domingo, 30 de maio de 2021
Sugestão da Semana #457
sábado, 29 de maio de 2021
'Women Make Film' e 'Be Natural' com estreia simultânea no Cinema Ideal e na Filmin a 3 de Junho
Os documentários Women Make Film, de Mark Cousins, e Be Natural - A História Nunca Contada de Alice Guy-Blaché, de Pamela B. Green, terão estreia simultânea no Cinema Ideal e na plataforma Filmin Portugal a 3 de Junho.
Os dois filmes dão destaque ao trabalho das mulheres na indústria cinematográfica. Women Make Film apresenta-nos uma história do cinema no feminino, apenas com filmes realizados por mulheres e com 14 horas de duração. Narrado por Tilda Swinton, Jane Fonda e Debra Winger, entre outras mulheres, o filme de Mark Cousins é "um épico sobre a história do cinema realizado por mulheres, com excertos de mais de mil filmes realizados desde os primórdios do cinema". Entre as realizadoras que contam a História do Cinema encontram-se Chantal Akerman, Dorothy Arzner, Kathryn Bigelow, Jane Campion, Ava DuVernay, Mary Harron, Barbara Kopple, Ida Lupino, Penelope Spheeris, Agnès Varda, mas muitas serão também as descobertas entre os 150 filmes em mais de 30 línguas citados no documentário.
Be Natural foca-se na primeira mulher a realizar um filme, contemporânea dos irmãos Lumière, Alice Guy-Blaché. Narrado por Jodie Foster, o documentário de Pamela B. Green, retrata a "carreira desta secretária da Gaumont que um ano depois de realizar o seu primeiro filme se torna directora de produção da empresa, realizando dezenas de filmes. Uma carreira que duraria mais de vinte anos, realizando e produzindo mais de mil filmes em França e nos Estados Unidos (onde foi a primeira mulher a fundar um estúdio de cinema)".
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Crítica: A Mulher à Janela / The Woman in the Window (2021)
"You don't think it's paranoid if I wanna change the locks. Do you?"
Anna Fox
*3/10*
A Mulher à Janela, de Joe Wright, quer ser tanto e acaba por ser tão pouco. Um filme sem alma, que começa com mistério e termina num autêntico terror. Ver Joe Wright associado a um filme tão pouco coeso e sem personalidade é a grande surpresa de uma longa-metragem que não é sequer capaz de valorizar o elenco.
"Confinada à sua casa por sofrer de agorafobia, uma psicóloga fica obcecada com os seus novos vizinhos e em resolver um crime brutal que testemunha pela janela."
Baseado no livro homónimo, de A. J. Finn (que não li), A Mulher à Janela pretende ser um Hitchcock dos tempos modernos - não lhe poupando referências, sendo a mais óbvia A Janela Indiscreta -, mas não lhe chega perto. Se, inicialmente, pode haver a esperança de estarmos perante um bom filme de mistério, com terror psicológico e voyeurismo à mistura, depressa nos desinteressamos do enredo confuso e pouco sustentado, com momentos quase cómicos, tal a implausibilidade ou a previsibilidade. Perto do fim, entramos noutra realidade, mais slasher, e num "novo" filme - ainda pior.
Há pouco a que nos possamos agarrar para defender A Mulher à Janela. Amy Adams é talvez o ponto mais forte, mas longe das grandes interpretações que marcam a sua carreira. A direcção artística será, provavelmente, o mais admirável da longa-metragem, com a mansão solitária de Anna a ganhar personalidade, seja pela imensa escadaria, pela clarabóia, ou pelos detalhes de decoração (a casa de bonecas, por exemplo, chama-nos logo a atenção).
Tanta paranóia, referências cinematográficas, clichés e reviravoltas sem fim, e eis o vazio sideral após os créditos finais. Nada fica connosco de A Mulher à Janela, apenas a satisfação de termos conseguido matar a curiosidade mórbida que nos assolava antes da visualização.
Cinemundo passa a distribuir catálogos da Universal Pictures e Warner Bros
A distribuidora portuguesa Cinemundo anunciou esta Quarta-feira que passará a distribuir os catálogos da Universal Pictures e da Warner Bros nos cinemas em Portugal.
Com estas duas adições ao seu portfólio - a Universal Studios desde Abril de 2020 e a Warner Bros Pictures a partir de Julho de 2021 -, a empresa, criada em 2014, ultrapassará os 40% no que respeita ao mercado de distribuição independente no país, verificando-se com isso um maior equilíbrio entre distribuidores.
Entre os títulos da Universal Pictures Portugal, a estrear no segundo semestre de 2021, estão Velocidade Furiosa 9, Halloween Mata, Boss Baby - Negócios de Família, Cantar 2 e Downton Abbey 2. No que respeita à Warner Bros Pictures, entre os filmes mais aguardados estão Space Jam 2: Uma Nova Era, O Esquadrão Suicida, Dune (Duna), Todos os Santos de Newark, Cry Macho, King Richard, The Untitled Matrix Film, entre outros.
O CEO da Cinemundo, Miguel Chambel, destaca a importância dos dois catálogos no portfólio da empresa: “Através da distribuição dos dois catálogos de peso como a Universal Studios e a Warner Bros Pictures, a Cinemundo tem a convicção de que contribui para um mercado do cinema mais justo e equilibrado em Portugal, uma vez que o mesmo deixa de estar verticalmente integrado num único player, posicionando a Cinemundo como uma distribuidora em franco crescimento, um nome a ter em conta no meio cinematográfico nacional, com uma variada oferta de filmes e sucessos, que vão desde os blockbusters internacionais, às apostas independentes”.
quinta-feira, 27 de maio de 2021
Estreias da Semana #457
terça-feira, 25 de maio de 2021
Crítica: Aqueles Que Me Desejam a Morte / Those Who Wish Me Dead (2021)
"Talk to me and I'm gonna help you. Alright?"
Hannah
*4.5/10*
Aqueles Que Me Desejam a Morte, de Taylor Sheridan, leva-nos às vastas florestas do Montana e aos grupos de combate a incêndios, para uma história de crime e perseguição.
Taylor Sheridan não nos revela as motivações dos assassinos, nem os segredos que Connor guarda consigo. Se, por um lado, tal poderia contribuir para o adensar do suspense da longa-metragem, por outro, torna todos os acontecimentos quase irrelevantes. Ao mesmo tempo, é uma pena o pouco foco da narrativa no trabalho dos bombeiros e dos outros operacionais no combate aos incêndios (Só Para Bravos, de Joseph Kosinski, faz isso com distinção).
Aqueles Que Me Desejam a Morte entretém e vale pelas cenas nocturnas, mas, infelizmente, não se leva muito a sério.
segunda-feira, 24 de maio de 2021
Mostra Origens - Práticas e Tradições no Cinema: De 27 de Maio a 2 de Junho no Cinema Ideal
A Mostra Origens - Práticas e Tradições no Cinema acontece entre 27 de Maio e 2 de Junho no Cinema Ideal, numa parceria entre o Doclisboa e a Fundação Inatel.
O programa da mostra "reúne um conjunto de olhares sobre a diversidade geográfica, cultural e de linguagens" e "procura reflectir sobre as várias faces do Património Imaterial da Humanidade". Seis dos filmes estarão em competição para o Prémio Fundação INATEL para Melhor Filme de Temática Associada a Práticas e Tradições Culturais e ao Património Imaterial da Humanidade: Panquiaco, de Ana Elena Tejera; Don't Rush, de Elise Florenty e Marcel Türkowsky; Piedra Sola, de Alejandro Telémaco Tarraf; On Your Masks!, de Mária Pinčíková; Yãmiyhex - As Mulheres-Espírito, de Sueli e Isael Maxakali; e Native Rock, de Macià Florit Campins.
27 Mai 20H45 | Cinema Ideal
PANQUIACO
Ana Elena Tejera
Panamá, Portugal | 2020 | 85'
*filme elegível para o Prémio Fundação Inatel
28 Mai 20H45 | Cinema Ideal
DON'T RUSH
Elise Florenty, Marcel Türkowsky
Bélgica, França, Alemanha | 2020 | 55'
*filme elegível para o Prémio Fundação Inatel
29 Mai 20H45 | Cinema Ideal
PIEDRA SOLA
Alejandro Telémaco Tarraf
Argentina, México, Qatar, Reino Unido | 2020 | 72'
*filme elegível para o Prémio Fundação Inatel
30 Mai 20H45 | Cinema Ideal
ON YOUR MARKS!
Mária Pinčíková
Eslováquia, República Checa | 2021 | 80'
*filme elegível para o Prémio Fundação Inatel
31 Mai 20H45 | Cinema Ideal
YÃMIYHEX, AS MULHERES-ESPÍRITO
Sueli e Isael Maxakali
Brasil | 2020 | 77'
*elegível para o Prémio Fundação Inatel
1 Jun 20H45 | Cinema Ideal
NATIVE ROCK
Macià Florit Campins
Espanha | 2021 | 76'
*elegível para o Prémio Fundação Inatel
SESSÃO DE ENCERRAMENTO
2 Jun 20H45 | Cinema Ideal
ANTÔNIO & PITI
Vincent Carelli e Wewito Piyãko
Brasil | 2019 | 79'
Mais informação sobre a mostra em https://doclisboa.org/2020/.
Crítica: As Pequenas Coisas / The Little Things (2021)
"It's the little things that are important, Jimmy. It's the little things that get you caught."
Deacon
*6/10*
Um thriller policial morno é a proposta de John Lee Hancock com As Pequenas Coisas. A obsessão de dois polícias com casos de assassinatos de mulheres por resolver, em 1990, dá o mote para a longa-metragem protagonizada por Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto.
"O xerife adjunto do condado de Kern, Joe 'Deke' Deacon (Washington) é enviado a Los Angeles para o que deveria ter sido uma simples recolha de provas. Em vez disso, envolve-se na perseguição a um assassino em série que aterroriza a cidade. O líder da busca, o sargento Jim Baxter (Malek) do Departamento do Xerife de L.A., fica impressionado com os instintos de Deke e pede-lhe para o ajudar de forma oficiosa. Mas enquanto tentam descobrir o rasto do homicida, Baxter desconhece que a investigação está a desenterrar ecos do passado de Deke e a revelar segredos perturbadores."
Desde o início, percebemos que há muito segredos escondidos ao longo de As Pequenas Coisas. As personagens Deacon e Baxter partilham muitas características, começando pela obsessão de encontrar o assassino, e o presente de um relembra o passado do outro - o trabalho de montagem usa de vários flashbacks para fazer o paralelismo entre os dois homens.
Originalidade não é algo que se possa apontar ao filme de John Lee Hancock, sendo que há momentos em que sentimos um dejà vu. Há semelhanças óbvias - mas muito menos inspiradas - com Sete Pecados Mortais, de David Fincher, mas o impacto no espectador é quase nulo.
O grande destaque de As Pequenas Coisas vai para Jared Leto, na pele de um suspeito que deixa os dois detectives com a cabeça a mil. Esta personagem secundária distingue-se pela singularidade dos gestos, voz e olhar vazio e alucinado, contrastando com a tranquilidade e frieza com que ganha todas as cenas em que surge no ecrã. O actor emana um magnetismo perturbador, intimidante e doentio, confirmando o talento que tem revelado em cada papel.
Sem grandes emoções ou reviravoltas, As Pequenas Coisas foca-se nos detalhes de uma investigação difícil de resolver e nos efeitos secundários na vida de quem se envolve em demasia. Vale pelas interpretações.
domingo, 23 de maio de 2021
Sugestão da Semana #456
sábado, 22 de maio de 2021
Crítica: O Mauritano / The Mauritanian (2021)
"In Arabic, the word for free and the word for forgiveness is the same word. This is how, even in here, I can be free."
Mohamedou Ould Slahi
*6.5/10*
O Mauritano, de Kevin Macdonald, leva-nos ao Campo de Detenção da Baía de Guantánamo e explora os casos de tortura e de prisão sem acusação levados a cabo pelos EUA durante muitos anos. Política e justiça confrontam-se neste thriller que retrata uma história real e fica marcado por duas grandes interpretações: Tahar Rahim e Jodie Foster.
"Mohamedou Ould Slahi (Tahar Rahim) é detido e encarcerado durante anos, sem julgamento, na Baía de Guantánamo. As únicas aliadas de Slahi são a advogada de defesa Nancy Hollander (Jodie Foster) e a sua associada Teri Duncan (Shailene Woodley) que lutam por justiça contra o governo dos EUA. Através da controversa defesa de Slahi, em conjunto com provas descobertas pelo procurador militar, o Tenente-Coronel Stuart Couch (Benedict Cumberbatch), descobre-se a mais chocante verdade..."
Kevin Macdonald explora o contexto histórico dos acontecimentos - logo após os atentados do 11 de Setembro -, com o Estado a alimentar de medo e ódio a opinião pública. É verdade que a longa-metragem poderia evitar alguns clichés, ser mais violenta e espicaçar ainda mais a culpa dos EUA neste caso - e em tantos outros semelhantes; contudo, O Mauritano é exímio ao expor as fraquezas e falta de humanidade de um Estado que se pensa acima da Lei.
Tecnicamente, há que destacar o excelente trabalho da direcção de fotografia de Alwin H. Küchler, fundamental no impacto das cenas de tortura, e a opção de utilizar diferentes aspect ratio para acentuar a não-linearidade narrativa, com as cenas do Presente a surgir em 2.39 e as do Passado em 1.33.
Tahar Rahim e Jodie Foster lideram as interpretações, numa dupla que se mostra tão contida como emotiva nos momentos precisos. Rahim incorpora a revolta e o desalento de um homem que confiava na justiça norte-americana mas que é completamente traído por ela. A degradação física e emocional do protagonista está patente no rosto e nos movimentos do actor, numa passividade de quem parece ter perdido a vontade de lutar. Ao seu lado, Jodie Foster encarna a advogada Nancy Hollander, uma mulher segura e dedicada ao trabalho e às suas causas, sem medos. A sua frieza e contenção só será abalada com os segredos macabros que vem a descobrir.
O Mauritano é uma denúncia de injustiças e crimes nunca punidos que um Estado praticou contra homens inocentes. É um julgamento dos sucessivos governos norte-americanos que, independentemente do partido, perpetuam o desrespeito pelos direitos humanos, sem assumir culpas. Kevin Mcdonald não criou uma obra-prima, mas é capaz de mexer com sentimentos e emoções da plateia, num filme dinâmico e necessário.
sexta-feira, 21 de maio de 2021
Crítica: Prazer, Camaradas! (2019)
*7/10*
José Filipe Costa regressa aos tempos pós-Revolução dos Cravos e leva-nos à vida nas cooperativas, onde muitos estrangeiros vieram ajudar no trabalho e na educação. Prazer, Camaradas! revela-se uma docuficção arrojada em que o Passado vem visitar o Presente, concluindo que não terá mudado assim tanta coisa desde 1975.
"1975 – pós-revolução 25 de Abril. Eduarda, João e Mick viajam da Europa do Norte para trabalharem nas cooperativas das herdades ocupadas em Portugal. Como muitos outros, ajudam nas actividades rurais e pecuárias, dão consultas médicas, aulas de planeamento familiar, mostram filmes de educação sexual e participam nos bailes tradicionais. Vêm fazer a revolução sexual, abalando as velhas certezas de quem viveu tanto tempo em ditadura: como convivem homens e mulheres nas aldeias do Ribatejo? Por que é que as mulheres têm de ir virgens para o casamento? Por que é que só os homens têm direito ao prazer sexual?"
Nesta viagem que cruza duas eras distintas, realizador e elenco exploram conversas, acicatam debates, dão asas à imaginação e aos sonhos, com uma ingenuidade sarcástica e encantadora. A ironia perdura em toda a narrativa: a chegada dos "jovens idosos", de regresso ao país depois de muitos anos fora; junto dos tanques da roupa, as conversas sinceras e descontraídas sobre sexo que denunciam um passado ainda demasiado vigente; os óbvios paradoxos entre estrangeiros e portugueses e o choque de mentalidades - apesar de extrema admiração que nutrem pelas mulheres nacionais; os bailes populares e os pares que devem dançar com a devida distância; ou a modernidade dos tempos actuais que se imiscuiu no quotidiano da cooperativa.
José Filipe Costa confronta-nos com temas ainda tão discutidos: da sexualidade, à igualdade de género, do feminismo ao planeamento familiar. O realizador cria um jogo satírico entre personagens e plateia, que alia a realidade e a ficção em jeito de provocação e de consciência história e social.
Prazer, Camaradas! transborda a alegria e à-vontade do elenco, espíritos jovens em corpos envelhecidos, e contagia-nos com a leveza de quem sabe rir-se de si próprio.
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Crítica: Estados Unidos vs. Billie Holiday / The United States vs. Billie Holiday (2021)
"Despite all of the shit in her life, she's made something of herself and you can't take it because she's strong, beautiful and black."
Jimmy Fletcher
*6.5/10*
Estados Unidos vs. Billie Holiday relata alguns anos na vida da estrela de jazz, acompanhando a perseguição que o FBI lhe fez, ao mesmo tempo que retrata o racismo intrínseco nos EUA, desde a sua origem enquanto país até aos dias de hoje. Andra Day é estrondosa como protagonista.
"A lendária Billie Holiday, uma das maiores intérpretes de jazz de todos os tempos, foi adorada por fãs de todo o mundo durante a maior parte da sua carreira. Na década de 1940, em Nova Iorque, o governo federal perseguiu Holiday no âmbito de um esforço crescente para escalar e racializar a guerra contra a droga, procurando impedi-la de cantar a sua controversa e comovente balada Strange Fruit."
A importância do tema Strange Fruit para o decorrer da narrativa de Estados Unidos vs. Bille Holiday é central, já que a vida da cantora dependerá de interpretar ou não a canção nos seus espectáculos, tão desejada pelo seu público. A mágoa e revolta que as palavras cantadas provocam, ao relatar os linchamentos aos negros no Sul dos Estados Unidos, tinham uma força que os racistas temiam. A longa-metragem ganharia ao focar-se ainda mais neste tema e nas dúvidas que atormentavam Holiday.
Andra Day não é a primeira a interpretar Billie Holiday. Em 1972, Diana Ross também vestiu a pele da cantora de jazz em Lady Sings the Blues. Contudo, Andra é fabulosa. Treinou a voz para conseguir o tom grave e rouco da cantora, começou a fumar e a beber, perdeu peso, entregou-se a uma interpretação tão física como psicológica, sem problemas com cenas de nudez, violência ou de consumo de heroína, e é capaz de dotar a personagem de um carisma imenso em palco e de uma incapacidade de amor próprio nos momentos de maior fragilidade. Andra é frágil e forte, dominada mas decidida, apaixonada, magoada, corajosa mas influenciável. A cantora e actriz percorre uma série de estados de alma, mas o olhar vazio e desalentado é capaz de nos arrebatar.
Rodado em película de 16 e 35mm, o filme transporta-nos para a época dos momentos retratados e confere uma maior intimidade entre a plateia e a acção. Também a direcção artística e o guarda-roupa são pontos fortes da longa-metragem, retratando tanto o glamour como a decadência que rodeavam Billie Holiday.
E se, apesar de se esforçar, Lee Daniels não traz uma obra inesquecível, certo é que há bons momentos a reter, boa música, e uma forte aura de luta pelos direitos civis a pairar, tão actual naquele momento como na actualidade. Já Andra Day canta, encanta e honra a memória de Lady Day.
Estreias da Semana #456
Através de uma abordagem experimental, o filme altera o género do herói para que, desta vez, Orfeu seja uma mulher que desce ao mundo subterrâneo para salvar o seu amado. Ao ritmo da música rock, e passado nos bairros de lata de Manila, o seu peso mitológico e a sua estética avant-garde são acompanhados do tratamento de questões relacionadas com a imigração e com a xenofobia.
terça-feira, 18 de maio de 2021
Prémios Sophia 2021: Os Nomeados
Foram hoje anunciados os filmes nomeados para os Prémios Sophia. Mosquito, de João Nuno Pinto, e Ordem Moral, de Mário Barroso, lideram com 13 e 10 nomeações, respectivamente.
O Ano da Morte de Ricardo Reis, de João Botelho, e Listen, de Ana Rocha de Sousa, estão indicados para oito categorias. Já O Fim do Mundo, de Basil da Cunha, conta com sete nomeações e Patrick, de Gonçalo Waddington, soma cinco.
Os nomeados foram apresentados pelos actores Maria João Bastos e Luís Lucas e pelo Presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso. Foram ainda divulgadas as personalidades homenageadas com o Prémio Sophia de Carreira: a actriz Maria do Céu Guerra e o actor Sinde Filipe. Paulo Trancoso anunciou que, será atribuído, pela primeira vez, um Prémio Sophia de Melhor Filme Europeu, concedido por um colégio de críticos e jornalistas de cinema.
Foram também entregues os seguintes prémios:
Prémio Arte & Técnica: Projectar a Ordem: Cinema do Povo e Propaganda Salazarista 1935 – 1954, de Maria do Carmo Piçarra
Menção Honrosa: Cinema Tivoli: Memórias da Avenida, de Duarte de Lima Mayer e João Monteiro Rodrigues
Melhor Cartaz: Faz-me Companhia, cartaz de Gonçalo Almeida
Melhor Trailer: Zé Pedro Rock ‘n’ Roll, trailer de Sebastião Varela
A 10.ª cerimónia de entrega dos Prémios Sophia terá lugar a 19 de Setembro no Casino Estoril, com transmissão televisiva na RTP2.
Gus Van Sant vem à Cinemateca em Setembro
Gus Van Sant estará na Cinemateca Portuguesa em Setembro para acompanhar uma retrospectiva da sua obra - composta por títulos escolhidos por si - e uma carta branca dedicada a Andy Warhol.
Na iniciativa, organizada em colaboração com o festival Queer Lisboa, o realizador virá apresentar cinco dos seus filmes: Mala Noche, My Own Private Idaho, Milk, Elephant e Ouverture of Something That Never Ended.
A carta branca é dedicada a Andy Warhol, criador da mítica Factory em Nova Iorque, espaço que serve de mote ao primeiro espetáculo musical criado por Van Sant, a apresentar também em Setembro no Teatro D. Maria II, em contexto da próxima edição da BoCA – Biennial of Contemporary Arts. Na Cinemateca, serão exibidos os filmes Batman Dracula, de Warhol, inspirado nas aventuras da personagem de BD Batman, e o documentário ANDY WARHOL: A DOCUMENTARY FILM, de Ric Burns.
Em breve serão divulgadas mais informações.
PROGRAMA PREVISTO
Retrospectiva Gus Van Sant
MALA NOCHE (1986)
MY OWN PRIVATE IDAHO (1991)
ELEPHANT (2003)
MILK (2008)
OUVERTURE OF SOMETHING THAT NEVER ENDED (2020)
Carta Branca a Gus Van Sant sobre Warhol
BATMAN DRACULA (1964)
ANDY WARHOL: A DOCUMENTARY FILM (2006)
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Ciclo 'A Grande Arte no Cinema' regressa às salas no Dia Internacional dos Museus
O ciclo de documentários A Grande Arte no Cinema regressa às salas a 18 de Maio, Dia Internacional dos Museus, com o filme Van Gogh - Entre o Trigo e o Céu, e prolonga-se até Agosto, sendo o último filme, Monet - Magia de Luz e Água.
O ciclo é composto por um conjunto de documentários dedicados à arte mundial e aos seus autores, combinando vida e obra dos artistas, bem como a dimensão das suas obras. Bernini, Michelangelo, Monet, Klimt, Tintoretto e Van Gogh são alguns dos nomes em destaque.
As sessões decorrem no UCI Cinemas El Corte Inglés (Lisboa), Cinema da Villa (Cascais) e no UCI Arrábida (Porto), entre 18 de Maio e 26 de Agosto.
Programa:
18, 19 e 20 de Maio
Van Gogh - Entre o Trigo e o Céu
Giovanni Piscaglia
Um novo olhar sobre Van Gogh através do legado da maior coleccionadora do artista holandês, Helene Kröller-Müller que detinha quase 300 das suas obras.
1, 2 e 3 de Junho
Tintoretto - Um Rebelde em Veneza
Giuseppe Domingo Romano
Conheça Veneza através das telas de Tintoretto, e explore a rivalidade entre os mais importantes artistas venezianos do século XVI: Tintoretto, Ticiano e Veronese.
15, 16 e 17 de Junho
Michelangelo - Infinito
Emanuele Imbucci
Michelangelo - Infinito é o primeiro filme de arte sobre o génio do Renascimento e da história da arte universal: Michelangelo Buonarroti.
29, 30 de Junho e 1 de Julho
Palladio - O Espetáculo da Arquitetura
Giacomo Gatti
As obras do revolucionário arquiteto renascentista, observadas por quem hoje as estuda, vive e preserva para as gerações futuras.
13, 14 e 15 de Julho
Bernini - O Êxtase da Forma
Francesco Invernizzi
A seleção de mais de 60 obras expostas na Villa Borghese em Roma tem sido definida por apreciadores de arte como o regresso a casa de Bernini. Cinco séculos passaram desde o nascimento dos grupos escultóricos do artista e, através de imagens exclusivas, os protagonistas desta exposição analisam detalhes destes tesouros, vindos dos mais prestigiados museus do mundo.
27, 28 e 29 de Julho
Klimt & Schiele. Eros e Psique
Michele Mally
Um momento florescente para a arte, a literatura e a música, no qual circulavam novas ideias e cujos trabalhos de Gustav Klimt e Egon Schiele ganhavam lugar no mundo.
10, 11 e 12 de Agosto
O Museu do Prado
Valeria Parisi
A primeira viagem cinematográfica através das salas, histórias e emoções de um dos museus mais visitados no mundo.
24, 25 e 26 de Agosto
Monet - Magia de Luz e Água
Giovanni Troilo
Uma excursão através dos museus onde as obras-primas de Monet, génio do Impressionismo, estão expostas.
Crítica: Oxigénio / Oxygène (2021)
*6/10*
Em Oxigénio, Alexandre Aja usa a claustrofobia como arma narrativa, potenciada ainda mais pela aura de mistério sempre presente, num filme de ficção científica para a Netflix.
"Uma mulher acorda numa cápsula criogénica sem se recordar de quem é. Com o oxigénio a esgotar-se rapidamente, ela tem de recuperar a memória para conseguir sobreviver."
Muito ao estilo de Enterrado (Buried), de Rodrigo Cortés, eis uma versão sci-fi da claustrofobia cinematográfica. Se, no filme de 2010, tínhamos um homem fechado num caixão, agora a protagonista é uma mulher trancada numa unidade criogénica; para ambos, a única forma de contacto com o exterior é a partir de chamadas telefónicas - em Oxigénio adicionamos um assistente inteligente (Mathieu Amalric) à acção.
O terror de acordar num local fechado e sem espaço para grandes movimentos é comum aos dois filmes, bem como a forma como se desenrola a história. Mas em Oxigénio, o progresso científico parece estar na origem da situação em que a protagonista, Liz, se encontra. Sem memória, nem forma de escapar, a ajuda externa é complexa e as informações confusas. A claustrofobia adensa-se à medida que o oxigénio se esgota e as descobertas não são tranquilizantes.
Alexandre Aja é capaz de construir um ambiente angustiante e enclausurante, mas não cria nada que já não tivéssemos visto noutros filmes do género. O argumento de Christie LeBlanc torna-se cada vez mais complexo e, até certo ponto, previsível.
Mas a verdadeira fonte de oxigénio do filme é Mélanie Laurent, numa grande interpretação, capaz de passar por estados de espírito tão diversos em pouco tempo - e limitada no espaço -, num misto de emoções que vai da esperança, à confusão, descrença, desespero, raiva e pânico. Espectador e protagonista têm o mesmo nível de conhecimento desde o momento em que Liz acorda, e as descobertas vão sendo feitas ao mesmo tempo, dentro e fora do ecrã. Partilhamos o mesmo conflito interior, as mesmas dúvidas, fazemos suposições, questionamos as contradições e torcemos por ela, já que a empatia é inevitável.
Mélanie Laurent segura o filme com a mesma força com que a personagem não perde a vontade de sobreviver e é ela que nos faz suster o fôlego e acompanhar Oxigénio, com curiosidade, até ao fim.
-
O IndieLisboa 2025 anunciou este Sábado, 10 de Maio, os premiados desta 22.ª edição do festival lisboeta. On Becoming a Guinea Fowl , de Ru...
-
"It's the little things that are important, Jimmy. It's the little things that get you caught." Deacon *6/10* Um thriller...