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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

KINO 2021: Rival vence Prémio do Público

Rival, de Marcus Lenz, é o filme vencedor do Prémio do Público da 18. ª edição da KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã.

Num ano em que a Mostra decorreu inteiramente online, o público português elegeu o filme Rival através de voto digital, com uma nota média de 8,5/10. Em segundo lugar ficou o filme Casulo, de Leonie Krippendorff, e em terceiro, a completar o pódio, ficou Exílio, de Visar Morina.

Rival é a segunda longa-metragem de Marcus Lenz que começou a sua carreira como director de fotografia nos filmes Respirar (Debaixo d’água) e Esquece tudo o que te disse, do português António Ferreira

Rival conta a história de um rapaz que parte da Ucrânia para encontrar a mãe que trabalha ilegalmente na Alemanha como governanta e enfermeira. A crítica do Hoje Vi(vi) um Filme pode ser lida aqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

KINO 2021: Futuro Três / Futur Drei (2020)

*8.5/10*

Na sua primeira longa-metragem, Futuro Três (Futur Drei), Faraz Shariat mostra maturidade e talento, numa abordagem singular de sexualidade e migrações. A forte componente autobiográfica cria maior intimidade e empatia com filme e personagens.

"O Instagram, os namoros no Grindr, a prestação de serviço comunitário num abrigo para refugiados, o amor proibido, as bebedeiras em festas de máscaras com novos amigos, bem como a constatação de que a busca por aquilo a que se chama lar tem um significado diferente para cada pessoa."

A estreia de Shariat nas longas lembra os primeiros trabalhos de Xavier Dolan, quer na temática como na abordagem e positividade. Futuro Três é uma jornada de autodescoberta e esperança para três personagens: Parvis (Benjamin Radjaipour), Banafshe (Banafshe Hourmazdi) e Amon (Eidin Jalali). A ligação harmoniosa e enérgica que se cria entre os três supera os laços de sangue - os três transpiram amor.

No abrigo para refugiados, cruzamo-nos com uma multiplicidade de origens, culturas e histórias, em busca de um futuro melhor num país que não é o seu. Para além do obstáculo da língua, todos anseiam e esforçam-se pela integração, sem serem obrigados a olhar para trás. O foco de Futuro Três recai nos imigrantes iranianos: tanto os que se estabeleceram há 30 anos na Alemanha, como é o caso da família de Parvis (e do realizador), já nascido no país, como os que aguardam asilo, o caso dos irmãos Bana e Amon.


Entre incertezas e receios, seja relativamente à sexualidade, à possibilidade de extradição, ou à falta de diálogo e compreensão na família, cada uma das três personagens começa a descobrir o seu caminho e o seu verdadeiro lar. O sentimento de pertença está sempre em jogo nas incertezas ou receios do trio.

Faraz Shariat transporta-nos, em diversos momentos, para uma dimensão por vezes onírica, por vezes bucólica, onde a Natureza e a luz têm uma forte presença, numa espécie de porto seguro de tranquilidade e esperança. Já os planos transpiram liberdade, apesar da opressão da sociedade que os rodeia.


Futuro Três é a jornada de três jovens para encontrar o seu lugar no mundo, contra preconceitos e barreiras, e onde o autoconhecimento é o primeiro passo para escolher o melhor caminho a seguir.

domingo, 31 de janeiro de 2021

KINO 2021: Exílio / Exil (2020)

*5.5/10*

Exílio (Exil), de Visar Morina, é um thriller que joga com medos, preconceitos e inseguranças. 

"Um engenheiro farmacêutico nascido no Kosovo é constantemente obrigado a soletrar o seu nome e a enfrentar situações de discriminação no trabalho. Porém, apesar dos ratos mortos na caixa de correio, ninguém o leva a sério, e é acusado de paranoia."

A premissa inicial de Exílio é boa: Xhafer (Misel Maticevic) é o protagonista que passa os dias com a sensação de que alguém o persegue, tentando dificultar o seu trabalho, e o perturba em casa, onde vive com a sua família alemã. Para além da animosidade que sente por parte de alguns colegas, também a relação com a sogra não é a melhor.

Para Xhafer, todas as atitudes discriminatórias que sente na pele estão relacionadas com a sua origem. Contudo, e mesmo que as situações de que é alvo sejam macabras e o condicionem, ninguém com quem partilha as suas desconfianças parece concordar que Xhafer seja alvo de racismo.

Exílio deambula entre a humilhação, o bullying, a xenofobia, a autocomiseração ou paranóia, num trabalho vazio de emoções, mas atento aos pormenores. Visualmente cativante, o filme de Visar Morina conduz-nos mais pela estética, criadora de um forte ambiente de suspense, do que por uma narrativa que leve a uma conclusão.

sábado, 30 de janeiro de 2021

KINO 2021: Em nome de Xerazade ou o Primeiro Beergarden no Teerão / In the Name of Scheherazade or the First Beergarden in Tehran (2019)

*7/10*

Narges Kalhor é original e arrojada no seu falso documentário Em nome de Xerazade ou o Primeiro Beergarden no Teerão (In the Name of Scheherazade or the First Beergarden in Tehran), onde reflecte sobre cinema, cerveja e as raízes iranianas.

"Uma iraniana que estuda Realização na Alemanha, da qual se espera que faça um filme sobre a sua identidade exótica, uma cervejeira iraniana, muitos alemães incapazes de separar-se das suas ideias pré-concebidas, arte performática e música: um impressionante turbilhão de reflexões sobre a temática da origem e da pertença."

O tom sarcástico está sempre presente, alternando entre a aparente seriedade temática, a docuficção, a fantasia da animação das 1001 noites de Xerazade, imagens de arquivo, ou os comentários preconceituosos de um suposto professor de cinema.


Narges Kalhor adopta várias formas de contar histórias entre a Alemanha e o Irão, com rasgos de metacinema, e uma forte crítica socio-política. Em nome de Xerazade ou o Primeiro Beergarden no Teerão é um filme cheio de humor que se desconstrói a si mesmo, explorando diversas possibilidades narrativas, enquanto apela a uma reflexão, sem complexos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

KINO 2021: Viagem Pela Alemanha - Um Road Movie Entre Ontem e Hoje / Deutschlandreise: Ein Roadmovie zwischen Gestern und Heute (2020)

*7.5/10*

Wolfgang Ettlich leva-nos numa viagem reunificadora do passado e do presente na Alemanha Oriental. Viagem Pela Alemanha - Um Road Movie Entre Ontem e Hoje (Deutschlandreise: Ein Roadmovie zwischen Gestern und Heute) une duas épocas, os mesmos locais e pessoas com 30 anos de diferença, avaliando as principais mudanças sociais e políticas.

"Dois amigos, uma viagem pelas estradas da antiga RDA pouco após a Queda do Muro, e uma nova viagem, quase trinta anos mais tarde, em busca dos mesmos lugares e das mesmas pessoas."

A ideia de comparar duas eras tão distintas é aliciante. As imagens que o realizador captou em Janeiro de 1990 e em 2020 assinalam, acima de tudo, o contraste visual das paisagens. Os tons escuros e o ar pesado, consequência do uso do carvão na RDA, deram lugar às cores da natureza e a aldeias e cidades mais cuidadas e agradáveis. 

Os negócios mudaram muito, houve desindustrialização, muitas empresas fecharam, o desemprego fez-se sentir, bem como a desertificação. Na política, Wolfgang Ettlich percebe que a insatisfação das pessoas leva-as a simpatizarem com a AfD, partido populista de extrema-direira alemã. O muro caiu, a liberdade de circulação regressou, mas as desigualdades permaneceram.

Viagem Pela Alemanha - Um Road Movie Entre Ontem e Hoje mostra-nos bem o que mudou nas vidas das cidades orientais e reencontra alguns dos amigos que Ettlich fez há 30 anos. Para além do reencontro de duas épocas, o documentário ajuda-nos a traçar o mapa do que não correu tão bem na reunificação e dos problemas que persistem e não são assim tão exclusivos da Alemanha.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

KINO 2021: Pode Ficar Para Amanhã / Jetzt oder morgen (2020)

*8/10*

Pode Ficar Para Amanhã (Jetzt oder morgen) é um retrato íntimo de uma família passiva e desencantada, na Áustria. A realizadora Lisa Weber acompanhou-a de perto ao longo de três anos, com uma proximidade quase fraternal.

"Uma família em Viena vive num prédio social e tem o subsídio de desemprego como único sustento. Um ciclo vicioso de falta de perspetivas e de inactividade. Jogos de computador, televisão, cigarros, candidaturas que jamais são enviadas: tudo o que acontece quando aparentemente nada acontece."

Lisa Weber aventurou-se corajosamente numa jornada de tédio e desesperança, de sestas sem fim, olhos colados a ecrãs, uma rotina pouco entusiasmante, que, no entanto, tanto nos conta. Há uma desmotivação crónica, sem ambições ou objectivos, sem vontade de mudar ou espírito crítico - ainda assim, o irmão Gerhard é quem mostra algum interesse pela actualidade política e social.

A monotonia é combatida por jogos de computador, conversas de circunstância, mas principalmente pela alegria do pequeno Daniel, com quatro anos no início do documentário, irrequieto como manda a primeira infância, sempre bem disposto e com uma relação muito especial com a mãe, Claudia, que engravidou dele aos 15 anos. E é no rosto da jovem que se espelham os sentimentos mais fortes, entre desilusão e lágrimas, pensamentos mudos sob um olhar vazio e triste.

A câmara de Lisa Weber tenta perscrutar o que vai na cabeça de Claudia e, aos poucos, conseguimos perceber que há um estado solitário e depressivo a surgir, ao mesmo tempo que a vontade de mudar não existe - a inacção é total. O que virá a seguir não sabemos, mas percebemos, com o passar do tempo, que também Daniel revela desconcentração e alguma atracção pelos ecrãs, numa repetição dos gestos dos adultos.

As dificuldades financeiras vão surgindo e a segurança social austríaca continuará a ser a tábua de salvação desta família, enquanto perspectivas e motivação não baterem à porta. Resta-lhes o sorriso do pequeno Daniel.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

KINO 2021: Becoming Black (2019)

*7/10*

Em Becoming Black, de Ines Johnson-Spain, acompanhamos a realizadora na sua autodescoberta, enquanto traçamos também um olhar sobre como era ser-se negro na República Democrática Alemã.

"A história de uma mulher que tem a oportunidade de descobrir as suas origens depois de vários anos de dúvidas. Com um tom de pele mais escuro que o de qualquer outra pessoa na RDA, jamais conseguira compreender por que razão era assim. Uma busca intensa pela própria identidade."

A vida de Ines Johnson-Spain cruza-se com a História da RDA. Ambas são-nos contadas por familiares e amigos da família da realizadora, mas também por imagens de arquivo da infância e juventude de Ines e dos pais. Becoming Black leva-nos da Alemanha ao Togo, por culturas distintas, onde as relações calorosas do país africano contrastam com a frieza e rigor das relações pouco expansivas da Alemanha Oriental, e que tanto surpreenderam a realizadora. 

Conversa-se sobre o passado colonial que continuava na génese dos alemães antes de Ines nascer e durante o seu crescimento, fala-se do racismo, da discriminação, das perguntas difíceis que lhe faziam por causa da cor da sua pele. As explicações que não chegaram a tempo da parte dos pais alemães, as descobertas com o irmão mais velho, tudo isto é analisado com abertura e sinceridade. As conversas que Ines tem com o pai adoptivo são reflexo claro dos sentimentos que os invadiram ao longo dos anos e dos quais nunca falaram. 

Becoming Black é o registo de um processo de construção de identidade, entre a descoberta das verdadeiras raízes africanas e a reconciliação com os segredos da família alemã.

KINO 2021: Rival / Rivale (2020)

*6/10*

Em Rival (Rivale), o realizador Marcus Lenz aborda a imigração ilegal na Europa contemporânea a partir da história de uma mãe ucraniana e do seu filho. Ao mesmo tempo, explora a temática do crescimento num ambiente estranho e sombrio.

"Roman parte da Ucrânia para encontrar a mãe que trabalha ilegalmente na Alemanha como governanta e enfermeira de um homem com quem o rapaz irá ter de partilhar a atenção da mãe. Uma doença súbita, uma fuga às autoridades, uma casa na floresta, uma amizade que se desenvolve, e um cadáver..."

Aos nove anos, Roman (Yelizar Nazarenko) é um estranho em terra estranha, onde a mãe, Oksana (Maria Bruni), é a única conexão com o aquele novo mundo. Não conhece a língua do novo país, desconfia de Gert (Udo Samel), o patrão da mãe, tem de viver enclausurado e escondido da sociedade, enquanto os adultos tentam encontrar uma forma de legalizá-los.

Os ciúmes que sente de Gert, e os condicionalismos da sua situação, fazem com que a criança comece a revelar comportamentos reprováveis, entre a revolta e o egoísmo. A doença inesperada da mãe torna a situação ainda mais difícil para Roman.

Perante a impossibilidade de comunicação - onde se cruzam línguas distintas -, a criança comporta-se, por vezes, como um animal, o que ainda mais se intensifica quando Gert o leva para a sua casa na floresta. Se, por um lado, Roman começa a estabelecer uma relação mais próxima com o homem e tem uma liberdade maior daquela que tinha na cidade, por outro, está cada vez mais isolado e selvagem - e a situação só tende a piorar.

Rival é um filme sóbrio, de tons gélidos e poucas emoções - à excepção da raiva -, com um bom trabalho de direcção de fotografia de Frank Amann, que se destaca principalmente nas cenas filmadas na floresta entre as árvores e o nevoeiro.

Mas a grande revelação da longa-metragem de Marcus Lenz é o pequeno Yelizar Nazarenko com uma interpretação perturbadora. Apesar de não criarmos empatia com Roman, a sua fragilidade e coragem desarmam-nos. Porque em Rival, Roman é apenas uma vítima, exposta às condições ideais para desenvolver uma instabilidade e revolta pouco comuns num rapaz de nove anos. 

domingo, 24 de janeiro de 2021

KINO 2021: Irmãzinha / Schwesterlein (2020)

*7.5/10*

As realizadoras Stéphanie Chuat e Véronique Reymond criaram um drama familiar intenso, em que dois irmãos gémeos lutam para lidar com um cancro. Irmãzinha (Schwesterleiné um retrato de amor fraternal e uma batalha atenuada pela paixão pelo teatro.

"Um actor de teatro, cuja doença em estado terminal o afasta do grande palco, e a sua irmã gémea, que tenta reiniciar a sacrificada carreira do irmão com um último guião escrito para ele."


Se, por um lado, Sven (Lars Eidinger), embora doente, sinta uma enorme vontade de voltar a representar, por outro, a sua irmã Lisa (Nina Hoss), agarra-se a essa energia para acreditar na cura. Mas ambos definham: Sven fisicamente; Lisa a nível pessoal e familiar. Mas a doença terminal poderá ser também uma forma de recomeço para os irmãos.

Irmãzinha é um drama pesado mas nunca decadente ou sombrio. É uma história dinâmica, cheia de vida, num contraste desafiador à doença que teima em não deixar Sven. Nina Hoss tem um desempenho avassalador e realista, entre a expectativa de melhoras e o desgaste emocional que sente a nível familiar. A relação entre irmãos gémeos é alvo de uma bonita homenagem, e para isso muito contribui a cumplicidade entre Hoss e Eidinger. O actor oferece-nos uma prestação extremamente física e exigente, mas igualmente com uma carga psicológica imensa, entre a vontade de recuperar e de voltar ao trabalho - que lhe dá vida - e a confrontação com essa impossibilidade, que se verifica sinónimo de uma recaída.


Chuat e Reymond trazem-nos um filme cheio de luz (podemos vê-la como mais uma personagem), símbolo da esperança, amor e dedicação desta irmã incansável.

sábado, 23 de janeiro de 2021

KINO 2021: Planuras / Flatland (2019)

*4/10* 


Jenna Cato Bass apresenta um western moderno de aventuras inesperadas, conduzido por três mulheres fortes. Flatland (Planuras) está repleto de situações caricatas numa paisagem de beleza decadente, com rumo pouco claro.

"Duas raparigas e um cavalo, no seu encalço segue uma mulher com um revólver, e há demasiados imbecis que se cruzam com elas. Um western selvagem e feminista nas vastas planícies da África do Sul."

Flatland quer ser feminista, mas não passa apenas de feminino, onde todas as mulheres parecem atraídas para personagens machistas, que as pretendem dominar ou humilhar. Natalie e Poppie partem a cavalo em busca da liberdade, mas acabam nos braços do mesmo homem, cheias de ódios e ciúmes mútuos. A detective Beauty quer a justiça a ser cumprida e tanto luta para o conseguir, mas também ela se deixa corromper pelo sistema.

Se, por um lado, Jenna Cato Bass parece querer denunciar abusos e desigualdades entre homens e mulheres, assim como sobre racismo racismo, e fugir dos estereótipos e clichés, também é certo que os encontra todos a meio do caminho e os recebe de braços abertos.

Não fica claro se por sarcasmo e autoparódia ou por ausência de inspiração, certo é que Flatland não pode vingar apenas pelas belas paisagens e pela boa banda sonora.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

KINO 2021: Berlin Alexanderplatz (2020)

*6.5/10*


Em Berlin Alexanderplatz, Burhan Qurbani leva-nos ao submundo de Berlim, num filme que adapta o romance homónimo de Alfred Döblin à actualidade. O drama que os refugiados enfrentam ao chegar à Europa serve de ambiente para uma história de amor e do confronto interior entre o bem e o mal.

O filme apresenta "um refugiado em situação ilegal que, de modo honesto, tenta mudar a sua sorte em Berlim e um criminoso alemão que pretende ser o seu mecenas, mas tem para ele planos mais ambiciosos e também mais arriscados: uma odisseia na luta pela dignidade e pela sobrevivência."


Qurbani traz para o grande ecrã uma das grandes questões do mundo actual, em que Francis (Welket Bungué) é o refugiado que sobrevive após o seu bote se afundar no Mediterrâneo. Em terra firme, pretende reconstruir a sua vida, ter casa e emprego, poder tornar-se um cidadão legal. Mas a oportunidade de dinheiro fácil e a mão (pouco) amiga que Reinhold (Albrecht Schuch) lhe estende leva-o a aceitar uma vida desregrada, de excessos e crime que o põem em risco.

Berlin Alexanderplatz divide-se em vários capítulos, que correspondem às várias fases da vida de Francis, de adaptações, quedas e sucessivas tentativas de seguir o caminho do bem. E entre sonhos, alucinações, festas delirantes e conselhos por ouvir, Francis deixa-se hipnotizar pela maldade cínica e egoísta de Reinhold, com quem cria uma espécie de relação platónica e doentia. A maior viragem narrativa dá-se com o surgimento de Mieze (Jella Haase) - a narradora da longa-metragem - , mais uma personagem que vive à margem da sociedade, mas traz o amor e a esperança à vida do protagonista, fazendo antever, finalmente, um futuro.


Burhan Qurbani cria um visual repleto tons de néon, maioritariamente nocturno, num ambiente decadente, sujo, de luxúria e delírio, lembrando a estética de Nicolas Winding Refn. Nesta dimensão, por vezes quase surreal, acompanha-nos a banda sonora de Dascha Dauenhauer, que adensa todas estas sensações.

Mas sem o talento dos três actores principais, Berlin Alexanderplatz não seria o mesmo filme. Welket Bungué confirma o talento que tem vindo a demonstrar, com presença e carisma, na pele deste anti-herói que transpira emoções. Francis vem revelar ao Mundo como o actor luso-guineense tem tudo para firmar uma grande carreira internacional. Ao seu lado, Albrecht Schuch cria um sociopata quebrado pela inveja, incapaz de suportar a felicidade alheia. Os seus gestos, postura ou expressão facial deixam-nos desconfortáveis e incapazes de prever a perversidade dos seus actos. Já a angelical Jella Haase vem compor o trio "amoroso". De figura frágil mas atitude firme e decidida, a jovem actriz cria Mieze quase como um anjo perdido que vem para salvar Francis.


Se, por um lado, as personagens parecem algo ingénuas nas opções que tomam, é verdade que são também o reflexo de que, por vezes, é preciso cair repetidamente até encontrar a força necessária para voltar a ficar de pé. Berlin Alexanderplatz é o retrato de uma luta incessante por fazer as escolhas certas, num lugar desencantado em que tantos migrantes procuram sonhar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã integralmente online de 21 a 27 de Janeiro

A KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã acontece integralmente online, na Filmin Portugal, de 21 a 27 de Janeiro, devido às novas medidas de confinamento.

A programação da 18.ª edição da mostra (publicada aqui), que estava prevista para o Cinema São Jorge, será agora exibida na plataforma Filmin Portugal, mantendo as mesmas datas de exibição.

A mostra abre no dia 21 de Janeiro com Berlin Alexanderplatz, de Burhan Qurbani. A partir do dia seguinte, todos os filmes da KINO – Mostra de Cinema de Expressão Alemã ficarão disponíveis para visionamento em filmin.pt até 27 de janeiro, podendo ser adquiridos acessos individuais para cada filme ou uma subscrição mensal para assistir à mostra completa. Os assinantes da plataforma têm acesso a todos os conteúdos da KINO, bem como aos restantes filmes disponibilizados pela mesma.

Na presente edição, mantém-se a atribuição do Prémio do Público, criado pelo Goethe-Institut Portugal em parceria com o Turismo da Alemanha. A votação acontecerá também na plataforma Filmin. O prémio quer homenagear as primeiras e segundas longas-metragens de cineastas apresentadas na KINO.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

KINO 2021 apresenta programação completa

A 18.ª edição da KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã apresenta 18 longas-metragens entre 21 e 27 de Janeiro, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e em Filmin.pt.

A mostra divide-se em três secções: Visões, Perspetivas e Realidades. Visões presta homenagem a cineastas e elencos já consagrados, onde se encontram títulos como Berlin Alexanderplatz, Schwesterlein (Irmãzinha), Flatland (Planuras), Exil (Exílio), Glück gehabt (Golpe de sorte) e Cortex.

Na secção Perspetivas encontram-se filmes como Futur Drei (Futuro três), Kokon (Casulo), Nackte Tiere (Animais a nu), Neubau (Lar doce lar), Rival e Sag Du Es Mir (Diz-me tu então).

Já a secção Realidades apresenta quatro documentários que abordam temas semelhantes: a ideia de origem em contraste com a atribuição de uma identidade pelos outros e por si próprio em Becoming Black, o sentido de pertença e a construção de alteridade, aquilo de que este se compõe e até onde é admitido no filme In the Name of Scheherazade oder der erste Biergarten in Teheran (Em nome de Xerazade ou o primeiro beergarden no Teerão), a viagem iniciática pela Alemanha de leste depois da queda do muro e as reminiscências na atualidade, em busca de respostas para o crescimento da extrema-direita populista a que se assiste na Europa em Deutschlandreise - Ein Roadmovie zwischen Gestern und Heute (Viagem pela Alemanha – um road movie entre ontem e hoje) e a vivência das expectativas pessoais em contraste com as oportunidades sociais em Jetzt oder Morgen (Pode ficar para amanhã).

A programação completa da KINO, bem como as informações de horários e bilheteira podem ser consultadas no site do Goethe-Institut Portugal em https://www.goethe.de/ins/pt/pt/kul/sup/kpo.html. Todos os filmes (com excepção de Cortex) estarão disponíveis também online no dia seguinte à sua exibição no Cinema São Jorge, em Filmin.pt.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Berlin Alexanderplatz abre a 18.ª KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã

A 18.ª edição da KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã abre com o filme Berlin Alexanderplatz, de Burhan Qurbani, protagonizado pelo luso-guineense Welket Bungué.

Berlin Alexanderplatz © Stephanie Kulbach

Serão apresentadas 18 longas-metragens oriundas da Alemanha, Áustria, Suíça e Luxemburgo que se destacaram nos festivais internacionais. O filme de abertura Berlin Alexanderplatz faz uma actualização do romance homónimo de Alfred Döblin, já adaptada por Rainer Werner Fassbinder numa série de televisão com o mesmo nome. Agora, "em vez de um ex-presidiário, os espectadores acompanham a descida aos infernos de um refugiado africano numa Berlim dos dias de hoje".

A secção Visões, que inclui obras de realizadores e elencos já consagrados, apresenta o western contemporâneo feminista Flatland, de Jenna Cato Bass, que retrata o empoderamento de três mulheres na África do Sul; My Little Sister (Schwesterlein), da dupla suíça Stéphanie Chuat e Véronique Reymond, que, a partir de uma história de doença terminal, aborda igualmente a abnegação feminina, com um elenco liderado por Nina Hoss e Lars Eidinger; Stroke of Luck (Glück gehabt), de Peter Payer, uma comédia negra que surpreende até o protagonista com uma improvável história de amor; e Cortex, a primeira obra de realização do actore Moritz Bleibtreu, num thriller psicológico inspirado em obras de realizadores de culto.

A secção Perspetivas inclui filmes como No Hard Feelings (Futur Drei), de Faraz Shariat, em que um jovem gay, alemão, filho de exilados iranianos, encontra num casal de irmãos refugiados uma singular afinidade a três; You Tell Me (Sag Du Es Mir), de Michael Fetter Nathansky, que envolve o espectador numa tragicomédia entre vítimas e culpados; ou Cocoon (Kokon), de Leonie Krippendorff, que acompanha uma jovem de 14 anos na descoberta de um admirável mundo novo num verão quente berlinense.

No Hard Feelings © Juenglinge Film

A KINO apresenta ainda uma secção de documentários premiados, na qual se destaca a viagem de Ines Johnson-Spain em Becoming Black onde confronta as suas origens, apercebendo-se das consequências que a negação e preconceito tiveram na sua existência numa RDA que fechou os olhos face a todas as diferenças; e a complexa abordagem multi-dimensional disfarçada de comédia no filme In the Name of Scheherazade or the First Beergarden in Teheran (In the Name of Scheherazade oder der erste Biergarten in Teheran), de Narges Kalhor, sobre a construção de identidade e alteridade - na vida, como artista, e em particular na Alemanha.

A mostra acontece de 21 a 27 de janeiro de 2021, no Cinema São Jorge e na plataforma de streaming Filmin.pt. Mias informações sobre a KINO em https://www.goethe.de/ins/pt/pt/kul/sup/kpo.html.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã 2021: De 21 a 27 de Janeiro no Cinema São Jorge e online

A 18.ª KINO 2021 - Mostra de Cinema de Expressão Alemã regressa de 21 a 27 de Janeiro de 2021.

O evento, que apresenta anualmente produções da Alemanha, Áustria, Suíça e Luxemburgo, vai apresentar-se em formato híbrido, com parte da programação a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa, e outra parte disponível em streaming, em parceria com a plataforma Filmin.

A KINO trará 18 filmes, apostando nas longas-metragens que se destacaram nos festivais internacionais. Na secção Perspetivas serão exibidas primeiras obras de realizadoras e realizadores de expressão alemã e na secção Visões serão destacadas obras de realizadoras, realizadores e elencos já consagrados. Nesta edição, serão apresentados também quatro documentários premiados.

Os filmes selecionados partilham uma forte componente política e social, bem como um foco temático em torno do conceito de pertença (em alemão, Heimat ou Zugehörigkeit), "mostrando novas perspetivas sobre a construção de identidade, tanto do ponto de vista individual como regional ou até nacional, passando pelo ponto de vista do migrante ou por aspetos linguísticos, culturais ou sexuais. Através de narrativas vibrantes e originais, os filmes apresentados vão para além dos estereótipos e conseguem desconstruir lugares-comuns", explica a organização.

A programação é assegurada pela actual programadora cultural de cinema do Goethe-Institut Portugal, Teresa Althen, e por Susana Santos Rodrigues, que colabora na programação dos festivais de cinema de Roterdão e Bildrausch, fez parte do comité de selecção do Festival do Rio de Janeiro e foi delegada de programação latino-americana no Festival de Karlovy Vary e no Festival Cinéma du Réel.

A programação completa da KINO – Mostra de Cinema de Expressão Alemã será anunciada em breve.