complexas, que sendo recuperadas do passado, se mantêm incisivas e reativas à contemporaneidade".

EXPOSIÇÃO

· Exposição | 13 JUL — 31 AGO 2024

· Inauguração | Sáb. 13 JUL, 16h30

· Visita guiada | Ter. 16 JUL, 16h00


12 — 21 JUL | 14h00 – 22h00

22 JUL — 31 AGO | Seg. a Sáb., 14h00 – 18h30

[entrada gratuita]

 

PROGRAMA PARALELO

Films and Choices 1 — Dom. 14 JUL, 18h00

Films and Choices 2 — Seg. 15 JUL, 21h15

Films and Choices 3 — Ter. 16 JUL, 21h15

All Divided Selves, Luke Fowler, 93’ — Sáb. 20 JUL, 18h00

Teatro Municipal de Vila do Conde, Sala 2


Norwegian Wood, Tran Anh Hung, 133’ — Qua. 17 JUL, 21h45

Solar – Cinema ao Ar Livre


Visita Guiada c/ Morgan Quaintance — Ter. 11 JUL, 16h00

Solar – Galeria de Arte Cinemática


Masterclass Morgan Quaintance — Qua. 17 JUL, 15h00

Teatro Municipal de Vila do Conde, Sala 2


Mais informações em solar.curtas.pt.

domingo, 23 de junho de 2024

Sugestão da Semana #619

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca o filme-ensaio de Leonor Areal, Onde Está o Pessoa?. O filme tem crítica no Hoje Vi(vi) um Filme.



Ficha Técnica:
Título Original: Onde Está o Pessoa?
Realizadora: Leonor Areal
Género: Documentário
Classificação: M/12
Duração: 65 minutos

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Estreias da Semana #619

Esta Quinta-feira, chegam aos cinemas portugueses nove novos filmes. Onde Está o Pessoa?, de Leonor Areal, Soma das Partes, de Edgar Ferreira, e The Bikeriders, de Jeff Nichols, são algumas das estreias em destaque.

Contra Todos (2024)
Boy Kills World
Boy jura vingar-se do assassinato da família às mãos de Hilda Van Der Koy, a matriarca de uma corrupta dinastia pós-apocalíptica, que deixou o jovem órfão, surdo e mudo. Movido por uma voz interior, adotada do seu videojogo favorito, treina com um misterioso xamã para se tornar um instrumento letal e está pronto para dar tudo na véspera do abate anual de dissidentes. O caos instala-se à medida que o jovem avança com uma ira de destruição e carnificina. À medida que tenta avançar por este reinado delirante, torna-se parte de um desesperado grupo de resistência, enquanto discute com o aparente fantasma da irmã mais nova.

Daliland (2022)
Dalíland
Em 1973, um jovem assistente de galeria embarca numa louca aventura, enquanto ajuda o envelhecido génio da pintura Salvador Dali a preparar uma grande exposição em Nova Iorque.

Época de Caça (2023)
Chasse gardée
Acompanhados pelos seus dois filhos, Simon e Adelaïde decidem, como muitos parisienses de hoje, trocar o seu apartamento de duas assoalhadas por uma vida mais calma e confortável no campo. São seduzidos por uma casa no meio da natureza: espaço, uma horta, um bosque contíguo ao jardim e, sobretudo, habitantes que os acolhem de braços abertos. Um sonho tornado realidade. Mas o jovem casal não tarda a desiludir-se: o bosque é, na realidade, um terreno de caça para animais de grande porte. Embora os caçadores sejam simpáticos, não estão dispostos a ceder o território, tornando o sonho de Simon e Adelaïde num inferno.

Mamonas Assassinas: O Filme (2023)
Guarulhos na década de 90. Dinho, Sérgio, Samuel, Julio e Bento são rapazes típicos da época, com pouco dinheiro e muitos sonhos. Nem imaginam que o humor debochado e inteligente, característico deste grupo de amigos, irá mudar as suas vidas para sempre. De algumas tentativas fracassadas ao sucesso absoluto, em pouco tempo, tornam-se o maior fenómeno musical brasileiro da década: os Mamonas Assassinas.

O Amor Segundo Dalva (2022)
Dalva
Dalva tem 12 anos, mas veste-se, maquilha-se e vive como se fosse uma mulher adulta. Uma noite, é retirada da casa onde vivia com o pai e levada para um centro de acolhimento de menores. Estupefacta e indignada no início, conhece Jayden, um assistente social, e Samia, uma adolescente com mau feitio. Uma nova vida parece começar para Dalva, a de uma rapariga da sua idade.

No seu ensaio visual, Leonor Areal convoca o espectador a olhar em detalhe para um filme centenário e para as dezenas de pessoas que surgem à saída de um concerto, a maioria homens, de fato completo e chapéu, muitos com bigode. Entre eles, procura-se Fernando Pessoa.

Ovnis, Monstros e Utopias - Três Curtas Queer (2024)
Ovnis, Monstros e Utopias: Três Curtas Queer é uma sessão composta pelas mais recentes curtas-metragens dos realizadores Joana de Sousa (Entre a Luz e o Nada), Ricardo Branco (Sob Influência) e André Godinho (Uma Rapariga Imaterial).
Entre a Luz e o Nada, de Joana de Sousa, acompanha dois dias na vida de Shade, uma jovem não-binária que vive na periferia de Lisboa. Sob Influência, de Ricardo Branco, é sobre uma jovem, que, ao longo de um fim de semana com um grupo de amigos, ganha dificuldades em lidar com a realidade. Rapariga Imaterial, de André Godinho, conta a história de João, uma rapariga imaterial, que é o que quer ser, independentemente da sua idade, género ou cor de pele.

Soma das Partes (2023)
Documentário que percorre os 60 anos da Orquestra Gulbenkian. Com recurso a imagens de arquivo inéditas e através do olhar de músicos, maestros e solistas, conta a história da criação de uma pequena orquestra de câmara que, em 60 anos, ascendeu a orquestra sinfónica internacional, gravando mais de 70 álbuns e actuando ao lado dos maiores nomes da música clássica internacional, alterando determinantemente o panorama da música em Portugal.

The Bikeriders (2023)
Kathy, um membro obstinado dos Vândalos, casada com um motociclista selvagem e imprudente chamado Benny, conta a evolução dos Vândalos ao longo de uma década, começando como um clube local unido por bons momentos, motas a roncar e respeito pelo seu forte e firme líder, Johnny. À medida que a vida nos Vandals se torna mais perigosa e o clube ameaça tornar-se num gangue mais sinistro, Kathy, Benny e Johnny são forçados a fazer escolhas sobre a sua lealdade.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Crítica: Onde Está o Pessoa? (2023)

*7.5/10*

Numa analogia à colecção de livros Onde Está o Wally?, Leonor Areal cria o jogo cinematográfico Onde Está o Pessoa?, em que desafia a plateia a uma incessante busca pelo poeta português, no meio de uma imensa multidão que sai do Teatro República (actual São Luiz), em Lisboa, em 1913.

"No seu ensaio visual, Leonor Areal convoca o espectador a olhar em detalhe para um filme centenário e para as dezenas de pessoas que surgem à saída de um concerto, a maioria homens, de fato completo e chapéu, muitos com bigode. Entre eles, procura-se Fernando Pessoa."

Partindo do filme de 1913, Assistência no Teatro da República na festa do maestro Blanch, a realizadora leva a plateia numa viagem no tempo e no espaço. "A assistência sai do teatro e depara-se com uma câmara que os filma. Poucos conseguem ignorá-la. Mostrando atitudes díspares, alguns procuram destacar a sua presença, outros são mais fugidios". O espectador tem o ponto de vista da câmara e todos os que saem do teatro "olham" directamente para si. Há um confronto de olhares, e a realizadora analisa cada detalhe das imagens em movimento, seja em câmara lenta, seja recuando, repetidamente, para voltar a ver e a captar novos elementos. 

Detecta-se a estranheza de alguns, numa época em que ainda não era muito comum ver câmaras de filmar nas ruas, e o encanto de outros por saberem que estão a ser filmados. Encontram-se os tímidos, os rebeldes, os curiosos. E Leonor Areal começa a descobrir caras conhecidas, comparando-as com fotografias da época dessas figuras públicas.

Numa multidão tão homogénea, onde poucas são as mulheres e o chapéu e fato são o traje mais comum nos homens, não é fácil reconhecer alguém. Contudo, a análise detalhada de Onde Está o Pessoa? leva a alguns (re)encontros. Para além do Wally português - leia-se, Fernando Pessoa -, a realizadora identifica personalidades como Amadeo de Souza-Cardoso, António Ferro, António Silva, Augusto Ferreira Gomes, Eduardo Viana, Ernesto Vieira, Jorge Barradas ou Stuart Carvalhais, entre outras. 

Para além da narração da realizadora - de quem se denota um imenso trabalho de investigação -, ouvem-se descrições dos meios de comunicação da época sobre os espectáculos em cena, e excertos do diário de Fernando Pessoa, em datas próximas daquela em que as imagens foram gravadas.

Onde Está o Pessoa? é, principalmente, uma obra hipnótica e curiosa, um desafio de análise de cada olhar inquieto de quem passa ou pára em frente à câmara. E a dúvida ficar no ar: Será mesmo aquele o Pessoa?

domingo, 16 de junho de 2024

Sugestão da Semana #618

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca o filme luso-brasileiro Pedágio, de Carolina Markowicz. O Hoje Vi(vi) um Filme escreveu sobre o filme e entrevistou o actor Isac Graça.



Ficha Técnica:
Título Original: Pedágio
Realizadora: Carolina Markowicz
Elenco: Maeve Jinkings, Kauan Alvarenga, Thomás Aquino, Isac Graça, Aline Marta Maia, Caio Macedo
Género: Crime, Drama
Classificação: M/14
Duração: 102 minutos

Curtas Vila do Conde 2024: Alberto Vázquez, Laura Ferrés e Yorgos Zois nos programas temáticos do festival

Alberto Vázquez, Laura Ferrés e Yorgos Zois estarão em destaque nos programas temáticos do Curtas Vila do Conde 2024

Birdboy: The Forgotten Childten

Alberto Vázquez é realizador de cinema de animação e artista de banda desenhada. "O seu trabalho é dotado de uma versatilidade inconfundível, marcado pelas linhas ousadas, cores vívidas e imaginário surrealista que exploram as diferentes latitudes da emoção humana e a complexidade das sociedades contemporâneas. Enquanto ilustrador, o seu trabalho mistura elementos lúdicos com temas sombrios, criando uma tapeçaria visual que convida os leitores a um novo mundo de imaginação. Como realizador, Vázquez tem recebido o elogio da crítica com filmes de animação que exploram os limites da narrativa e provocam a audiência", referiu o festival em comunicado. Ao longo da sua carreira, Vázquez venceu três Prémios Goya, para além de várias distinções em festivais internacionais. No Curtas, venceu o prémio do público em 2016 com Decorado. Este ano, o festival vilacondense dedica-lhe uma retrospectiva integral da sua obra, com curtas e longas como Unicorn Wars (2022) e Birdboy: The Forgotten Childten (2015). O realizador estará presente em Vila do Conde e orientará uma masterclass em torno da sua obra. 

A secção New Voices, dedicada a nomes emergentes da cinematografia mundial, destaca, nesta edição, os trabalhos da catalã Laura Ferrés e do grego Yorgos Zois

Os filmes de Laura Ferrés "celebram a resiliência e a humanidade das pessoas comuns. Focando-se, frequentemente, em histórias de exclusão social, luta pela sobrevivência e dinâmicas familiares, a sua obra mergulha nas complexidades da vida quotidiana, capturando - de forma incrivelmente autêntica, crua e minuciosamente detalhada - momentos de vulnerabilidade, conexão e empatia". O Curtas 2024 vai exibir The Permanent Picture (2023) e The Disinherited (2017), a que se junta uma Carta Branca com escolhas da autora e uma conversa.

Já a obra de Yorgos Zois "tem sido destacada pela abordagem inovadora e crítica que faz aos temas sociais e existenciais do mundo de hoje, da alienação humana às dinâmicas de poder". O festival vai exibir, em estreia nacional, a sua mais recente longa-metragem, Arcadia. O realizador marcará presença em Vila do Conde, onde participará de uma conversa.

O Curtas Vila do Conde acontece de 12 a 21 de Julho. Mais informações em https://www.festival.curtas.pt/

InFocus: Alberto Vázquez

Birdboy, Alberto Vázquez, Pedro Rivero, 2011, Espanha, ANI, 13’

Birdboy: The Forgotten Children, Alberto Vázquez, 2015, Espanha, Japão, ANI, 76’

Decorado, Alberto Vázquez, 2011, Espanha, França, ANI, 16’

Homeless Home, Alberto Vázquez, 2020, Espanha, França, ANI, 15’

Ramiro, Sucia rata, Alberto Vázquez, 2012, Espanha, França, ANI, 1’

Unicorn Blood, Alberto Vázquez, 2013, Espanha, ANI, 9’

Unicorn Wars, Alberto Vázquez, 2022, Espanha, França, ANI, 92’


Carta Branca

Astigmatismo, Nicolai Troshinsky, 2013, Espanha, ANI, 4’

El corrió junto a su camarada, Genís Rigol, 2022, Espanha, ANI, 14’

Jamon, Iria López, 2013, Reino, ANI, 8’

Metamorphosis, Juanfran Jacinto y Carla Pereira, 2019, França, Espanha ANI, 11’

Simbiosis Carnal, Rocío Álvarez, 2017, Bélgica ANI, 10’

Soy una tumba, Khris Cembe, 2019, Espanha, ANI, 12’

Zepo, César Díaz Meléndez, 2014, Espanha, ANI, 3’


New Voices: Laura Ferrés

The Disinherited, Laura Ferrés, 2017, Espanha, 18’

The Permanent Picture, Laura Ferrés, 2023, Espanha, 94’


Carta Branca

Lonely Rivers, Mauro Herce, 2019, França, Espanha, 28’

Sóc vertical però m'agradaria ser horitzontal, María Antón Cabot, 2022, Espanha, 40’

Forastera, Lucía Aleñar, 2020, Espanha, 20


New voices: Yorgos Zois

Arcadia, Yorgos Zois, 2024, Grécia, EUA, Bulgária, 99’

Casus belli, Yorgos Zois, 2010, Grécia, 11’

Eighth Continent, Yorgos Zois, 2017, Grécia, Alemanha, 6’

Interruption, Yorgos Zois, 2015, Grécia, França, Croácia, Itália, Bósnia e Herzegovina, 109’

Out of Frame, Yorgos Zois, 2012, Grécia, 12’

Party Animal, Yorgos Zois, 2018, Grécia, 9’

Third Kind, Yorgos Zois, 2018, Grécia, 32’


Carta Branca

Le Saboteur, Ansii Kasitonni, 2022, Finlândia, 12’

Cherries, Vytautas Katkus, 2022, Lituânia, 15’

Aqueronte, Manuel Muñoz Rivas, 2023, Espanha, 26’

Washingtonia, Konstantina Kotzamani, Kleopatra Ampatzoglou, 2024, Grécia, 24’

sábado, 15 de junho de 2024

Entrevista: Isac Graça, actor de Pedágio: "Os violentadores da liberdade alheia adoram ser levados a sério, e o filme não faz isso"

A propósito da estreia da produção luso-brasileira Pedágio, de Carolina Markowicz, sobre a qual já escrevemos no blog, entrevistámos o actor português Isac Graça, que no filme veste a pele de um Pastor estrangeiro "especialista" em terapias de conversão sexual. Falámos sobre o filme, sobre o desafio de interpretar esta personagem e desvendámos alguns dos seus projectos futuros. 

Como surgiu a oportunidade de fazer parte de Pedágio?

Isac Graça: Foi um golpe de sorte. Quando foi anunciado que A Viagem de Pedro, da Laís Bodanzky, ia estrear no Festival de São Paulo, tive uma sensação qualquer de que era essencial ir, e tenho aprendido a não ignorar essas sensações. Uma vez lá, a estreia correu particularmente bem. No dia a seguir passei umas horas no Museu de Arte Contemporânea da cidade, e estava a voltar para o hotel num táxi, cheio de dores nos pés, quando o Luís Urbano (produtor d'O Som e a Fúria) me liga a dizer que precisava de falar comigo. Enquanto eu estava no Museu, ele e a Karen Castanho (produtora brasileira da Biônica) tinham tido um almoço com a Carolina Markowicz, que não estava a encontrar o actor para o Pastor, sugeriram-me, e apesar de eu não ter a idade da ideia inicial para a personagem, a Carolina aceitou encontrar-se comigo essa noite. O Urbano disse-me para não ir com expectativas, e assim fiz. Tomei um banho, fiz uma sesta, e fui, e a conversa correu bem. Na manhã seguinte - voltava para Lisboa ao início da tarde - estava a acabar de tomar um bruto pequeno-almoço para me aguentar no voo, o Luis volta a ligar-me a dizer que a Carolina tinha ficado interessada em mim e que me queria fazer uma audição. Eu disse que sim (apesar de ainda não ter lido nada do guião), pedi só um tempo para fazer as malas. Fi-las, check out, meteram-me num táxi, e fui para o outro lado de São Paulo fazer a audição. Atiraram-me umas cenas para cima da mesa, fiz as cenas. Voltei ao hotel e fomos directos para o aeroporto. Nesse táxi, o Luís recebeu uma mensagem a dizer que eu tinha ficado com o trabalho.

Depois de teres sido o absolutista D. Miguel em A Viagem de Pedro, voltas agora a interpretar mais um vilão noutra produção luso-brasileira. Fala-me um pouco deste Pastor Isaac e de como te preparaste para o papel. Quais os principais desafios da personagem?

Isac Graça: Eu não parto do princípio que faço vilões, embora em ambos casos tenha total lucidez que o seu papel na narrativa é antagónico, e que, modo geral, são personagens longe da minha ética. Parto do princípio que interpreto seres humanos, por mais que a sua linha geral seja a do Mal (que é sempre algo muito discutível), logo, nos processos, encho-os de pequenos detalhes de vulnerabilidade, de contradições, de nuances dúbias, e, claro, esforço-me por descobrir os porquês de serem como são. No caso do Pastor Isaac, já que o objectivo era satirizar, e em última instância, construir a personagem para a destruir, tive de clarificar mesmo tudo. E tornou-se claro que era alguém que fazia o que fazia não só por alinhar com um certo senso comum intolerante com divergência sexual (possivelmente até recusando a sua própria identidade), como por uma coisa que é comum à maioria das pessoas num mundo capitalista: fazer dinheiro enquanto coisa mais importante da vida. Eu, sendo cristão, ainda que sem ligação a igrejas específicas, parto do princípio que é preciso cuidado com a ganância financeira, que o dinheiro eventualmente pode corromper o espírito, que é algo que traz consequências nefastas e certos castigos, como o que acontece no filme (sem fazer spoiler), portanto tive muita dificuldade em construir a mente de uma pessoa que não se aceita a si nem aos outros, e que vive em prol do dinheiro. Só porque para mim isso é bizarro. Mas não podia fazer um capitalista geral, porque há milhares de tipos de capitalista, então afunilei a construção nos vendedores da banha da cobra e nos populistas, pessoas que vejo como sendo uma espécie de extrema-direita menos assumida, mais cool e modernizada, que na verdade podemos encontrar em qualquer partido político, e na rua, e a fazer scroll no Youtube ou no Instagram. Confrontei-me com essa hipótese, que tive de assumir que existe em mim, algo que tornou a construção íntima e violenta, polvilhei-a de referências reais, e pronto, acaba por ser tanta coisa que estás a tratar, que nem reparas e já estás com uma câmara em cima a fazer o filme.

Como foi a experiência de filmar fora de Portugal?

Isac Graça: Aterradora, por não conhecer bem ninguém na equipa, sendo o único português no set, e estando com o Oceano Atlântico a separar-me de casa. Felizmente, a Carolina deixou-me assistir a um dia de rodagem antes de começar a sequência do Pastor, pedi-lhe isso porque precisava de entender o tom do filme, e isso ajudou-me a estruturar e não me sentir fora. No dia da minha primeira cena, fui para o set uma hora e meia antes, e fiquei por lá a lidar, a criar mise-en-scene e a pensar e repensar decisões, e quando dei conta, já tínhamos filmado a cena. Mas não fugi do medo. Abracei-o.

Do que mais gostas em Pedágio?

Isac Graça: Eu acho o filme todo muito sólido. É uma história acessível para toda a gente, aquele eterno drama de desentendimento entre pais e filhos, mas com um ponto de vista da direcção muito enviesado, o que torna o filme mais cru e cruel. E gosto da coragem de ir mudando de tom, tens o lado dramático, o satírico e um quase de thriller de acção, mas dentro destes tons, aquele de gosto mais, porque acho uma arma mais eficaz contra a intolerância, é o satírico. Os violentadores da liberdade alheia adoram ser levados a sério, e o filme não faz isso. E como deixa meia dúzia de gatos pingados do gatekeeping mais desconfortáveis, recusando-o, deixa-me a mim bem-disposto. Acho a recusa do humor um tique de classe. Há muita gente bem mais conservadora do que se diz, profundamente classista, que ainda acha que o humor satírico é um género menor, porque, na sua génese, é a grande arma da classe trabalhadora. Eu diria que não entendem a força do humor. Ou que lhe querem pôr rédeas. Só que não vai acontecer. E o problema acaba por ser deles, porque ao recusarem o humor do filme, o tiro é-lhes direccionado, e aí não há status quo que os possa salvar.

Foi apenas no final de 2023 que o Parlamento português aprovou a lei que criminaliza as práticas de conversão sexual. No Brasil, ainda não é bem assim. Qual é, para ti, a importância de filmes como Pedágio nos dias que correm, em tempos de tanta intolerância e extremismos?

Isac Graça: Todo o Cinema é político, muitas vezes não tem é coragem de se posicionar, e quando não se posiciona, alinha com o Poder. Mas aí questiono-me se é Cinema. E não sei. Ao menos o Cinema de propaganda estatal é assumido, sabemos com o que contar. E de resto, o Cinema resvala sempre para a realidade, nem precisa de ter estreado ainda para isso começar a acontecer. Atrás eu dizia que, a par com a realizadora, construí a personagem para a destruir. No dia em que filmei a última cena do Pastor, lembro-me de pensar "Okay, estou a dar o corpo às balas. É um momento de queda. Mas não vou cair sozinho." E nesse dia, no set, pensei em dezenas de pessoas que, de certa forma, são o Pastor. A seguir ao filme caí numa espiral de tristeza que me destruiu, isto na realidade. O que de alguma forma me salvou foi saber, no fundo, que iria valer a pena. E a verdade é que, ao longo do período de montagem, e de exibição do filme, desde Toronto em Setembro, têm caído todas as pessoas em que pensei naquele dia, uma por uma. É que o Cinema vem da realidade para depois voltar para ela.

Começaste no teatro e desde então tens participado em muitos projectos no cinema e na televisão. A tua carreira tem crescido muito nos últimos anos. Ainda o mês passado estiveste em Cannes com a equipa de Mau por um Momento, de Daniel Soares, que recebeu uma menção honrosa no festival. Que personagens mais te marcaram até agora e porquê?

Isac Graça: Todas têm contribuído para este meu processo ininterrupto de construção e reconstrução da minha identidade enquanto cidadão, e por isso nutro carinho por todas elas. No outro dia, um amigo perguntou-me, numa viagem de carro, quantas personagens já tinha feito. Contabilizei, com algum esforço, e vou em cerca de 50 pessoas, todas com o seu lado lunar e com as suas coisas boas também. Mas a verdade é que não quero escolher nenhuma, porque acredito, sinceramente, que ainda estou a começar. A procissão ainda vai no adro.

E sobre os teus próximos projectos, o que é que já podes revelar?

Isac Graça: Além do Mau por um Momento que vai começar a rodar as capelinhas dos festivais depois da estreia em Cannes, tenho dois projectos muito distintos do Ivo M. Ferreira a sair, O Americano e o Projecto Global, com personagens muito complexas, mas ainda não sei quando. E o filme do Paulo Alexandre Mota, que estive três anos a filmar, e esteve em montagem durante anos a fio, o Paulo teve um processo muito solitário e paciente com o filme, que na verdade foi o meu primeiro, e cuja última montagem que vi amo muito, e tenho muita vontade de mostrar às pessoas. E pronto, estou a ensaiar um espectáculo, e envolvido em duas rodagens de filmes, uma em breve, a outra para o ano, mas não quero falar sobre isso.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

IndieLisboa 2024: O Melhor dos Mundos (2024)

"O fantasma do terramoto está muito marcado na nossa memória colectiva"

Francisco

*7/10*

Rita Nunes apresentou na Competição Nacional do IndieLisboa 2024 o seu mais recente filme, O Melhor dos Mundos. Tocando num tema sensível da História de Portugal - o terremoto de 1755 - e a eminência da sua repetição, a realizadora constrói uma narrativa de ficção científica (em parceria com o argumentista João Cândido Zacharias) em torno de um grupo de cientistas especialistas em sismologia e alterações climáticas.

"Lisboa, 2027. Marta e Miguel fazem parte de um grupo de cientistas e são um casal na vida privada. Os dois vêem-se frequentemente em pólos opostos no que diz respeito a questões científicas. Este conflito será posto à prova numa noite decisiva em que dados analisados por Marta apontam para uma probabilidade muito alta de um enorme sismo poder atingir Lisboa. Os cientistas ficam indecisos sobre alertar a população para a possível tragédia iminente."

A questão primordial é: como se comunica uma notícia destas à população, sem a certeza absoluta de que vai mesmo acontecer? E é aqui que começam as dúvidas e cisões entre o grupo, apesar de alguns dos que estão contra comunicar à população serem os primeiros a porem-se, a si e aos seus, a salvo. A ética de cada um destes cientistas ditará a forma como o futuro pode ou não ser "prevenido" - ou minorados os estragos e mortes.

Se, por um lado, Marta tem sérias dificuldades em gerir sentimentos e relações - quer com o seu namorado, quer com a mãe e irmã -, por outro, não tem dúvidas no que toca à responsabilidade profissional que deve assumir na situação que se avizinha. A racionalidade de Marta é fundamental para compreender os fenómenos que o grupo de cientistas regista e é ela, numa competente interpretação de Sara Barros Leitão, que esclarece colegas e plateia sobre as possíveis consequências de um sismo de tal magnitude.

Para a construção de O Melhor dos Mundos, Rita Nunes parte de premissas e pesquisas científicas reais, tal como os novos cabos submarinos instalados em 2025. Com esta ambiência tão realista, apesar de ficcional e, tal como diz Francisco, a certo momento no filme, porque "o fantasma do terramoto está muito marcado na nossa memória colectiva", O Melhor dos Mundos cria uma tensão crescente, muito opressiva quer nas personagens como na plateia. 

Com uma fórmula simples, clara e directa, Rita Nunes constrói uma ficção científica - pouco comum no cinema português mais recente - esclarecida, activando no espectador a consciência de um passado que conhece dos livros de História e de um futuro que todos dão como iminente.

Estreias da Semana #618

Esta Quinta-feira, chegam aos cinemas oito novos filmes. Cobweb - A Teia, de Kim Jee-woonComandante, de Edoardo De Angelis, e Pedágio, de Carolina Markowicz, são algumas das estreias em destaque.

Boléro (2024)
A bailarina e actriz russa Ida Rubinstein escolhe o famoso compositor francês Maurice Ravel para compor a música do seu próximo bailado. Ravel acaba por criar o seu maior sucesso de sempre: Boléro.

Cobweb - A Teia (2023)
Geomijip / Cobweb
Coreia do Sul, nos anos 70. Após concluir Cobweb, o seu mais recente filme , o realizador Kim sonha com um final alternativo. Se conseguir rodar as cenas como as imaginou, certamente terá em mãos uma obra-prima. Tenta organizar dois dias adicionais de filmagens, mas o caos e o tumulto tomam conta do plateau com a interferência dos serviços de censura e as queixas dos actores e produtores que não conseguem compreender o novo final. Entre um emaranhado de compromissos, a oposição do produtor e o confronto entre as cenas imaginadas a dançar frente aos seus olhos e as duras condições da realidade, Kim sente-se à beira da loucura, mas não se deixa vencer. Será ele capaz de encontrar uma forma de ultrapassar o caos, satisfazer as suas ambições artísticas e completar a sua obra-prima?

Comandante (2023)
No início da Segunda Guerra Mundial, Salvatore Todaro comanda o submarino Cappellini da Regia Marina. Em Outubro de 1940, enquanto navega no Atlântico, no escuro da noite, a silhueta de um navio mercante com as luzes apagadas, o Kabalo, que mais tarde se revelou ser de nacionalidade belga, abre subitamente fogo contra o submarino e a tripulação italiana. Inicia-se uma breve e violenta batalha em que Todaro afunda o navio inimigo a tiros de canhão. É nesta altura que o comandante toma uma decisão que está destinada a fazer história.

Haikyu!! A Batalha da Lixeira (2024)
Gekijôban Haikyû!! Gomi Suteba no Kessen / Haikyu!! The Dumpster Battle
Shoyo Hinata junta-se ao clube de voleibol do liceu de Karasuno para ser como o seu ídolo, um antigo jogador conhecido como o Pequeno Gigante. Porém, Hinata cedo descobre que deve fazer equipa com o seu inimigo do liceu, Tobio Kageyama. Os estilos antagónicos de ambos criam uma arma surpreendente, mas será o seu novo trabalho de equipa capaz de derrotar a rival Nekoma High na tão esperada Batalha da lixeira, o confronto há muito aguardado entre as duas equipas mais fracas?

Heróis na Hora (2024)
Combat Wombat: Back 2 Back
A vida tornou-se difícil para Maggie Diggins, também conhecida como Super Wombat. A criminalidade na Cidade Santuário nunca foi tão baixa e agora esperam que ela passe os dias a desentupir canos e a preencher documentos em vez de salvar o mundo. Porém, quando um génio malvado ameaça aprisionar toda a cidade na simulação de um metaverso, Maggie e Fofinho regressam à ação para salvar o dia.

O Exorcismo (2024)
The Exorcism
Um actor perturbado começa a perder o controlo enquanto filma um filme de terror sobrenatural, levando a sua filha a perguntar-se se ele está a voltar a cair em vícios passados ou se há algo mais sinistro em jogo.

O Homem dos Teus Sonhos (2023)
Dream Scenario
Paul Matthews, marido, pai, professor universitário em dificuldades, um homem comum e desajeitado - torna-se a pessoa mais famosa do mundo quando começa a aparecer ao acaso nos sonhos de outras pessoas. Primeiro é a sua filha, depois uma antiga namorada, depois os seus alunos, depois praticamente toda a gente no planeta, até que Paul se vê reconhecido para além dos seus mais loucos desejos.

Suellen, a funcionária de uma portagem, percebe que pode aproveitar o seu trabalho para fazer algum dinheiro extra, de forma ilegal. Tudo para pagar ao filho a caríssima terapia de conversão de um famoso padre estrangeiro (Isac Graça) que o deve curar da sua homossexualidade.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Encontros do Cinema Português 2024: 47 projectos nacionais apresentados; 'Hotel Amor' vence Prémio Canal Hollywood

A 9.ª edição dos Encontros do Cinema Português aconteceu no passado dia 5 de Junho, nos Cinemas NOS Vasco da Gama, e contou com a apresentação de 47 projectos de produção nacional e a participação de mais de 200 representantes da indústria: produtores, realizadores, argumentistas, actores e imprensa, entre outros. No decorrer do evento, foram apresentadas obras que estrearam no circuito de festivais, e outras que ainda estão em processo de produção ou pós-produção.

A iniciativa é promovida pela NOS Audiovisuais com o apoio do ICA (Instituto de Cinema e Audiovisual) e, este ano, contou com a entrega do Prémio Canal Hollywood ao filme Hotel Amor, do realizador Hermano Moreira, com produção da Promenade Films, de Justin Amorim. O prémio tem o valor de 55 mil euros para investimento em comunicação, promoção e media. O filme tem estreia prevista para o final de 2024 e conta no elenco com Jéssica Athayde, Júlia Palha, Margarida Corceiro, Igor Regalla e Francisco Froes, entre outros.

O evento terminou com o habitual debate sobre Os desafios do Cinema Português, moderado pelo jornalista Vítor Moura, e com a participação de José Fragoso (RTP), José Gandarez (produtor), Luís Chaby (ICA), Pandora da Cunha Telles (produtora), Susanna Barbato (NOS Audiovisuais) e Tânia Fragoso (NLC Cinema City/APEC).

O Hoje Vi(vi) um Filme marcou presença nos Encontros para ficar a par das novidades cinematográficas nacionais a estrear nos próximos meses.

Entre os títulos apresentados, destaque para O Último Verão, de João Nuno Pinto, com Margarida Marinho, Beatriz Batarda e Rita Cabaço, que toca temáticas como a especulação imobiliária, alterações climáticas e desertificação do interior; Projecto Global, de Ivo M. Ferreira, uma ficção sobre as FP-25 , que será também uma minissérie da RTP, com Jani Zhao, José Pimentão, Ivo Canelas e Isac Graça no elenco; A Pianista, de Nuno Bernardo, protagonizado por Teresa Tavares Miguel Borges, que aborda a temática da clonagem; uma tragicomédia sobre a eutanásia é a proposta de Sonhar com Leões, de Paolo Marinou-Blanco, com Denise Fraga e João Nunes Monteiro; Terra Vil, a primeira longa-metragem de Luís Campos, com William Cesnek, Lúcia Moniz e Rúben GomesA Savana e a Montanha, provavelmente "o primeiro western em Trás-os-Montes", como referiu o realizador Paulo Carneiro, que se constrói através da ideia de uma possível mina de lítio em Covas do Barroso (o filme tem estreia prevista para 28 de Novembro); O Presidente, uma comédia de José Filipe Costa, sobre o tempo que decorreu entre o momento em que Salazar adoeceu até à sua morte, e à sua crença de que continuava a ser o Presidente do Conselho; ou Grand Tour, de Miguel Gomes, vencedor de Melhor Realização no último Festival de Cannes.

Com estreia agendada para breve estão os filmes Soma das Partes - 60 anos da Orquestra Gulbenkian, de Edgar Ferreira (20 de Junho); Onde Está o Pessoa?, de Leonor Areal (20 de Junho); Astrakan 79, de Catarina Mourão (11 de Julho); Yupumá, de Verónica Castro (18 de Julho); Podia Ter Esperado por Agosto, de César Mourão (18 de Julho); Ubu, de Paulo Abreu (12 de Setembro); Ospina Cali Colombia, de Jorge de Carvalho (26 de Setembro); e Mãos no Fogo, de Margarida Gil (Setembro).

Eis a listagem dos 47 filmes apresentados nos Encontros do Cinema Português 2024.

A Pianista, de Nuno Bernardo
Yupumá, de Verónica Castro
Hotel Amor, de Hermano Moreira
Sonhar com Leões, de Paolo Marinou-Blanco
Ospina Cali Colombia, de Jorge de Carvalho
Astrakan 79
, de Catarina Mourão
O Palácio de Cidadãos, de Rui Pires
Educação Sentimental, de João Rosas
Mãos no Fogo, de Margarida Gil
Sombras
, de Jorge Cramez
Caixa de Resistência, de Concha Barquero Artés e Alejandro Alvarado Jódar
Rosa Brava, de Hugo Diogo
Idade da Pedra
, de Gonçalo Oliveira
Sodade
, de Hugo Diogo
Onde está o Pessoa?, de Leonor Areal
O Voo do Crocodilo - O Timor de Ruy Cinatti, de Fernando Vendrell
A Travessia
, de Fernando Vendrell
O Melhor dos Mundos, de Rita Nunes
¿De que casa eres?, de Ana Pérez-Quiroga
Na Mata dos Medos, de António Borges Correia
Terra Vil, de Luís Campos
Vive e deixa andar, de Miguel Cadilhe
O Último Verão, de João Nuno Pinto
Cartas Telepáticas, de Edgar Pêra
A Pedra Sonha Dar Flor, de Rodrigo Areias
O Ancoradouro do Tempo, de Sol de Carvalho
Podia Ter Esperado Por Agosto, de César Mourão
A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro
Vidro Fumê, de Pedro Varela
Projecto Global, de Ivo M. Ferreira
Hanami, de Denise Fernandes
Em Ano de Safra, de Sofia Bairrão
O Poeta Rei, de Carlos Gomes
Nôs Dança, de Rui Lopes da Silva
Soma das Partes, de Edgar Ferreira
Sobreviventes, de José Barahona
Ubu, de Paulo Abreu
O Presidente
, de José Filipe Costa
Prisma, de Sónia Balacó Zé Bernardino
Os Infanticidas, de Manuel Pureza
Vale do Fogo, de João Brás
Damas, de Cláudia Alves
O Meu Jardim, de Sérgio Graciano
Camarada Cunhal, de Sérgio Graciano
Grand Tour, de Miguel Gomes